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Sinopse

Cady Heron é uma novata na escola. Ela desperta a ira de Regina George, a garota mais popular (e temida) do ensino médio.

Crítica

De algumas verdades não se pode escapar. Como tentar esconder o fato de que, em um filme musical, existirão diversos... números musicais! Depois dos recentes Wonka (2023) e do ainda inédito no Brasil A Cor Púrpura (2023), este Meninas Malvadas é mais um exemplo da “estratégia” das distribuidoras, que fazem de tudo para ludibriar o público escondendo canções e sequências de dança dos trailers e materiais de divulgação, como se agindo desse modo fossem capaz de enganar o espectador e, dessa forma, convencê-lo a ir até o cinema e comprar um ingresso, esquecendo que, ainda mais em tempos como os atuais, muito dos grandes fenômenos de bilheteria (como Minha Irmã e Eu, 2023, para citar um nacional) se constroem a partir de algo fundamental para se atingir tal status: uma boa propaganda de boca a boca. Ou seja, não basta gostar, é preciso que o entusiasmo seja tamanho a ponto de gerar recomendações a amigos e conhecidos. Agora, se o público perceber que está sendo feito de bobo e, já na primeira cena se deparar com algo com o qual não estava preparado, quais as chances de indicar tal opção aos demais? Próximas a zero, assim como as dessa versão alcançar a condição de ícone pop do seu predecessor, lançado exatos vinte anos atrás.

Portanto, uma vez dado o alerta, que fique claro: o filme dirigido pelos estreantes Samantha Jayne e Arturo Perez Jr. não é um remake direto do Meninas Malvadas (2004) que se tornou um clássico da Sessão da Tarde nas últimas duas décadas, mas uma adaptação da montagem da Broadway (que, por sua vez, era, sim, inspirada no longa anterior). Não se trata de um caminho inédito. Hairspray (2007) e Os Produtores (2005) são alguns que percorreram a mesma trajetória tempos atrás, porém com resultados mais animadores. Muito desse sucesso foi devido à capacidade de atualização dos temas abordados – como racismo e manipulação da audiência – oferecendo luz a questões que ganharam maior atenção social com o passar das gerações. Aqui, no entanto, a impressão é que Tina Fey – que além de ser responsável pelo roteiro, mais uma vez aparece como uma professora – simplesmente pegou o texto original e tratou de abrir espaços para as músicas, sem se importar com contextualizações ou ajustes. É basicamente a mesma coisa, porém repleto de melodias repetitivas e coreografias nada inspiradas – para não dizer constrangedoras. Em mais de um momento, como em “Apex Predator” ou “Revenge Party”, o embaraço ultrapassa o limite da tela e invade a sala de exibição.

Como dito, portanto, o argumento segue inalterado: garota recém-chegada (Angourie Rice, que já teve dias melhores, como em Dois Caras Legais, 2016, ou na minissérie Mare of Easttown, 2021) é alertada por dois desajustados (Auli’i Cravalho, de Moana: Um Mar de Aventuras, 2016, e o novato Jaquel Spivey – aliás, os melhores do elenco, algo que alcançam sem muito esforço) a respeito das diversas ‘faunas’ que movimentam o corpo estudantil do colégio onde foi estudar. Entre esportistas descerebrados e nerds campeões de matemática (os velhos clichês de sempre), há as ‘Plásticas’, ou seja, as patricinhas que se consideram as mais desejadas (e invejadas) pelos colegas, um trio liderado pela temida Regina George (Renée Rapp, de A Vida Sexual das Universitárias, 2021-2022, inadequada e incapaz de alternar expressões). Curiosamente, no entanto, Cady (Rice) é abraçada por elas, e tudo parece correr bem até se apaixonar pelo ex-namorado de... Regina George. E se o drama parece pífio para tamanha comoção, é ainda mais chocante perceber que pouco há além desse fiapo de história. Meninas seguem disputando entre si os mesmos rapazes que pouco fazem para merecê-las, enquanto adolescentes mais uma vez são interpretados por artistas que certamente já eram nascidos quanto o outro filme estreou. Como se vê, (quase) nada mudou, tanto em frente, quanto atrás das câmeras.

Se hoje o Meninas Malvadas estrelado por Rachel McAdams, Amanda Seyfried (ambas vieram a se tornar atrizes indicadas ao Oscar), Lacey Chabert e Lindsay Lohan (que, graças ao tempo livre que parece ter à disposição, faz uma participação não muito especial por aqui, assim como Tim Meadows e a citada Fey) é visto com uma curiosidade quase arqueológica, essa releitura segue batendo nos mesmos pontos, como se nada tivesse mudado. A escassez de personagens negros segue inalterada, assim como os gays ou são caricatos, ou servem somente para compor cenário no fundo da imagem, enquanto outras etnias – como o garoto indiano – está ali apenas para ilustrar interesses dissonantes da maioria (no caso, é o líder do Matletas, a equipe da Olimpíada de Matemática). As Plásticas não servem para apontar a uma visão cor-de-rosa limitante e estereotipada (como tão bem fez Barbie, 2023), mas como se de fato representassem um ideal a ser alcançado – o fato da protagonista se transformar em uma da noite para o dia, abandonando qualquer tipo de disposição crítica, é assustador. Como se fosse possível apenas um extremo ou outro, sem graduações entre estas caricaturas.

Mas talvez o que mais incomode nesse novo Meninas Malvadas é acreditar que o público da sala escura possa se comportar como a plateia teatral, impondo alegorias e fantasias que até podem caber num palco onde tudo é possível, mas que carecem de uma base na qual se apoiar em uma construção fílmica. Jayne e Perez Jr. abrem mão até mesmo de movimentos mais elaborados, oferecendo à audiência sequências que vão da desordem ao simplesmente caótico, como se mais fosse igual a melhor, em um festival de excessos que pouco sentido faz diante de um escrutínio exigente. No final das contas, são apenas jovens inseguros tentando se validar a partir das fragilidades que identificam nos outros. Não é mais do que hora de entender esse método como ultrapassado e que o momento agora é de propor novos processos, deixando velhas fórmulas para trás e abrindo espaço para experimentações que se confirmam urgentes? Tina Fey, você já foi melhor. E de resto, nada digno de lembrança. Não que vá abalar a popularidade do primeiro título, mas que deixa uma mancha em seu legado, isso é fato.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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