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Crítica


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Sinopse

Dante é um doente mental internado há dez anos num hospital psiquiátrico. Ele é considerado um caso perdido, até que uma jovem médica decide tratar dele e estudá-lo. Ao investigar o passado de Dante, surgem três personagens importantes - seu pai, uma amiga de infância e uma importante cientista. Nem todos eles querem revelar o que sabem.

Crítica

Ao tornar-se residente de um hospital psiquiátrico, Paula (Branca Messina) se interessa pelo comportamento de Dante Becker (Felipe Kannenberg). O diagnóstico apresenta um doente crônico, irrecuperável, mas não traz qualquer informação sobre a sua vida. Esta lacuna leva a jovem a sair em busca de reconstruir o passado de Dante, investigando que acontecimentos o levaram à perturbação mental em que se encontra. Em sua busca, cerne de Menos que Nada, longa escrito e dirigido por Carlos Gerbase, Paula descobre um Dante arqueólogo que, ao avaliar o material fóssil das escavações de uma pousada, acaba enredado em uma disputa entre paixão, desejo e interesse; entre passado e futuro. De um lado, a amiga de infância, Berenice (Maria Manoella); do outro, a arqueóloga renomada, Dra. René (Rosanne Mulholland). O valor científico do material encontrado nas terras de Berenice daria projeção internacional aos envolvidos, como René faz questão de frisar. Entretanto, a descoberta embargaria a propriedade, causando o descontentamento do agressivo Ciro (Alexandre Vargas), marido de Berenice.

Como todo filme de personagem, a harmonia nas atuações se faz fundamental. Centrado dramaticamente no núcleo Dante-Berenice-René, as representações se destacam pela regularidade técnica. Felipe Kannenberg está bem ao demonstrar a continuidade do arqueólogo tímido e confuso para o doente perturbado. Maria Manoella transita facilmente entre as diversas emoções de sua personagem, legitimando com a mesma originalidade os momentos de paixão e os de medo. Rosanne Mulholland reproduz com perfeição o jogo lânguido do caráter duvidoso da Dra. René. À margem, Roberto Oliveira, no papel de pai de Dante, melhora muito um personagem simplório. O conjunto sólido e homogêneo sustenta com habilidade a história, mesmo com as ressalvas à interpretação histriônica de Alexandre Vargas.

A direção de arte e a cenografia trabalham de forma coesa e geram um ótimo resultado com a naturalidade pretendida. Em tom similar segue a direção de Carlos Gerbase, que soma a sua simplicidade a competente montagem de Giba Assis Brasil. Com o entrosamento de colegas de longa data na Casa de Cinema de Porto Alegre, possibilitam ao filme a fluidez necessária para que a narrativa não-linear chegue aos espectadores de maneira inteligível e prazerosa.

Levemente inspirado no conto “Diário de Redegonda”, do escritor e médico austríaco Arthur Schnitzler (1862 – 1931), o filme de Gerbase é um projeto que demanda muitos cuidados. Seja pela trama composta pelo número expressivo de personagens, seja pela mobilização de dois tempos intercalados constantemente, seja ainda pelo mote de ação, que exige a constante renovação de interesse para com o objetivo. A demanda complexa encontra em Gerbase um realizador competente, com domínio da evolução e dos nuances da história. Com suas qualidades, Menos que Nada é o melhor filme do diretor gaúcho.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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