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Sinopse

No caminho de um acampamento de dança, pai e filha avistam a melhor amiga da menina na beira da estrada. O simples fato de lhe oferecer uma carona desencadeia uma série de resultados inesperados.

Crítica

Uma mãe. Um pai. E uma filha. Esse é o núcleo central de Mentira Incondicional, longa escrito e dirigido por Veena Sud, cineasta com passagem por séries como The Killing (2011-2014) e Seven Seconds (2018). Na verdade, ela é responsável por uma adaptação, pois se trata de uma refilmagem do alemão Wir Monster (2015). A história dos dois longas é bastante similar e parte do mesmo conjunto de atores. Há ainda, em ambos, mais uma personagem, de presença fugaz, mas determinante para o andar da trama: a melhor amiga da garota, que assim como entra, também sai de cena. E é a partir do seu desaparecimento que as coisas, enfim, começam a acontecer. Se para o bem ou para o pior, é mais o caso do espectador decidir. Afinal, por mais estranho que pareça, há quem goste de ser enganado por pouco.

O sentimento de ilusão começa a se estabelecer logo nos primeiros minutos, com um clipe de momentos familiares felizes, do nascimento até a adolescência de Kayla (Joey King, que apesar de estampar o cartaz, tem pouco a fazer). Porém, o corte é brutal: assim que se chega ao presente, a realidade é outra. Rebecca (Mireille Enos, a melhor do elenco, controlada na medida certa, fria quando necessária e passional nas passagens de maior tensão) e Jay (Peter Sarsgaard, um ator que há muito deixou de ser uma promessa, e agora soa mais como acomodado em uma zona de conforto) estão separados, e vê-los juntos é tão raro quanto os sorrisos descontraídos que a menina costumava distribuir no passado.

Os dois possuem uma tarefa a cumprir: levar a filha para o retiro de férias. Rebecca, pelo que se percebe, é a mais responsável. Advogada de uma grande firma, tem horários a cumprir e prazos a respeitar. Por isso, a parte dela vai até o apartamento do pai, que é quem seguirá com a menina. No caminho, encontram em uma parada de ônibus Britney (Devery Jacobs, da série The Order, 2019-2020), que vai para o mesmo lugar. Oferecer uma carona, portanto, parece natural. Assim como é a implicância entre as duas assim que são colocadas lado a lado no banco de trás – são pouco mais do que crianças, pelo que se percebe. Uma parada improvisada no meio do trajeto – uma delas afirma não poder esperar para ir ao banheiro – acaba terminando da pior maneira possível. Com a demora das duas, o homem vai atrás para ver o que aconteceu. E encontra apenas Kayla, no meio de uma ponte, sobre um riacho bravio. Aos prantos, assume ter empurrado a outra na água gelada logo abaixo.

Se este breve resumo parece suficiente, é bom ter em mente que este é apenas o começo de Mentira Incondicional. Veja bem, Kayla não tem meias palavras e não faz questão de esconder nada, afirmando com todas as letras ter tido a intenção de matar a colega ao jogá-la no rio congelante. O que a teria levado a isso, no entanto, é algo que escapa à diretora e roteirista. Pois a partir desse ponto, sua atenção estará voltada não à responsável pelo crime, mas aos seus responsáveis – afinal, se trata de uma jovem de apenas 15 anos. São eles, os que deveriam dar o exemplo, que acabam se revelando mais assustadores em seus esforços para esconderem o ocorrido e protegerem aquela que viram crescer. Não importando o custo, e muito menos o sacrifício exigido.

Jay é o perdido, o que não pensa e comete os erros mais banais. Rebecca é a cerebral, a que calcula cada movimento e mede bem cada passo. Entre os dois está Kayla, que no dia seguinte estará agindo como se nada tivesse acontecido. As discussões a partir dessa dinâmica são infinitas. Mentira Incondicional, no entanto, opta em desprezar qualquer análise mais elaborada, preferindo se concentrar em desencontros do acaso e tensões facilmente superadas. E quando as esperanças por uma reflexão mais elaborada estão quase eliminadas, um golpe final é dado com uma reviravolta retirada da cartola que não apenas despreza a inteligência do espectador, como também desrespeita a própria narrativa exibida até aquele momento. Pior do que menosprezar a audiência com discursos expositivos e excessos didáticos é ludibriar até mesmo aqueles mais crédulos. E assim, como uma pegadinha sem graça, um filme que parte de um debate digno de atenção chega a lugar nenhum, tão descartável e esquecível quanto suas próprias intenções.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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