Crítica
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Sinopse
Após o fracasso de seu novo álbum, um astro do rock vai morar na ilha de Chipre. Mas alguns visitantes e uma antiga paixão podem atrapalhar essa vida nova.
Crítica
Chega a ser curioso como o título nacional deste filme consegue romantizar a situação trágica que serve como ponto de partida para o argumento em questão. Por mais que se trate de um romance um tanto açucarado, o tal ‘mergulho’ não é necessariamente nesta suposta paixão, mas, pelo contrário, na ausência total de expectativas e esperanças. Pois essa é a situação com a qual se depara John Allman ao se mudar para uma casa afastada de tudo e todos em um cenário paradisíaco na ilha do Chipre: o lugar, por mais encantadora que seja a vista, é usado corriqueiramente por suicidas, que vão até lá para se jogar nas correntezas dezenas de metros penhasco abaixo. E como ele descobre isso? Da pior maneira possível: ao acordar no dia seguinte, um desses desesperados decide acabar com a própria vida na sua frente, quando se aproximava para tentar descobrir o que esse estranho fazia em sua propriedade. Mergulhando no Amor, portanto, pode ser bonito de ver, mas esse choque inicial não será facilmente apagado – ou quiçá ignorado. E é a partir deste incômodo que uma trama absolutamente banal tentará impor algum resquício de originalidade.
Quando tinha apenas 10 anos de idade, Harry Connick Jr lançou seu primeiro álbum como cantor, Dixieland Plus, em 1977. A estreia atuando veio mais de uma década depois, e por mais que ao longo dos anos tenha tentado variar de estilo – como na ficção científica Independence Day (1996) ou no suspense Possuídos (2006) – sua zona de conforto sempre foi o romance, sejam dramas ou comédias. O primeiro esforço neste sentido foi ao lado de Sandra Bullock no inexpressivo Quando o Amor Acontece (1998), e eis que, quase trinta anos depois, ele segue preso ao mesmo personagem. John Allman é, assim como ele, um cantor que já viveu o seu auge, só que ao invés de recorrer ao cinema como um carreira alternativa, decide se isolar no destino que acredita ser o mais distante possível. Mas há um motivo especial para sua escolha: a busca por um sentimento perdido com o tempo que, agora, espera recuperar.
Após mais um trabalho que não alcançou o resultado esperado, Allman avalia ser necessário pisar no freio e repensar sua condição de artista. Talvez não seja necessariamente uma aposentadoria, mas também não imagina algo menos do que umas longas – e afastadas – férias. A escolha pelo Chipre se explica: foi lá onde, décadas atrás, teria encontrado Athanasia, ou apenas Sia, como se habituou a chamá-la. Importante, neste ponto, um pouco de História e Geografia. Para os desavisados, essa ilha, apesar de ser uma nação independente, é localizada no Mar Mediterrâneo, e que, ainda que ao largo das costas da Síria e da Turquia, foi colonizada pelos gregos (outra nação também próxima). Mergulhando no Amor, portanto, tem a maior parte do seu elenco composto por atores locais, o que, felizmente, resulta em alguns diálogos desenvolvidos em... grego! Um toque de novidade a um cenário tão acostumado a mais do mesmo – como geralmente se apresentam as ofertas originais das plataformas de streaming – a ponto desta ser a primeira produção local feita especialmente para a Netflix.
Mas deixando de lado essa curiosidade, pouco sobrevive dentre os esforços de Harry Connick Jr se firmar como galã romântico, por mais que tente disfarçar a idade, como a barba por fazer, o corte de cabelo descolado e as diversas tatuagens espalhadas pelo corpo. Por outro lado, Agni Scott se mostra uma surpresa como Sia, ganhando mais destaque do que havia experimentado em projetos hollywoodianos anteriores, como a comédia romântica O Bebê de Bridget Jones (2016) ou o drama histórico Persuasão (2022), por exemplo. Seu carisma natural se sobressai às eventuais trapalhadas do candidato a posto de amor de ocasião, apesar de algumas atitudes condenáveis de sua personagem. A pior delas se resume ao fato de ter escondido do antigo amante que havia engravidado dele na época, levando a uma filha que nunca soube quem era seu pai. Melina (Ali Fumiko Whitney, uma promessa interessante, que começa bem, mas aos poucos vai sumindo de cena), por sua vez, e não por acaso, sonha em ser cantora. Basta somar um mais um para adivinhar o que será dela assim que descobrir a verdade sobre sua origem.
Apesar de continuar sendo melhor cantor do que intérprete, Harry Connick Jr interrompe esse hiato distante da atuação – seu último trabalho como protagonista havia sido Winter, O Golfinho 2 (2014), dez anos atrás – se arriscando apenas em parte: ainda que não cante diante das câmeras, uma música sua está na trilha sonora, além do seu personagem, como já dito antes, ser um cantor que já viveu dias melhores. É por esta evidente conformidade em transitar por uma zona de conforto bastante limitada que Mergulhando no Amor deixa de surpreender, apesar de alguns predicados dignos de nota (o ambiente é pouco explorado, o argumento não se desenvolve como se poderia esperar, e a direção de Stelana Kliris, também autora do roteiro, é por demais comedida). Ou seja, pode até ser que um ou outro chegue até aqui pela premissa ou pelo charme do cantator, mas ir até o fim, mais do que uma prova de resistência, é mesmo uma demonstração de comprometimento, pois desse conjunto não se pode esperar muito, e o que o todo entrega é ainda menos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 4 |
Francisco Carbone | 2 |
MÉDIA | 3 |
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