Mestre dos Mares: O Lado Mais Distante do Mundo
Crítica
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Sinopse
Jack Aubrey (Russell Crowe) é o capitão do H.M.S. Surprise, um dos principais navios de guerra da marinha britânica. Com seu país em guerra contra a França de Napoleão Bonaparte, Aubrey é atacado por um navio inimigo mais poderoso, que fere boa parte de sua tripulação e ainda danifica o navio. Aubrey então se sente dividido entre cumprir seu dever e tentar derrotar o inimigo ou retornar para cuidar dos feridos.
Crítica
Uma das grandes surpresas entre os indicados ao Oscar de 2003 foi a impressionante performance de Mestre dos Mares, épico marítimo lembrado em 10 categorias e vencedor em duas delas: Melhor Fotografia e Edição de Som. Um resultado muito mais satisfatório do que o próprio filme, tecnicamente perfeito, mas que carece do principal: uma alma, um coração que o una num só sentido de emoção. Há, em cena, muito a se ver e a se maravilhar, mas pouco disse se torna realmente vibrante na memória de quem o assiste após a exibição dos créditos finais.
Mestre dos Mares é uma adaptação do primeiro dos livros escritos por Patrick O’Brian sobre as aventuras do capitão Jack Aubrey, aqui interpretado por Russell Crowe com a competância habitual, porém sem maiores arroubos. Oficial da Marinha Britânica durante as Guerras Napoleônicas, no século XIX, Aubrey conseguiu, ao lado de seus comandados, atravessr o Oceano Atlântico, passando pela costa do Brasil até a Terra do Fogo, adentrando o Oceano Pacífico e parando, finalmente, nas Ilhas Galápagos. Isso se deu na tentativa de destruírem um navio francês inimigo, maior e mais potente. E esta é, em poucas linhas, a trama do filme. A maior parte da ação se passa a bordo, antes, durante e depois de batalhas navais espetacularmente filmadas. Esse, portanto, é o ponto forte da produção: suas condições técnicas primorosas, de causar espanto em qualquer um. Tudo é muito bem feito, dotado de um realismo impressionante, a ponto de ser praticamente impossível não ser transportado literalmente para “dentro” do navio e sentir a brisa do mar, além de um inebriante gosto de aventura e tensão.
O maior mérito de Mestre dos Mares, entretanto, é também seu principal defeito. Se tecnicamente o filme é perfeito, por outro lado carece de um maior aprofundamento psicológico, de uma estrutura mais real, humana. Se somos levados pela dinâmica dos acontecimentos graças a um visual arrebatador, por outro lado se torna complicado adentrar nos – poucos – dramas vislumbrados entre os marinheiros, pois nenhum personagem chega a ser elaborado a contento. Não há como se envolver com seus objetivos, anseios e paixões. Assim, quando um morre – o que é inevitável numa trama dessas proporções – poucos sentirão sua falta, quanto mais pesar. Afinal, trata-se apenas de mais um, já que não há diferença entre eles. Nem mesmo os protagonistas, Crowe e Paul Bettany (repetindo a parceria de Uma Mente Brilhante, 2001), são delineados de forma satisfatória. A impressão é que a única coisa que importa é o risco, a ação. E todos estão juntos nesse propósito único, queiram ou não.
Uma forte evidência disso é que, das dez indicações ao Oscar, apenas duas não eram técnicas, a Melhor Filme e Direção (para Peter Weir, habitualmente um realizador emocionado, como indicam os também lembrados pela Academia A Testemunha, 1985, Sociedade dos Poetas Mortos, 1989, e O Show de Truman, 1998). Mestre dos Mares não chegou a ser lembrado nas categorias de atuação (apesar de Bettany estar excelente como um coadjuvante perfeito, à sombra do protagonista mas dono de relevância própria), nem mesmo como Roteiro Adaptado. Aliado a isso está o fato de ter sido, nos Estados Unidos, um discreto fracasso de bilheteria, tendo arrecadado pouco mais do que a metade do seu orçamento total, que foi de US$ 150 milhões, (apesar de ter se pago com a bilheteria internacional). Trata-se de um típico caso em que, por mais esforçada que tenha sido a crítica em reconhecer os méritos inegáveis da produção, poucos foram os que se deixaram levar pelas reais – se é que essas existem – motivações do enredo, pálido diante dos feitos narrados em cena. Em resumo, o que temos é uma obra plasticamente bela, mas fria e tão distante quanto o rumo destes personagens.
um dos melhores filmes que eu já assisti. perfeito.