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Sinopse
Em Mestres do Assalto, Nora, Zoé, Steve e Prestance, jovens funcionários de hotéis de luxo, formam uma equipe secreta especializada em roubar carros de clientes ricos durante seus intervalos. Enquanto planejam seu último golpe, enfrentam uma ameaça mortal quando Elias, um assassino contratado pelo gerente de um dos hotéis, é designado para identificá-los e puni-los por seus crimes. Ação.
Crítica
Filmes de assalto tendem a ser empolgantes (quando eles são bons, claro). É estimulante acompanhar o preparativo e a execução de roubos mirabolantes que às vezes envolvem a entrada quase impossível em espaços vigiados. Também faz parte da tradição desse tipo de história a soma de habilidades de uma equipe capaz de executar missões dificílimas. Alguém é especialista em direção de fuga, outro sabe manusear como ninguém as armas de fogo, há os arrombadores de cofres que fazem isso como se fosse arte, e por aí vai. Mestres do Assalto pretende engrossar esse filão mostrando uma peculiar turma de assaltantes cujos alvos são hóspedes riquíssimos de um hotel de luxo onde todos eles trabalham disfarçados. A primeira coisa que temos no longa-metragem francês é esses personagens emboscando um alvo durante o seu intervalo de almoço. Eles têm precisamente cinquenta minutos para perseguir o sujeito, interceptar o carro, fazer o serviço e voltar para o hotel como se nada tivesse acontecido. A sequência tem uma premissa mais interessante do que a execução, pois o diretor Kamel Guemra não é propriamente um grande especialista em ação para fazer esse movimento ser empolgante. E tem outra: como os quatro funcionários se ausentam ao mesmo tempo e não são percebidos?
Um dos principais elementos de um filme de assalto é justamente a engenhosidade na hora de descrever os métodos, a perícia do roteiro em ir construindo um quebra-cabeça que faça sentido ao espectador. Mestres do Assalto utiliza exageradamente soluções fáceis para problemas difíceis, pega saídas convenientes para resolver situações que precisariam de um pouco mais de criatividade para terem alguma credibilidade. Como quando Elias (Franck Gastambide) – o algoz dos assaltantes, contratado pelos proprietários do hotel –, chega sem qualquer alarde a um esconderijo afastado onde os personagens principais estão dando um tempo. É difícil de engolir que nesse fim de mundo a aproximação de alguém não acionaria imediatamente um alerta aos quatro supostamente exímios saqueadores treinados nas mais diversas artes. No entanto, Kamel está mais preocupado com o efeito surpresa da chegada repentina do vilão do que com tornar aquilo tudo crível. Nada contra as inverossimilhanças, isso desde que a trama seja envolvente o suficiente para destravar a nossa suspensão da descrença. No entanto, pensando nos termos especificamente dos filmes de assalto, essas saídas providenciais que se acumulam vão anulando a perícia das estratégias (tanto de ação quanto de perseguição), algo importante a essas produções. Assim, a inteligência dos movimentos dos personagens fica bastante obscurecida.
Mestres do Assalto está mais empenhado em “limpar a barra” dos quatro ladrões do que necessariamente em observá-los como pessoas complexas/contraditórias ou mesmo em elogiar suas habilidades excepcionais. Portanto, temos um filme de assalto em que o mais importante é sempre atribuir alguma nobreza a ação dos contraventores, como se eles não pudessem ganhar a simpatia do público se estivessem apenas querendo enriquecer ilicitamente. Trata-se de um daqueles exemplares de um cinema que não consegue esconder o seu moralismo maldisfarçado, a necessidade de atribuir valores moralmente aceitos para os personagens serem observados como honrados, mesmo fazendo algo contrário à lei. Senão vejamos. Primeiro, os quatro estão surrupiando apenas homens e mulheres ricaços, geralmente ligados a atividades controversas, como o contrabando de diamantes ou a venda internacional de armas. Segundo, o roteiro assinado por Morade Aissaoui, Sledge Bidounga e Kamel Guemra faz questão de mostrar que a líder do bando, Nora (Zoé Marchal), terá a atitude mais nobre sempre que algum inocente foi impactado por sua atuação (a prostituta levada ao hospital, a renúncia quando o pianista for ameaçado, etc.). Terceiro, Nora ainda ganha um episódio aleatório para ser vista como a justiceira que corrige violentamente os efeitos (para uma completa inocente) da brutalidade do hóspede que estava na mira. Ela é mais encarada como uma mulher boa do que qualquer coisa.
De determinado ponto em diante, Kamel Guemra aposta suas fichas numa dinâmica que apenas expõe o quanto a sua visão de um filme de assalto é limitada. Em mais um movimento que parece providência do destino, Nora começa a se envolver com um pianista (pai solo) que acabou de começar a trabalhar no hotel. A sua repentina paixão avassaladora depois de passar uma noite com o praticamente desconhecido seria crível apenas naqueles filmes românticos melosos ao extremo. Se ao menos Kamel elaborasse suficientemente a personalidade dela para, por exemplo, justificar essa queda imediata de amores pela natureza excepcional do carinho na vida de alguém fria e calculista, essa situação seria menos forçada. No entanto, assim como outros acontecimentos do filme, esse é somente um atalho mal formulado na tentativa de atribuir camadas a esses personagens baseados em arquétipos comuns nos filmes de assalto. Aliás, voltando à ação propriamente dita, há pouquíssima ênfase nas habilidades individuais dos membros desse quarteto supostamente incrível. Supostamente porque em nenhum momento o conceito é representado cinematograficamente, ou seja, nunca somos levados a compreender por meio dos atos e das decisões que esses quatro assaltantes são realmente fora da curva. O resultado é um filme morno que vai sabotando até mesmo a sua possibilidade de fazer um feijão com arroz saboroso. Nem o vilão, muito menos os quatro mocinhos virtuosos, são memoráveis.
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