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Sinopse

Yuri, Lili, Matt e seus amigos imaginários saem em viagem rumo a uma colônia de férias. Lá eles conhecem uma criatura que deseja separar a turma de seus Amigãozões. Todos precisarão se unir antes que seja tarde demais.

Crítica

O mercado brasileiro de animação encontrou nos canais fechados um lugar propício para florescer na última década. E alguns projetos bem-sucedidos nas telinhas acabaram ganhando versões cinematográficas – vide Peixonauta (2009-), Osmar: A Primeira Fatia do Pão de Forma (2013-2015), entre outros. Meu Amigãozão: O Filme é derivado da série exibida entre 2011 e 2014 que, por sua vez, foi baseada no curta-metragem Amigãozão (2006). O que primeiro salta positivamente aos olhos é a qualidade técnica, especialmente a beleza do aspecto visual. O criador/diretor Andrés Lieban comanda uma aventura de aparência caprichada, com os atrativos para chamar a atenção dos pequenos (muitas cores, personagens carismáticos e apelo às resoluções de simples compreensão). Essa primeira empreitada cinematográfica parte da dificuldade que o protagonista Yuri (voz de Fernanda Ribeiro) demonstra ao saber que será mandado para uma colônia de férias. Ele tem problemas para fazer novos amigos e treme ao imaginar que estará cercado de desconhecidos. Seus melhores amigos, Lili (voz de Alice Lieban) e Matt (voz João Arthur Brum), também foram escalados para o programa e se deparam com as próprias adversidades: ela tende a ser mandona e ele demonstra egoísmo com frequência.

As três crianças embarcam numa jornada lúdica na companhia dos amigãozões (animais antropomorfizados que funcionam como fieis escudeiros imaginários). A aventura pela terra "maravilhosa" comandada por Duvi Dudum (voz de Guilherme Briggs) é uma metáfora sobre a etapa de amadurecimento pela qual os três precisam passar. É um rito de transição que ganha contornos ora empolgantes, ora perigosos (dentro de um limite infantil, evidentemente). O vilão separa os amigos e com isso expõe as lições que os três devem aprender a fim de voltar para casa com a bagagem de vida que antes não tinham. Tudo é muito transparente, da necessidade de abdicar das vontades pessoais em prol do grupo às tentativas de mostrar que não há pessoas de todo malévolas no mundo. Mesmo o grande algoz é lido como um sujeito que devolve aos demais a frustração de ser sozinho e incompreendido. As mensagens são propícias às crianças menores, embora percam muita importância nas missões que privilegiam a ação. A movimentação, as fugas, as peripécias dos personagens valem bem mais do que a pavimentação desse caminho de experiências que é escancarado no encerramento.

Meu Amigãozão: O Filme demonstra as mesmas falhas de alguns outros longas-metragens também derivados de séries animadas de TV, sendo a principal delas a sensação de que vemos um episódio estendido. As andanças de Yuri e de seu amigãozão não são sempre pautadas por aquilo que ele deve aprender. O mesmo acontece com Lili e Matt. Falta consistência nesses percursos individuais que convergem na tarefa maior, a que precisa do esforço coletivo. A fim de suprir essa carência, o realizador faz com que tudo culmine em algo sintomático. Quando as andanças estão acabando, surge alguém para dizer que Yuri está mais aberto a conhecer gente, Lili está um pouco menos mandona e Matt disposto a confessar o seu egoísmo. O vilão também carrega a fragilidade da pouca consistência dramática. Duvi Dudum fica apenas se movimentando, armando arapucas, gritando aos sete ventos a sua “ruindade”, para apenas no encerramento redentor deixar à mostra as suas fragilidades que podem ser facilmente compensadas com presença de um amigo. Portanto, o problema do filme está no miolo das jornadas pessoais que às vezes caem num terreno bem desinteressante.

Bom salientar que estamos falando de uma produção voltada a um público infantil com, no máximo, 10 anos de idade. Por isso, é natural que coisas sejam simplificadas ou demasiadamente mastigadas para os pequenos manterem os olhos na telona. Porém, há um exagero nessa tentativa de capturar a atenção do público-alvo estritamente pelo viés da aventura. O desenvolvimento não pontua de modo habilidoso as etapas dessas experiências compartilhadas num mundo de fantasias que dará aos três os subsídios para serem mais agradáveis no mundo real. Assim sendo, nem a natureza educativa contida nessas lições é tão contemplada como poderia. Meu Amigãozão: O Filme vale mais pela qualidade da animação, pela beleza dos cenários e pela inventividade visual. Vale um pouco menos pelos rumos que a história toma e por como cada personagem se apropria da amizade para lutar contra as forças do mal. No time de atores que empresta suas vozes a essas figuras planas, sobressai Guilherme Briggs, um dos maiores dubladores do Brasil. E, ainda assim, ele confere a Duvi Dudum algumas tintas típicas de outros de seus trabalhos com os vilões histriônicos e megalomaníacos.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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