Crítica
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Sinopse
Órfão, o pequeno Pete cansa de ser abusado pelos pais adotivos e foge de casa. Ele passa a viver numa densa floresta ao lado do amigo Elliot, um gigante dragão que desperta a curiosidade de moradores da região.
Crítica
A estratégia de modernizar seus clássicos vem se mostrando bastante lucrativa para os Estúdios Walt Disney nos últimos anos. Sucessos como Malévola (2014), Cinderela (2015) e Mogli: O Menino Lobo (2016) – este sendo prestigiado também pela crítica – apontam para a continuidade dessa tendência, da qual também faz parte esta nova versão de Meu Amigo, o Dragão. Diferentemente dos outros citados, este longa, dirigido por David Lowery, tem como base um título menos célebre do catálogo Disney, que à época de seu lançamento, em 1977, não obteve o retorno esperado, mas aos poucos acabou ganhando certo status cult, especialmente nos EUA.
O filme original, uma mistura musical de live action com animação tradicional, ganha aqui uma releitura que se vale das possibilidades proporcionadas pelos avanços da computação gráfica para contar a história de Pete (Oakes Fegley), garoto que, após um acidente automobilístico que vitima seus pais, passa a viver na floresta tendo como única companhia um gigante dragão verde chamado Elliot. Passados seis anos da tragédia, Pete finalmente é encontrado pela guarda florestal Grace (Bryce Dallas Howard) e levado para a cidade. Agora, além de se adaptar à civilização, o menino enfrentará a dor de estar distante de seu melhor amigo, que passa a ser perseguido por parte dos moradores locais.
Responsável pelo ótimo Amor Fora da Lei (2013), o cineasta David Lowery, nome estabelecido no cinema independente, toma um rumo curioso em sua carreira ao assumir o comando desta produção. Mas, apesar das propostas distintas, algumas marcas autorais de seu trabalho anterior são preservadas, como o senso estético apurado e a habilidade na construção da atmosfera idílica que envolve as belas paisagens da Nova Zelândia - transformadas em um cenário interiorano norte-americano típico. Essa ambientação serve perfeitamente ao tema do resgate da magia que ecoa no filme desde a cena inicial, quando os pais de Pete lhe explicam o que é uma aventura, se estendendo também ao personagem de Robert Redford – Meacham, o pai de Grace – que mantém viva sua crença na existência dos dragões contando histórias para as crianças da vizinhança.
Esse apreço pela pureza do fabular, uma característica típica do universo Disney, surge como um respiro extremamente salutar em meio às produções recentes voltadas ao público infantil. Outro elemento que contribui para a concepção fantasiosa é o senso de atemporalidade da narrativa. Aparentemente a trama se passa nos anos 80 – pelos modelos de carros e objetos de cena, como o toca-discos, e pela ausência de tecnologia moderna: celulares e computadores – mas isto nunca é devidamente explicitado. Algo que, porém, pode transmitir ao filme uma sensação de deslocamento dentro das expectativas do público atual, com seu ritmo mais cadenciado e contemplativo. Ainda que entregue o espetáculo de efeitos especiais e ação de praxe em seu clímax.
Apesar de certas semelhanças com Mogli em sua premissa – garoto perdido na floresta criado por ser de outra raça – o filme de Lowery se distancia de qualquer aspecto da natureza selvagem em favor de uma representação mais “doméstica”. Por esse motivo, a figura do dragão ganha todos os traços da de um cachorro, tal qual o visto no livro “Elliot Gets Lost”, com o qual Pete aprende a ler e de onde tira o nome de seu amigo cuspidor de fogo. Os pelos que cobrem seu corpo, os movimentos, as reações, o modo como brinca com o humano – a cena no riacho é um bom exemplo –, tudo remete à relação entre um cão e seu dono. Isso gera uma identificação imediata, aproximando emocionalmente o público e dando a Meu Amigo, o Dragão ares dos antigos filmes de Lassie.
O ótimo design e o trabalho de computação – ainda que em alguns planos a fotografia pareça muito escura - contribuem para estabelecer Elliot como a criatura mais amigável possível, e a atuação desenvolta de Fegley como Pete completa o sucesso da dinâmica. O nível das interpretações é mantido pelo sólido elenco, que além de Dallas e Redford conta ainda com Wes Bentley (Jack, o namorado de Grace), Karl Urban (Gavin, irmão de Jack, empenhado no desmatamento da floresta) e a ótima Oona Laurence, jovem atriz que se destaca como Natalie, filha de Jack. Em relação ao filme de 1977, a nova versão apresenta diversas alterações na trama, eliminando todos os aspectos mais sombrios – no original Pete fugia de pais adotivos que o maltratavam, por exemplo.
Não existem grandes perigos aqui, pois até mesmo Gavin, personagem mais próximo de um vilão, não representa uma ameaça plena. Tudo é leve, incluindo o humor, que surge esporadicamente, como quando Elliot procura por Pete no hospital. O filme também abandona a parcela musical de sua fonte de inspiração, exceto pela belíssima sequência em que Natalie entoa a canção folclórica sobre dragões, embalando imagens de Elliot sobrevoando a cidade à noite. Esta leveza talvez seja excessiva, tornando os conflitos menos densos do que deveriam, assim como o princípio de discurso ecológico que termina diluído ao longo da projeção. Tudo, porém, faz parte da tradicional fórmula Disney de enaltecimento do conceito de família. O ato final acaba pesando um pouco no sentimentalismo relacionado a esses laços familiares, de variados tipos e espécies. De qualquer forma, nada disso impede que Meu Amigo, o Dragão encante e divirta com competência.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Leonardo Ribeiro | 7 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 6.5 |
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