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Sinopse

Pete se cansou dos abusos sofridos em casa e decidiu fugir com seu melhor amigo: o dragão Elliot. O menino e seu companheiro passam a viver numa pequena cidade com uma família humilde. Porém, quando o dragão é descoberto, Pete vai precisar lutar contra um médico malvado que quer se aproveitar da criatura.

Crítica

Enquanto vivo, Walt Disney controlava todas as produções cinematográficas executadas por seu estúdio. A ideia era que os filmes mantivessem certos valores que o produtor, empresário e artista defendia de forma ferrenha, tais como a família, a juventude, a alegria e o amor. Hoje podem ser vistos como ideais clichês. Mas para Disney, em sua época, essa visão era apropriada para se vender a um mundo pós Segunda Guerra. Depois de sua morte, foi apenas natural que os projetos de sua empresa tentassem se manter nessa fórmula. Não só em respeito ao que teria querido seu fundador, mas também porque funcionavam. Assim surgem obras como Meu Amigo o Dragão, que tentam seguir à risca a cartilha de Walt, mas esquecem de que, por mais que cada item seja cumprido de forma individual, ainda seria preciso um algo a mais para torná-los coesos. Esse algo, claro, é a “magia”, que aqui pode ser lido como inventividade.

Começando in media res (com a história já em andamento), conhecemos Pete (o não muito talentoso Sean Marshall), fugindo de uma família de aparência maléfica que diz serem donos daquele órfão. Com a ajuda de um amigo invisível chamado Elliot, o menino consegue escapulir e chegar até uma pequena cidadezinha portuária onde conhece a faroleira Nora (Hellen Reddy), que logo se penaliza e o convida a passar a noite. Filha de um beberrão local, Lampie (o sempre divertido Mickey Rooney), a moça espera que seu esposo, um marinheiro, retorne de uma viagem já há muito tempo dada como um naufrágio certo. Enquanto isso, chega à cidadezinha um falastrão vendendo supostos remédios milagrosos, Grover (Gary Morgan), que logo se interessa pela história de que um garoto dali teria um dragão como amigo, já que, se for verdade, as partes do animal valeriam muito dinheiro no mercado ilegal.

Claro, nada disso é contado para o espectador sem diversas canções e números de dança (a essa altura mais do que típicos nas produções da Disney) que prolongam a duração do filme desnecessariamente. E já vai mais de uma hora de filme quando o roteiro consegue estabelecer todos esses elementos de premissa e realmente começar a fazer a história andar. Apesar disso, as canções jamais soam aborrecidas e os números de dança são executados com alguma criatividade, em especial aquele no bar envolvendo barris de cerveja – o que torna sua inutilidade para a trama ainda mais decepcionante.

Aliás, do ponto de vista técnico, como é de se esperar, Meu Amigo o Dragão é vitorioso. Das trucagens mecânicas inseridas nos cenários para reagirem à presença de Elliot (que passa a maior parte da produção invisível), até a inserção do próprio dragão (feito através de uma competente animação 2D) na filmagem live action, o longa impressiona pela sua atenção aos detalhes e desenvoltura para conceber o carisma do personagem do título – e o tropeço aqui é novamente Sean Marshall, que, ao contrário do resto do elenco, parece incapaz de olhar para onde estaria o dragão.

Com resoluções típicas de uma história Disney, o filme não consegue nem ao menos tornar esse desfecho previsível em algo emocionante (e desse ponto de vista, a sua refilmagem de 2016 é incomparavelmente melhor sucedida). Muito mais longo do que deveria, e mais atrativo por suas unidades do que como um todo, Meu Amigo o Dragão é um esforço válido por tentar manter vivo os valores que Disney tanto apreciava, mas falho no que diz respeito à eficiência com que eram transmitidos.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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