Crítica
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Sinopse
Moscou, Rússia. A-112 é um robô humanoide destinado a atuar em situações de resgate, de forma a salvar pessoas e diminuir riscos aos humanos. Entretanto, apesar do longo tempo de ensino por uma dedicada equipe de cientistas, ele ainda comete erros básicos de avaliação, quando precisa entrar em ação. Com o projeto correndo riscos de ser cancelado, o robô foge do laboratório decidido a descobrir o que é uma família. Em sua busca ele conhece Mitya, filho de dois cientistas do local que o criou, que é negligenciado pelos pais. Não demora muito para que eles se tornem amigos e Mitya o ajude a se esconder, quando sua fuga se torna pública.
Crítica
Há um aspecto curioso em Meu Amigo Robô: por mais que este seja um filme absolutamente formulaico, com um punhado de clichês típicos do gênero infantil, é raro ver o Cinema russo dedicando tempo (e dinheiro) a uma produção do tipo. Sem exageros, trata-se de um típico exemplar (ruim) da Sessão da Tarde, só que com pitadas da cultura russa, que surgem desde a inserção de músicas pop locais até a homogeneização loira do elenco. Ah, e também através do escancarado favorecimento masculino dentro da história.
Senão, vejamos. Um robô é construído para atuar em operações de resgate, de forma a minimizar riscos aos humanos, aqueles que precisam ser resgatados e também os que resgatam. No laboratório em que foi criado trabalham dois cientistas, casados, ambos negligentes em relação ao filho único. "A ciência é mais importante que tudo" é o mantra sempre repetido, antecipando a clássica subtrama da carência infantil disposta a encontrar quem os substitua em afeição. O escolhido é, adivinhe!, o próprio robô.
A junção entre criança e robô, além de óbvia, decorre de uma preguiça de roteiro impressionante no sentido de como se dá tal encontro, refletida também em todos os coadjuvantes existentes. Nenhum deles é realmente desenvolvido, estão lá apenas para atender a necessidade da cena de momento, sendo descartado logo em seguida. Em relação aos pais, chama a atenção o tratamento desigual dado a eles: ao homem, destaque absoluto, à mulher, o posto de coadjuvante sem nem mesmo a chance de opinar. O preconceito está lá, diluído nos costumes da sociedade, como tantas vezes se usa para tentar espalhar a (falsa) noção de sua inexistência.
Por outro lado, é preciso também ressaltar que até há um certo esforço na conceituação estética do filme. O visual de A-112 segue o padrão humanóide, com brilhos espalhados por todo o corpo e um "rosto" amigável, pronto para fazer amizades - não há funcionalidade para tal característica dentro do objetivo ao qual foi construído, vale pontuar. O desejo, claro, é atrair a afeição do público mirim, a quem este filme é escancaradamente voltado. Se os efeitos especiais em torno de A-112 até são razoáveis, isto também acontece porque o filme evita cenas de ação, mais custosas, nas quais seria possível haver um certo exibicionismo. Por causa disto, Meu Amigo Robô é um tanto quanto verborrágico na relação com o garoto, baseado na constatação que cabe ao ser artificial ter sentimentos, enquanto quase todos os adultos buscam uma visão binária. Simples assim.
Dentro de tal proposta, o filme segue uma fórmula engessada envolvendo seus personagens principais que não demonstra nem criatividade, nem desenvoltura. Trata-se de um filme burocrático do início ao fim, cujo atraente maior acaba sendo as tais menções à cultura russa que pipocam aqui e ali, dentro de uma estrutura narrativa típica do cinema comercial americano, e algumas breves piadas envolvendo o universo tecnológico, como as menções a Isaac Asimov e Matrix (1999). Com um elenco irrelevante e uma história ainda menos atraente, em boa parte graças à enxurrada de obviedades e clichês adotados, acaba sendo mera perda de tempo.
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