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Sinopse

Rudolph é um vampiro de treze anos cujo clã está ameaçado por um notável caçador de monstros. Ele conhece Tony, um mortal da mesma idade, que é fascinado por antigos castelos, cemitérios e vampiros. Juntos, batalharão pela espécie dos chupadores de sangue.

Crítica

Autora de mais de vinte livros da série O Pequeno Vampiro, Angela Sommer-Bodenburg é, praticamente, a versão alemã da inglesa J. K. Rowling (criadora do Harry Potter). O primeiro volume foi lançado em 1979, e desde então já foram adaptados para o teatro, rádio, televisão e, claro, cinema. Afinal, Meu Amigo Vampiro é apenas a versão animada destes personagens, e não uma transposição fiel do livro que deu origem a este fenômeno. Este, aliás, se chama propositalmente O Pequeno Vampiro e foi lançado em 2000, tendo Jonathan Lipnicki (lembra do garotinho de Jerry Maguire, 1996, e O Pequeno Stuart Little, 1999?) à frente do elenco. Mas os fãs dos livros ou do longa anterior não devem se preocupar: a trama segue com o mesmo espírito juvenil, ainda que um pouco mais infantilizada ao assumir o formato de desenho animado.

Apesar do título da série, o protagonista – ao menos do livro de estreia, que chegou a ser lançado no Brasil – é Tony Thompson, um garoto esperto e filho único, que mora com os pais em uma cidade nos Estados Unidos. Aqui, no entanto, nos deparamos com a família de férias pela Europa, onde acabam se hospedando em um velho castelo na... Transilvânia! E se não bastava a coincidência, o lugar está prestes a sofrer uma infestação de vampiros, que estão em debandada do lugar onde moravam na Romênia após terem sido descobertos por um antigo caça-vampiros. Na corrida, o jovem Rudolph – um menino-vampiro que está comemorando pela centésima vez seu décimo-terceiro aniversário – acaba por se refugiar no quarto onde Tony está acomodado. De um estranhamento inicial, os dois logo descobrem afinidades. E partirão juntos para uma aventura que mudará suas vidas para sempre.

A sinopse pode parecer ingênua, e de fato ela é. Assim, é bom não esperar nada muito mais elaborado em Meu Amigo Vampiro – nada da ironia ou do deboche visto em Hotel Transilvânia (2012), por exemplo. A trama é dividida em três linhas de acontecimentos. Na primeira, Tony e Rudolph não apenas estão fortalecendo essa nova amizade, como também investigando meios de como conviver um com as características do outro, atentos às suas diferenças e idiossincrasias. Ao mesmo tempo, acompanhamos o que está se desenrolando com os demais Sackville-Bagg (o sobrenome da poderosa família vampiresca, caso não tenham percebido, é uma homenagem da autora a dois clãs dos hobbits de J.R.R. Tolkien.), presos em cavernas. Eles precisam escapar da armadilha antes que amanheça. Para isso, terão que confiar justamente nos seus membros mais novatos, que mostrarão que de inexperientes nada tem. E, por fim, seguimos os passos dos inimigos da turma, Roque e seu ajudante, um atrapalhado garoto que não tem muita noção se está, de fato, fazendo a coisa certa.

Se há uma questão a ser discutida no filme de Richard Claus – por sinal, produtor de O Pequeno Vampiro – e Karsten Kiilerich (indicado ao Oscar pelo curta animado When Life Departs, 1997) é, apesar de tantos personagens e possíveis tramas, uma aparente falta de maiores conflitos. Toda e qualquer dificuldade que se apresenta é facilmente resolvida em um ou dois desdobramentos. No final, o que se salva são as relações entre eles. Tony e Rudolph logo se tornam grandes amigos, e mesmo com alguns percalços pelo caminho – ninguém fica feliz em ser abandonado em pleno voo, ainda mais pela contraparte que é a única que sabe como voar – e o sentimento que nasce entre eles rapidamente será replicado tanto entre os pais do humano como também junto aos demais vampiros, como sua irmã adolescente ou mesmo pais, tios e avós.

Pois, enfim, o que resta como lição deste Meu Amigo Vampiro é justamente essa ode à tolerância e ao respeito às diferenças. O caçador termina por se mostrar mais sedento por sangue do que os próprios “monstros” – que há anos já abandonaram esse hábito, rendendo, aliás, uma das melhores piadas do filme, a da ‘vaca vampira’ – e mesmo os locais, como o casal de idosos, proprietários do hotel-castelo, acostumados com as presenças dessas figuras assustadoras, rapidamente se verão enturmados diante dessa nova realidade – não, é claro, sem uns bons sustos antes. Porém, o traço por demais convencional e uma estrutura narrativa bastante genérica levam a um esvaziamento de grande parte do charme que tanto os livros, como mesmo o longa anterior, possuíam. A criação de Sommer-Bodenburg ganha, aqui, um novo fôlego. Mas é mais uma porta de entrada do que uma visita, enfim, satisfatória a um universo tão rico e que promete muito mais do que o que aqui encontramos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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