Crítica
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Sinopse
O repórter inglês Danny Tate parte para uma entrevista com o ator Hervé Villechaize, responsável por interpretar o personagem Tattoo, do icônico programa Ilha da Fantasia (1978-1984). Entretanto, Hervé se encontra em depressão profunda. A reportagem, que deveria ter uma temática amigável, se transforma numa grande exclusiva de um ator em decadência, pronto para revelar os segredos mais sórdidos de Hollywood.
Crítica
Peter Dinklage é o maior astro da Hollywood atual na sua estatura, digamos. Afinal, não existe nenhum outro anão com tamanho sucesso e reconhecimento de público e crítica, tendo sido premiado com o Globo de Ouro e com o Emmy, aparecendo em campeões de bilheteria (Vingadores: Guerra Infinita, 2018) e produções vencedoras do Oscar (Três Anúncios para um Crime, 2017). Mas ele não foi o primeiro. Algumas décadas atrás, outro astro de proporções físicas similares também conquistou as audiências no mundo todo: Hervé Villechaize. E a imensa popularidade que ambos desfrutam / desfrutaram foi por causa, nos dois casos, às participações que tiveram em séries que se tornaram verdadeiros fenômenos: Game of Thrones (2011-2019) e Ilha da Fantasia (1977-1983), respectivamente. Portanto, ninguém melhor do que Dinklage para interpretar o próprio Villechaize em Meu Jantar com Hervé, uma produção original da HBO baseada em um episódio verídico que se encarrega de narrar os últimos dias de vida do eterno Tattoo. E se pela curiosidade a respeito de Hervé o público chegará até esse filme, não tenha dúvida: será pelo talento de Dinklage que o espectador permanecerá atento até o final.
Escrito e dirigido por Sacha Gervasi – que já havia recriado a trajetória de um ícone hollywoodiano no irregular Hitchcock (2012) – Meu Jantar com Hervé, até pela ordem implícita no título, tenta anunciar o jornalista Danny Tate (Jamie Dornan) como protagonista. É ele que, após quase jogar sua vida pessoal e profissional pelo ralo graças ao vício pela bebida, ganha como oportunidade de recomeço uma viagem de Londres até Los Angeles com o objetivo de produzir uma grande matéria sobre o escritor Gore Vidal. Mas como seu retorno não seria de mão beijada, recebe, ao mesmo tempo, mais uma incumbência: uma entrevista com Hervé Villechaize, que foi alçado à fama em 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro (1974), vinte anos atrás, e hoje se encontra em pleno ostracismo. Seria uma reportagem do tipo “por onde anda”, motivada pelo aniversário de duas décadas de uma das aventuras mais conhecidas de James Bond. Dois pelo preço de um, e o repórter acaba aceitando. O que permite a entrada em cena daquele que, enfim, irá capitalizar todo o interesse aqui despertado.
Ou seja, Tate não se encontra com Hervé realmente interessado nele. Este era só mais uma parada, uma pedra no seu sapato que precisava ser resolvida rumo a um objetivo que acreditava ser mais nobre. As coisas, no entanto, nem sempre saem como o esperado. E se o encontro com Vidal (1925-2012) – um dos maiores escritores norte-americanos de todos os tempos – acabou resultando em uma grande frustração, o desenlace com Villechaize teve outros desdobramentos, muitos, aliás, completamente inesperados. E não graças ao olhar do entrevistador – que não fez questão alguma em esconder que não estava interessado na ex-celebridade – mas, sim, por causa desse, que reconheceu ali uma oportunidade que há muito não batia em sua porta. Esquecido pela maioria, prestes a completar 50 anos, o artista que venceu toda e qualquer oposição e, mesmo quando todos lhe diziam o contrário, conseguiu fama e dinheiro, estava desesperado por alguém disposto a ouvi-lo mais uma vez e, finalmente, lhe permitir narrar a sua versão dos fatos. E foi isso, aparentemente, que ele fez. Um último desabafo antes da partida.
Se por um lado Peter Dinklage abraça o projeto de corpo e alma, literalmente transformando-se para dar vida à Hervé, mudando voz, cabelo e até postura – é muito provável que a última vez em que esteve tão bem foi em O Agente da Estação (2003) – para construir uma figura que temos desprezo e empatia na mesma medida, Jamie Dornan – o galã da trilogia Cinquenta Tons – confirma ser um intérprete de apenas um tom. Seja nas cenas que revelam seu passado de bebedeiras, ou já sóbrio, implorando para voltar para a esposa, e mesmo tendo lidar com as complicações do trabalho, ele parece estar sempre de cor de cabeça, de semblante fechado e sem paciência para lidar com tudo que se desenrola ao seu redor. É difícil acreditar que tenha sido ele o responsável por oferecer esse último holofote a um astro que tão desesperadamente ansiava por mais estes raros momentos. Mesmo a suposta sinergia que deveria existir entre os dois, a ponto de justificar a conexão que se estabeleceu entre figuras tão distintas – e que nunca haviam se visto antes – luta para se manifestar entre a falta de expressão deste, algo que fica ainda mais evidente frente ao talento gigante do seu diminuto colega.
E entre coadjuvantes desperdiçados – o sempre ótimo David Strathairn tem apenas uma passagem digna de nota, assim como um irreconhecível Andy Garcia, mas nada chega a ser tão constrangedor como o tratamento recebido pela personagem de Mireille Enos que, suponha-se, tenha sido a única verdadeira companheira de Villechaize – e uma estrutura bastante teatral – a grande maioria das cenas são internas, desperdiçando uma variedade de cenários – Hollywood, 007, Ilha da Fantasia, Londres, Los Angeles – que mereciam ser melhor explorados, o que se salva mesmo em Meu Jantar com Hervé é, de fato, a presença hipnotizando de Peter Dinklage, determinado a mostrar a tudo e todos que, ainda que sua jornada até este ponto tenha sido similar à do colega aqui retratado, ele está comprometido a alcançar um desfecho bastante diferente para si. Como curiosidade extra, cabe ainda uma análise, ainda que passageira, sobre como o politicamente correto, mesmo que em excesso possa ser sacal, trouxe muito mais ganhos do que perdas. Afinal, as minorias sempre estiveram por aí. Cabe a cada um enxergá-las – e dar a elas a visibilidade que merecem – ou não.
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