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Sinopse

Vagando pelas ruínas de uma cidade, o zumbi R é acometido das lembranças adquiridas do cérebro que consome. A partir disso, ele é tomado por um desejo desesperado de proteger uma garota humana.

Crítica

O maior problema de Meu Namorado é um Zumbi é... o fato de se chamar Meu Namorado é um Zumbi! A escolha infeliz da distribuidora brasileira para batizar seu lançamento no mercado nacional não tem absolutamente nada a ver com a complexidade que o original Warm Bodies (ou Corpos Quentes) pretendia alcançar. E ao invés de indicar que se trata de uma fábula sobre relacionamentos amorosos e, principalmente, humanos, nos dias de hoje e o que precisamos de fato fazer para nos sentirmos “vivos”, tudo o que se tem é mais um genérico da onda de tramas sobre mortos-vivos que vem assolando o universo pop nos últimos anos, desde os sucessos de Extermínio (2002) e Madrugada dos Mortos (2004), passando pela série de televisão The Walking Dead (2010-) e até mesmo o nacional Porto dos Mortos (2010), filmado em Porto Alegre e premiado internacionalmente. Mas tenha em mente: por maior que seja a má vontade contra o título, este é um filme que merece ser conferido.

Assim como Todo Mundo Quase Morto (2004), que tratava desta realidade pós-apocalíptica em tom de piada, Meu Namorado é um Zumbi (aaargh!!!) tem, em seu primeiro ato, uma pegada pop e irônica, desmitificando certezas do gênero. O protagonista é R (ele só lembra da primeira letra do nome), um zumbi que passa seus dias andando de um lado para outro, esbarrando em outros iguais a ele e, quando bate a fome, sai à caça de um humano ainda vivo que possa servir de refeição. Fatos importantes deste universo: além dos vivos e dos cadáveres, há ainda os esqueletos, que representam um terceiro estágio de decomposição, seres ainda mais selvagens e desprovidos de qualquer raciocínio, agindo apenas por instinto; ao matar um ser humano vivo, ele só morre de verdade ao ter o cérebro devorado, caso contrário irá retornar como um cadáver; o zumbi que se alimenta do cérebro de um vivo tem acesso às memórias e lembranças daquela pessoa.

Ao devorar o cérebro de Perry (Dave Franco), R entra em contato com os sentimentos do rapaz pela namorada Julie (Teresa Palmer), e acaba se interessando por ela. É aí que o filme muda, quando algo acontece que o impede de atacá-la – pelo contrário, ele irá fazer de tudo para mantê-la viva, disfarçando-a de zumbi, inclusive. Como essa sensação é nova – não possui nenhum registro de sua vida anterior à morte – tudo passa a ser inédito, até que perceba o inevitável: o amor está lhe dando, mais uma vez, a vida. E com o sangue pulsando mais uma vez em suas veias, ficará no meio de uma linha cruzada, pois se para os homens segue sendo um cadáver, para os esqueletos está se tornando alimento.

A atuação de Nicholas Hoult no papel principal é um dos destaques de Meu Namorado é um Zumbi. Depois de despontar ainda criança ao lado de Hugh Grant no emocionante Um Grande Garoto (2002), voltou a chamar atenção como o aluno de Colin Firth em Direito de Amar (2009), e depois como o Fera de X-Men: Primeira Classe (2011). Agora, mesmo com as expressões faciais limitadas – afinal, trata-se de um zumbi! – seu processo de volta à vida é nunca menos do que emocionante, e o ator dá conta desta responsabilidade com os olhos e com os pequenos gestos que tem à disposição, construindo um tipo bastante singular. Nem o geralmente competente John Malkovich – como um militar obstinado em eliminar a ameaça virulenta – consegue fazer frente ao talento do rapaz que está amadurecendo de modo muito interessante – ainda neste ano ele será protagonista do blockbuster Jack: O Matador de Gigantes, de Bryan Singer, enquanto que para 2014 marcará presença nas aguardadas sequências de Mad Max e X-Men!

Meu Namorado é um Zumbi até pode estar sendo vendido entre nós como uma comédia descerebrada, mas na verdade trata-se de um romance bonito e sensível, dirigido com competência por Jonathan Levine, que já havia tratado de um tema espinhoso com bastante perspicácia em 50% (2011). Crítico com a condição atual – afinal, já não estamos todos mortos se preferimos viver conectados num mundo virtual e esquecemos dos contatos físicos à nossa volta? – sem ser impertinente, brinca com os pequenos detalhes nessa luta por trazer a realidade de volta aos nossos corações. Afinal, o protagonista se chama “R”, que em inglês soa como “are” e que em português significa “somos”. Ou seja, estamos ou não vivos? É somente uma das muitas boas questões que esta inteligente história de amor levanta.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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