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Sinopse

A fim de manter seu ex-namorado longe, um jovem numa situação complicada utiliza as redes sociais para criar o perfil fake de um novo namorado que não existe. Mas, tudo muda quando ele conhece o grande amor de sua vida.

Crítica

A discussão a respeito da representatividade tem se mostrado cada vez mais vital na indústria do entretenimento, não apenas como causa social, mas também – e principalmente – por uma questão de sobrevivência. Afinal, com opções multiplicando diariamente na disputa por qualquer elemento que possa despertar interesse de uma fatia minimamente significativa de público, conversar com aqueles prontos a esse diálogo por uma ideia de suposta identificação pode despertar uma força insuspeita, mas de grande potencial. A sexualidade é um desses terrenos arenosos, visto suas diversas camadas de entendimento e quase infinitos desdobramentos. Também por isso, é necessário ter cuidado ao adentrar por essa seara, visto o risco de não apenas recair em lugares-comuns e desgastados, como também pela facilidade em se alcançar contornos genéricos que pouco – ou mesmo nada – tem a agregar ao tema. Meu Namorado Fake é uma comédia romântica que, de imediato, se mostra disposta a percorrer esse caminho, mas o faz por meio de tantos tropeços e suposições vazias que o que nela impressiona nem é o que alcança, mas o simples fato de cumprir sua jornada mostrando-se satisfeita em ser mais uma dentre tantas tão desprovidas de ideias ou repercussões como a que por aqui se verifica.

Para começo de conversa, o fato do protagonista ser gay é praticamente irrelevante. Tal constatação, para alguns, pode parecer positiva: afinal, é esperado o momento no qual a comunidade LGBTQIA+ deixará de servir apenas para alívio cômico ou destinada a um desfecho trágico, uma vez que a seus integrantes qualquer enredo ou desenvolvimento é possível de encaixe. Mas, diante de um outro ponto de vista, é sabido também que esses possuem características próprias, e essas não podem ser minimizadas ou mesmo esmaecidas em nome de um alcance mais amplo de sua mensagem. É quase como se, ao almejar a maior audiência possível, se tenha sacrificado justamente o que tornaria tal discurso único. Quando se mira o que mais em comum todos possuem, o resultado não é o extraordinário, e sim o oposto: a mediocridade. Tal qual é percebido pela reunião de interesses e motivações aqui não apenas presentes, mas também perseguidos pela forma como se opta a acompanhar o desenrolar dos eventos.

Andrew (Keiynan Lonsdale, de Com Amor, Simon, 2018) vive uma relação tóxica com Nico (Marcus Rosner, de Arrow, 2012-2018). Esse é o astro de uma telenovela popular, enquanto que o outro é o dublê que nunca mostra o rosto. Ansioso por um namoro verdadeiro, de troca e companheirismo, aquele acostumado com o anonimato é constantemente enganado pelo galã, que se mostra sempre em busca de uma nova conquista. Como é de praxe em situações como essa, ao menos na ficção hollywoodiana, invariavelmente há um melhor amigo por perto com um conselho a ser dado na situação mais improvável. Aqui, porém, diante da inversão de gênero, esse papel é preenchido não por um, mas dois desocupados de plantão (ou quase isso): o casal formado por Jake (Dylan Sprouse, de After: Depois da Verdade, 2020) e Kelly (Sarah Hyland, de Modern Family, 2009-2020). A impressão é que esses pouco tem com o que se ocupar apenas entre eles, pois passam a maior parte do tempo preocupados com os rumos e desencontros das escolhas amorosas do protagonista. A ponto de se meterem tanto em suas recaídas e desilusões que acabam gerando uma solução que mais irá trazer problemas do que solucioná-los: o tal namorado falso do título.

Para ser sincero, essa será uma ideia desenvolvida por Jake, e a ela será dada tanta atenção que por alguns instantes o espectador deverá ficar confuso a respeito de quem de fato essa história está interessada. Rose Troche, a diretora, não comandava um longa-metragem desde Encontros do Destino (2001), há mais de duas décadas. Desde então, tem trabalhado quase que exclusivamente em séries para televisão, e é essa a aparência de Meu Namorado Fake, como se fosse um episódio estendido de um seriado não muito original. Há pouquíssimas cenas externas, os cenários se repetem infinitas vezes e os enquadramentos remetem a uma evidente carência de imaginação. Essa suspensa de descrença, que exige ter como verossímil ambientes artificiais e comportamentos suspeitos, é levada a um novo patamar diante dos desdobramentos desse companheiro inventado, uma figura virtual que deveria servir apenas para provocar ciúmes do ex, mas que ao ganhar vida própria – se torna uma sub-celebridade online, ganhando milhares de seguidores e patrocínios aleatórios – se revela tão desprovida de personalidade quanto a própria cultura que se pretendia criticar. Uma oportunidade desperdiçada, portanto.

A introdução de um novo interesse romântico, feita de modo escancarado e sem a menor sutileza, não só antecipa o desfecho do que ainda está por acontecer, como também esvazia as repercussões éticas e morais das atitudes cometidas pelos personagens. É como se, independente dos feitos de cada um, o único a importar no horizonte é o almejado final feliz, custe o que for preciso. Enquanto isso, Lonsdale percorre seu caminho se portando mais como um popstar e menos como um intérprete (o que, provavelmente, era sua intenção), Hyland é desperdiçada através de um drama fugidio rapidamente resolvido e Sprouse lida de modo um tanto exagerado com a responsabilidade de roubar a cena a cada aparição, o que faz sem nenhum tipo de ameaça. E no fim, quando tudo o que lhes resta é dançar um nos braços do outro, o que fica escancarado é o quão artificial se mostrava o discurso, visto que nem mesmo aqueles que deveriam defendê-lo conseguem sustentá-lo até uma conclusão minimamente convincente. Em Meu Namorado Fake, a falsidade não está apenas na proposta, mas por toda a trama.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
3
Francisco Carbone
2
MÉDIA
2.5

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