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Crítica


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Sinopse

Rudy Ray Moore fez sucesso na década de 1970 em Hollywood com filmes do gênero blaxploitation. Nessas obras, o antes aspirante a celebridade colocou em cena seu alter ego Dolemite, cafetão especialista em kung fu.

Crítica

Rudy Ray Moore (Eddie Murphy) quer fazer parte do show business. Diante da relutância dos DJs, que não aceitam tocar suas músicas na rádio, ele parte a uma nova investida para ser tido como estrela. O protagonista de Meu Nome é Dolemite deseja ser famoso, mas o cineasta Craig Brewer não aposta num psicologismo para desenvolver essa obsessão pelos holofotes. O tom do longa-metragem é claramente mimetizado dos exemplares blaxploitation, corrente cinematográfica estadunidense surgida nos anos 70, na qual eram indispensáveis o protagonismo negro e a ambientação num universo repleto de estereótipos, tais como heróis badass, cafetões e prostitutas. Mas antes que adentre na seara da Sétima Arte, a trama mostra esse homem tentando de tudo para encontrar o seu lugar ao sol, nem que seja roubando piadas de mendigos, subornando-os com bebidas e uns trocados para extrair deles histórias jocosas que, unidas, dão num show e tanto.

Além da alusão ao blaxploitation, Meu Nome é Dolemite sobressai pela rica direção de arte que remonta a uma época característica, demarcada pela disseminação da iconografia própria à cultura afroamericana. Eddie Murphy parece talhado especificamente para o papel desse obstinado que segue adiante por conta de uma mistura singular de perseverança e ingenuidade. Sua atuação na rima, precursora do rap que adiante tomaria de assalto paradas de sucesso – Rudy é considerado oficialmente o padrinho do ritmo –, é devidamente colocada num patamar de imprescindibilidade ao desenvolvimento desse enredo em que o artista atinge finalmente o patamar de celebridade tão almejado. Lançando mão do material coletado na rua por meio de métodos eticamente discutíveis, ele logo se torna notório, ganha dinheiro, passa a ser reconhecido nas ruas. Mas não é o bastante para esse sonhador circunstancialmente encantado pela luz que emana do projetor.

Meu Nome é Dolemite ganha sabor quando basicamente detido sobre a engenharia do cinema. A produção do primeiro longa estrelado pelo sujeito conhecido em virtude de uma poesia sacana, esta amplamente consumida, sobretudo, pela comunidade negra das cercanias, é repleta de instantes sintomáticos dessa quimera esquizofrênica, metade arte, outra indústria. A falta de experiência compensada pela impetuosidade, os infortúnios técnicos, as gambiarras necessárias para sobrepujar problemas aparentemente insolúveis, tudo é devidamente posto na filmagem caótica. Entre as figuras secundárias, merece destaque todo especial o impagável D'Urville Martin, único ator conhecido da trupe, inclusive convencido a dirigir a empreitada. Ele é interpretado de forma hilariante por um Wesley Snipes afetado e histriônico, distante dos tipos agressivos comumente estampados por ele nas telonas. Pena que os demais coadjuvantes sejam meros penduricalhos.

Pode-se estabelecer um paralelo entre Meu Nome é Dolemite e Artista do Desastre (2017). Ambos são baseados em fatos e protagonizados por aspirantes a estrelas claramente sem talento para tal. Tanto Rudy quanto Tommy investem pesado em seus anseios, demonstram inclinação pela inocência, mas acabam triunfando quando as plateias ressignificam seus fiascos aventurescos/dramáticos ao "comprá-los" como comédias. Isso aponta para alguns questionamentos possíveis: o que determina a qualidade de um filme? Algo que permanece cultuado depois de décadas de seu lançamento, mesmo a contragosto da crítica, pode ser descartado como irrelevante? Porém, diferentemente de James Franco, que fomenta tais indagações em seu longa, Craig Brewer prefere deixa-las ao alcance somente do espectador mais curioso, pois a luz principal é direcionada à perseverança quase camicaze do personagem brilhantemente encarnado por Eddie Murphy.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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