Crítica
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Sinopse
Crítica
A narração em off é um artifício cinematográfico perigoso. Embora possa servir para aproximar o espectador da intimidade dos personagens, ela tende a ser utilizada como muleta. Uma vez que a voz de alguém “mastiga” situações e detalha sentimentos, por que a imagem e as outras camadas sonoras teriam de desempenhar função mais do que meramente expositiva? Em Meu Pai é um Perigo a cineasta Laura Terruso estica para além do limite do aceitável a narração em off de Sebastian (Sebastian Maniscalco) no começo do filme. Por meio desse recurso, ele revela ser filho de imigrantes italianos, namorado da herdeira de uma família de hoteleiros milionários, expõe o que sente pelo pai, divide conosco o quanto ama a namorada, confessa suas principais dificuldades, entre outras (numerosas) coisas. Prestes a pedir a amada em casamento, o rapaz consulta a opinião de seu pai, Salvo (Robert De Niro), a quem solicita o anel que se tornou relíquia familiar a fim de efetuar a proposta de matrimônio. O experimente e rabugento homem afirma ser necessário conhecer a família da pretendente. O que temos é o pretexto para um choque entre pessoas muito diferentes. Já vimos este filme inúmeras vezes, tanto que podemos prever com certa dose de certeza como tudo terminará – uma crise instaurada e que ameaça o relacionamento do personagem principal, tentativas de reparar a bagunça e um final feliz. É exatamente isso o que acontece. No entanto, a produção possui um trunfo bastante poderoso.
Amplamente reconhecido como um dos grandes atores da história do cinema, Robert De Niro tem numericamente mais papeis memoráveis no drama do que na comédia. Mas, há quem se pergunte os motivos que levam um intérprete desse calibre a se aventurar em tantas produções aparentemente valiosas apenas pelo escapismo – em geral, ele atua em comédias superficiais. Desempenhos como os de Meu Pai é um Perigo nos levam a lamentar que De Niro não tenha incursionado mais vezes pelo gênero. O astro abrilhanta o filme com o seu personagem tipicamente italiano, brincando consciente e habilmente com características atreladas aos ítalo-americanos que desbravaram a América em tempos de penúria na Europa. Num papel que cairia como uma luva ao falecido Walter Matthau, ele se mostra sempre desconfiado da autonomia do filho, repetindo como bordão a pergunta “quanto custa?” para, com isso, expor um traço cultural. Aliás, um dos méritos desse filme previsível e um tanto frouxo, no que diz respeito ao seu desenvolvimento, é o fato de ser perceptível uma atenção às discrepâncias fundamentais entre as famílias operárias e ricas dos Estados Unidos. Os futuros sogros de Sebastian são deliciosamente desenhados como caricaturas toscas de milionários que chegam ao cúmulo de defender a não precificação no cardápio como forma de evitar um protagonismo do dinheiro.
Por um lado, Laura Terruso tem Robert De Niro deitando e rolando ao compor um personagem carismático, turrão e, acima de tudo, adorável em sua teimosia. Por outro lado, sabota boas ideias, como essa dos privilégios burgueses que enfatizam a distância social, justamente, ao defender que é preciso parar de pensar em dinheiro. “Parar de pensar em dinheiro é morrer”, diz Salvo em resposta ao extravagante desprendimento dos ricaços. Porém, nada que vá além dessa réplica dita com ironia e pitadinhas de amargor. O enredo se torna um amontoado de situações que reivindicam autonomia – como se estivéssemos assistindo a esquetes sem um senso de unidade. Os dilemas de Sebastian ficam em segundo (ou terceiro) plano, pois a ênfase está em embates socioculturais costurados com pressa e pouco respeito ao amadurecimento de situações importantes e suas possíveis resoluções. Chega um ponto em que o subtexto do crescimento vinculado ao personagem de Sebastian Maniscalco fica ralo. Um sintoma disso é que o casal Sebastian e Ellie (Leslie Bibb) é geralmente subjugado pela importância de seus pais, nunca assumindo o real protagonismo da história. Há boas sacadas, cenas divertidas, mas falta ao filme uma sensação latente de que algo importante está acontecendo ou prestes a acontecer. A realizadora se contenta a seguir as orientações da cartilha desse tipo de obra e nada mais.
A futura sogra conservadora nunca é encarada como uma força bruta contrária – se era para ela exibir docilidade, porque coloca-la como senadora publicamente contrária aos imigrantes? A caricatura dos irmãos (um o riquinho e o outro o “desconstruído”) funcionam de saída, mas depois servem apenas para enfileirar deixas. Ellie é uma personagem desinteressante, pois sua positividade artificial sequer é enxergada no filme como sintoma de alguma coisa. Já Sebastian vale pelas boas cenas interagindo com o pai, o homem por quem nutre admiração, mas também de quem sente um tipo recorrente de embaraço. Se Laura Terruso tivesse apostado um pouco mais na força do nonsense para sublinhar os estilos tão diferentes de encarar a vida talvez o resultado fosse menos genérico. Quem salva Meu Pai é um Perigo de ser estritamente mais do mesmo na “fila do pão” é exatamente Robert De Niro, ator de habilidade cômica evidente, capaz de tornar interessante o mais surrado dos papeis e engrandecer algo sem tanta personalidade. Falta à produção a presença de espírito abundante na cena em que pai e filho enterram um cadáver na floresta, com isso aludindo a um lugar-comum dos mafiosos. E, o que mais se destaca em Salvo Maniscaldo é o fato de ele carregar diversas características autênticas da ascendência italiana, vide a relação a com o dinheiro, a alergia a riscos e a dificuldade para expressar carinho.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 4 |
Alysson Oliveira | 4 |
Francisco Carbone | 1 |
MÉDIA | 3 |
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