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Sinopse

Marcos se vê obrigado a retornar da Itália para o Brasil depois de muitos distante de sua terra natal por conta de um derrame sofrido por seu pai. E nessa viagem ele reencontra Tiago, seu irmão mais novo, com quem tem pouca afinidade. Juntos eles descobrem Manuela, irmã que ambos desconheciam.

Crítica

Qual é o nosso país? É o lugar onde nascemos, ou onde nos encontramos? Essa é a grande questão levantada pelo diretor André Ristum em seu longa de estreia, Meu País. Apesar do título ambicioso, este é um filme muito mais sutil e discreto, que trabalha com personagens e seus sentimentos, as emoções que surgem entre eles e as consequências por elas provocadas. Não espere grandes reviravoltas, acontecimentos marcantes ou surpresas inesperadas. A ação aqui é muito mais interna do que exterior. E ao contrário do que possa parecer, esse é um fato positivo.

No começo de Meu País acompanhamos Armando (Paulo José, em participação especial) em seus últimos momentos de vida. Com a morte do patriarca, é preciso que a família se una, e isso significa a vinda do filho mais velho, Marcos (Rodrigo Santoro, em mais uma atuação de destaque), do exterior. Ele, um homem de negócios de sucesso, mora em Roma e está casado com uma italiana, o que nos leva a crer que está ali há alguns anos. Como é de praxe em qualquer trama do gênero, o reencontro com o irmão mais novo, Tiago (Cauã Reymond, sem fugir muito do estereótipo frágil rebelde), não é dos mais simples. Já em São Paulo, três fatos levam Marcos a adiar sua volta à Europa: as empresas da família estão de mal a pior, Tiago é viciado em jogo e possui uma grande dívida e, pra completar, surge uma irmã (Debora Falabella, numa composição delicada e precisa) que desconheciam, fruto de um caso extraconjugal do pai, que pra completar possui um tipo de deficiência mental, exigindo constantes cuidados.

Como defende Ristum, Meu País não é um filme para se ver, e sim para se sentir. Ou seja, não há muito impacto com o que é dito ou mostrado, e sim no que é vivenciado, sentido. Temos em cena uma família aos pedaços, desintegrada e que há muito não se reconhece em si mesma. A jornada experimentada em cena é o caminho da união, como esses personagens irão se reencontrar, se redescobrirem. Um processo, obviamente, nada fácil, mas igualmente recompensador. E também muito bonito de ser visto, pois proporciona ao espectador algo cada vez mais raro: a oportunidade de refletir, de se colocar na pele daquelas pessoas e de se questionar como reagir em cada situação exposta. Há certo ou errado ou tudo não passa de uma grande confusão entre estes dois extremos? Elementos presentes tanto nos embates presenciados na tela quando no interior de cada um na plateia.

Meu País teve sua première nacional durante o Festival de Paulínia, de onde foi um dos únicos concorrentes a sair de mãos abanando, sem um único prêmio. Uma grande injustiça corrigida pelo júri do Festival de Brasília, que meses depois reconheceu esse sensível trabalho com 5 candangos, entre eles os de Melhor Direção, Melhor Ator para Santoro e Melhor Filme segundo o público. E chega a ser curiosa essa consagração logo na capital federal, pois este é um filme que não fala do Brasil especificamente – apesar do título passar essa ideia de início – mas de um sentimento muito mais pessoal e individual. Trata-se de uma obra universal, que deverá se sair bem em qualquer parte do mundo, diante qualquer audiência – seja ela brasileira, italiana, coreana ou africana. Em tempos globalizados como os nossos, nada melhor do que falar das coisas simples para conquistar o mundo.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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