Meu Tio e o Joelho de Porco
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Rafael Terpins
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Meu Tio e o Joelho de Porco
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2018
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Um menino passa a ter contato com o fantasma do tio depois que acha o diário do pai recém-falecido. A aparição leva o garoto para o cenário do punk paulistano e conta como a cena atual foi influenciada por uma irreverente banda do passado chamada Joelho de Porco, da qual ele e seus amigos faziam parte.
Crítica
Por 28 anos, existiu no Brasil uma banda chamada Joelho de Porco. Provavelmente, os mais novos não a conheçam. Quem sabe, alguns na faixa dos 30 anos saibam do que se trata. Criado nos anos 70, o conjunto liderado por Tico Terpins passou três décadas de rock nacional entre várias formações, participações especiais, polêmicas e muita, mas muita história para contar. Não à toa, o documentário Meu Tio e o Joelho de Porco, realizado por Rafael Terpins, sobrinho de Tico, é extremamente curioso ao seguir uma linha narrativa que mistura imagens de arquivo, depoimentos de ex-membros, amigos, familiares e também certo dado de ficção, que surge na viagem de carro pelas ruas de São Paulo do diretor e de seu tio – em animação stop motion.
No rol de entrevistados estão o baixista Rodolfo Ayres Braga, o vocalista Próspero Albanese e o outro vocalista e ator Dick Petra, além de produtores, amigos próximos e duas ex-esposas de Tico, falecido em 1998 devido a um ataque cardíaco fulminante. Um ponto que fica no ar é a participação de Billy Bond, argentino que tomou conta dos microfones da banda na ausência de Próspero (inclusive, ele é um dos que mais fala sem papas na língua). Bond não quis participar do filme (as cenas de arquivo em que aparece são borradas), mas mandou um e-mail educado para a produção, documento lido em certo momento pelo próprio Rafael.
A banda era totalmente independente. Inclusive foi a precursora dos álbuns gravados e lançados sem estúdio (eles levaram um dos produtores à Polícia Federal), além de ser inspiração para a maior parte dos grupos musicais que viriam a se tornar famosos por seu lado cômico – inclusive Mamonas Assassinas. Sem medo de rótulos (inclusive agregando vários), Tico e seus companheiros de jornada fizeram sucesso num circuito que hoje parece relegado a espaços de nicho no Brasil. Sua irreverência é pontuada diversas vezes no longa, seja na parceria em shows de músicas sobre “lamber o cu” ou até episódios famosos, como as duas vezes em que o Joelho de Porco fugiu, ao vivo, de apresentações dominicais na TV Gazeta. Talvez por esses fatos excêntricos, a banda nunca tenha chegado à popularidade nacional que os tornasse inesquecíveis à maior parte da população até hoje.
Como o título faz questão de salientar, ainda que a história da banda seja o fio condutor temporal da narrativa, o que pesa mais para o diretor é esmiuçar a personalidade do tio. Num dos depoimentos de Jane Gaspar, primeira esposa de Tico, ela conta um causo no mínimo engraçado. Ao fim de um dos shows da banda, um povo se reuniu para bater no músico. “Ele botava um saco de compra na cabeça, com dois olhos, e a gente saía. Eu e um saco de compra de smoking”, ela se diverte ao narrar. Talvez por momentos como esse, em que a figura excêntrica do fundador é exposta, seja compreensível entender que aquela criatura maluca dos palcos não era diferente do homem. Uma assinatura de autenticidade que nem todos têm na história do rock.
Ao compor um mosaico com tantas facetas e relatos, Rafael Terpins mostra que sua admiração pelo tio vai além da “cegueira”, o que permite um documentário que reverencia, mas também questiona as atitudes de Tico. Mais ainda: serve de importante ferramenta história, não apenas do Joelho de Porco, mas de todo o panorama dos roqueiros brasileiros em sua fase áurea, quando o discurso político sobressaía nas letras, quer fossem elas sérias ou puro escárnio. Além de tudo, encerra com um toque pessoal, dramático, mas longe do piegas, sobre as lições que o sobrinho aprendeu com o tio – especialmente em relação à saúde. Se havia o temor de que uma aproximação entre realizador e obra fosse causar danos ao trabalho, Terpins mostra maturidade na condução narrativa. E a torcida que fica é a de outras produções do mesmo naipe para o futuro.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Matheus Bonez | 8 |
Robledo Milani | 6 |
Francisco Carbone | 6 |
Filipe Pereira | 8 |
MÉDIA | 7 |
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