Crítica
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Sinopse
Em meio a uma crise existencial, uma cineasta precisa lidar com a iminente morte da mãe enquanto luta para rodar seu mais novo filme.
Crítica
Diretora de cinema, Margherita (Margherita Buy) está às voltas com a produção de seu novo filme, um drama centrado na luta de trabalhadores pela manutenção dos empregos. Enérgica quando algo não sai conforme sua vontade, ela precisa encarar as próprias impotências, que emergem quando sua mãe adoece e fica prostrada numa cama de hospital. Diante da provável morte desse ente querido, ela vê desafiada sua (falsa) noção de que pode controlar tudo, de que as decisões estão estritamente em suas mãos. Margherita se defende desses demônios particulares, da incapacidade de manter relações baseadas na troca, sendo cartesiana e intransigente. Os boletins médicos desfavoráveis minam a autoconfiança dela pouco a pouco, expondo vulnerabilidades até então submersas. Mia Madre é essa mulher se descobrindo em meio ao processo doloroso da iminente despedida e dos recomeços necessários.
Diretor e intérprete de Giovanni, irmão de Margherita, Nanni Moretti novamente volta suas lentes à família, ao emaranhado de relações parentais que dizem muito sobre quem somos e por que agimos de determinadas maneiras. Seu papel em frente às câmeras é pequeno, discreto, porém essencial, um contraponto de serenidade ao turbilhão de contradições e sentimentos que arrebatam a protagonista. Sempre que Margherita ameaça desmoronar, seja diante da convalescência da mãe ou das dificuldades encontradas no set, é Giovanni que lhe acalma, mostrando haver outras possibilidades, mesmo quando a situação parece caótica demais. Fragilizada, com os nervos à flor da pele, a diretora comete erros de julgamento, entregando-se ao estresse como se ele, ao invés de sintoma, fosse um dano laboral presumido, coisa de quem precisa tomar decisões difíceis e cuidar de muitas coisas.
Barry Hughins (John Turturro), ator norte-americano da produção que Margherita roda, um cara boa praça, se esforça para atuar em italiano, algo difícil a alguém cujo idioma nativo é anglo-saxão. Aliás, a língua é um fator simbólico importante em Mia Madre. O latim, língua morta, contudo basilar a tantas outras ainda vivas e pulsantes, é ensinado pela matriarca adoentada e estudado por sua neta, assim perpetuando-se como herança não somente intelectual, mas, sobretudo, afetiva. Margherita, por sua vez, cobra aprendizado e incentiva a instrução, mas se coloca à margem, não tomando partido além do que a posição a obriga. Esse isolamento vem à tona com violência na cena do desespero dela por não encontrar a conta de luz na casa da infância. Ali constata que, enclausurada em si mesma, está alienada dos demais, isolada voluntariamente em prol de uma individualidade que tampouco lhe traz felicidade.
A debilidade da mãe expõe as fraquezas emocionais da filha. A insegurança é um sintoma das preocupações de Margherita com o futuro. Ela percebe ter deixado de prestar atenção aos detalhes, aos sinais, às vezes mínimos e praticamente imperceptíveis, que deflagram, entre outras coisas, anseios e limitações de quem está ao redor. Portanto, Margherita se sabota enquanto artista e pessoa, já que o cinema e a vida são construções coletivas, às quais os laços são imprescindíveis. Neste filme, Nanni Moretti abdica do humor, componente tão presente em algumas de suas realizações, estreitando o foco numa personagem atingida em cheio pela gradativa consciência da própria fragilidade. Não há redenções fáceis, arrependimentos instantâneos, nem transformações milagrosas, apenas a vontade de melhorar e a ciência de que o tempo é um aliado, não carrasco, nesse difícil processo.
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