Crítica
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Sinopse
Um grupo de fanáticos cultua um garoto que possui habilidades especiais e é perseguido pelo governo. O jovem acaba sequestrado por duas pessoas bastante conhecidas que, em princípio, desejam tirá-lo do meio dessa confusão. Porém, aos poucos, os verdadeiros motivos são revelados.
Crítica
Jeff Nichols assinava apenas três longas-metragens e já era incensado como um dos mais autorais e empolgantes cineastas norte-americanos contemporâneos. Seus filmes justificavam o êxito: Separados Pelo Sangue (2007), O Abrigo (2011) e Amor Bandido (2012), que em comum exploravam as paisagens sulistas dos Estados Unidos em dramas realistas e íntimos. Sua abordagem discreta retorna em Destino Especial, um delicado conto sobre paternidade e fé que reitera (e amplifica) todo o mérito deste jovem realizador.
Ator preferido de Nichols e que está em todos os seus filmes, Michael Shannon interpreta Roy, que, ao lado do amigo de infância Lucas (Joel Edgerton), é perseguido pela polícia e acusado de sequestro. A vítima, no entanto, é o filho biológico de Roy, Alton (Jaeden Martell), que até então era mantido como objeto de culto em uma estranha comunidade administrada pelo pai adotivo do garoto, o “pastor” Calvin Meyer (Sam Shepard). O destino dos fugitivos é incerto, mas logo fica evidente que Alton – sempre escondido atrás de seus óculos de natação – é uma criança excepcional e com habilidades supernaturais, que atraem a atenção não apenas da comunidade de Meyer, que acredita que o menino é seu salvador, mas também o governo norte-americano.
Em fuga, Roy logo encontra a mãe do garoto, Sarah (Kirsten Dunst), que oferece suporte e completa a família disfuncional que se desventura entre motéis baratos, estradas noturnas e postos de gasolina. O ritmo do filme é destacado neste constante movimento, na intenção dos adultos protegerem a criança enquanto, involuntariamente, encontram grandes obstáculos e perigos em sua jornada. A experiência do espectador em Destino Especial é apenas completa e satisfatória se ele não sabe muito além do descrito acima. Nichols posiciona seu roteiro numa narrativa que está sempre à frente de sua audiência, enquanto os mistérios ao redor da trama são gradualmente revelados e flertam com um realismo fantástico dificilmente desenvolvido com tal equilíbrio no cinema que se dedica a ele.
Adam Stone, colaborador habitual do cineasta, compõe a fotografia meticulosamente executada de Destino Especial, numa atmosfera quase palpável e nostálgica completa pela trilha sonora sombria de David Wingo – esta que guarda referências explícitas ao cinema de John Carpenter e Dario Argento. A ambientação oitentista e o enredo inocentemente misterioso remetem ao Steven Spielberg de E.T.: O Extraterrestre (1982) e Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), numa roupagem que é menos homenagem – como foi Super 8 (2011) – e mais reinvenção.
Em sua quarta colaboração com Nichols, Michael Shannon, que também integra o elenco do próximo filme do cineasta, Loving (2016), apresenta outra interpretação marcante e de entrega como o perturbado pai deste garoto, movido mais do que tudo por amor e dedicação. O pequeno Martell demonstra versatilidade para um papel difícil, enquanto Edgerton e Dunst desaparecem atrás de performances complexas e enraizadas nos conflitos de seus personagens. O longa, de elenco irretocável, ainda conta com as célebres e importantes participações de Shepard, Adam Driver e Paul Sparks.
Emocional, cativante e, acima de tudo, surpreendente. Destino Especial termina com o mais intrigante dos possíveis finais e permanece além de sua sessão, em possíveis reflexões acerca de temas muito mais reais que ficcionais. Ponderadamente executado e narrado, eis uma ficção científica que faz valer a esperança em um gênero cada vez mais marginalizado – aqui engrandecido por um visual deslumbrante e pelas explicações nunca concedidas que somam ao inegável talento de seu cineasta.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Conrado Heoli | 8 |
Francisco Carbone | 8 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 7.3 |
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