Crítica
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Sinopse
Dani é uma jovem depressiva, atravessando um momento difícil no relacionamento com Christian. Contra a própria vontade, ele aceita levá-la junto com alguns amigos a uma viagem para a Suécia, onde pretendem visitar uma comunidade conhecida por seus rituais únicos. Para os colegas antropólogos, esta é a oportunidade de encontrar um bom tema para a tese, mas para ela, a fuga para um campo ensolarado pode servir como bom remédio para superar uma tragédia familiar.
Crítica
É curioso o subtítulo escolhido no Brasil para o segundo longa do diretor e roteirista Ari Aster. Afinal, além de poético e supostamente enigmático, vai diretamente de encontro a uma verdade que os mais atentos não tardarão a reconhecer na trama de quatro amigos dos Estados Unidos que, convidados por um colega sueco, vão até a terra natal desse para participarem de um festival de verão e na sequência perceberem que se meteram numa tremenda furada. Afinal, tudo é posto de forma bastante evidente, e, em mais de uma ocasião, é dito literalmente com todas as letras, antecipando o que irá acontecer em seguida. Resta ao espectador, portanto, acreditar de antemão, antecipando uma obviedade incômoda e desnecessária, ou seguir descrente, apenas para ser traído mais adiante. Midsommar: O Mal Não Espera a Noite entrega exatamente o que promete, sem mais nem menos. A surpresa, aqui, fica restrita aos descuidados ou ingênuos.
Dani (Florence Pugh, uma das grandes atrizes de sua geração) passou recentemente por uma tragédia de perturbadoras proporções: a irmã, bipolar, resolveu se suicidar, levando os pais das duas consigo. A jovem, agora, tem apenas o namorado para se consolar. O problema é que Christian (Jack Reynor) é um homem fraco. Cansado da montanha-russa emocional que a garota lhe oferece, está indeciso entre seguir oferecendo o apoio que ela necessita ou simplesmente jogar tudo para cima e voltar a aproveitar a vida de solteiro. Os amigos já decidiram por ele, e não aguentam mais suas reclamações. Mas lhe falta a convicção. E agora, diante do estado frágil em que a garota se encontra, tudo lhe parece ainda mais improvável. É por isso que, quando ela descobre que ele e os colegas estão pensando em viajar até a Suécia dali duas semanas, sua primeira reação será a de espanto, para logo em seguida decidir aproveitar essa oportunidade de mudança. Vai ser bom para ela. Vai ser bom para ele. Vai ser bom para os dois. Ou não.
É importante um minuto de respiro para se analisar esse grupo. Josh (William Jackson Harper, da série The Good Place, 2016-2019), está em busca de material para sua tese de doutorado, e tem um objetivo bem determinado com a viagem. Mark (Will Poulter, de Família do Bagulho, 2013) é o típico adolescente que esqueceu de crescer e tem como única preocupação as possíveis conquistas femininas que poderá fazer em território a ser desbravado. Dani e Christian, aos trancos e barrancos, tentam se acertar. Resta, portanto, Pelle (o estreante Vilhelm Blomgren). É ele quem convida – e termina por convencer – os demais. Quando a nova companheira se anuncia, é o único a apreciar a ideia de imediato. Mas não por um interesse romântico passageiro. Como irá declarar pouco tempo depois, se vê como um peregrino de sua comunidade, e uma das suas funções é atrair os melhores por onde passa. Ele está à caça, portanto, por mais dissimuladas que sejam estas intenções. E se esta é a sua intenção, quanto mais, melhor.
Ao chegarem neste descampado em que se comemora o solstício de verão, em pleno sol da meia-noite – veja bem, estão em um lugar onde a escuridão nunca se faz presente e, portanto, tudo precisa ser feito às claras – na primeira parada enfrentam as consequências de uma experiência alucinógena que não funciona muito bem. Esta é a antessala para o inferno que está por vir, mas os avisos serão constantemente ignorados. Independente do lado da tela onde se esteja, não há motivos para não se por em alerta. No entanto, o cineasta tenta a todo instante criar, seja pela trilha sonora redundante ou pela fotografia reincidente, uma atmosfera em que a irrealidade dos fatos possa ser vista do modo mais natural possível. Esse desprendimento, no entanto, não só é falho, como se mostra também incapaz de situar o espectador diante de tantos e seguidos absurdos. O apreço pelo escatológico, já visto no trabalho anterior do realizador – o superestimado Hereditário (2018) – aqui volta a ocupar espaço. E assim como antes, mais como ferramenta de impacto, e menos como elemento narrativo.
Transitando entre o grotesco e o revoltante, Ari Aster faz de Midsommar: O Mal Não Espera a Noite um estudo sobre a maldade, travestido de histeria religiosa e xenofobia cultural. Diante de uma legítima atrocidade, que faria qualquer um fugir dali o quanto antes, um personagem argumenta: “nós também fazemos coisas estranhas, como colocar idosos em asilos, que podem ser vistas como excentricidades para os daqui”. Confunde, portanto, descaso com violência. Os recém-chegados começam a desaparecer, um a um, e ninguém parece dar a devida importância. O sexo, ao invés de arriscado ou celebratório, ganha ares de culpa e penalização. Tudo está errado, mas há um esforço desproporcional para que soe como normal. Não é preciso ter visto o perturbador O Homem de Palha (1973) – ou mesmo o remake O Sacrifício (2006), com Nicolas Cage – para adivinhar como tudo irá acabar. A longa duração, a maneira robótica como os personagens se comportam ou o desenrolar sonolento da trama, ao invés de colaborarem com uma ambientação soturna, servem apenas para esgotar a paciência dos minimamente interessados. E os demais, que ainda se surpreendem com a subversão dos fatos, acreditando que a ausência de um desfecho feliz é suficiente para ir contra a lógica hollywoodiana, mal percebem que é justamente nesta inversão de valores em que se deposita a estrutura percorrida. A armadilha está armada. Quem será tolo de ser pego por ela?
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