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Sinopse

Três amigas na casa dos 40 anos estão insatisfeitas com suas vidas enquanto tentam lidar com as dores do coração. Então o trio decide se aventurar no sul da França, onde acabam se envolvendo com homens mais jovens.

Crítica

MILF é um acrônimo em inglês que significa Mom I'd Like To Fuck (numa tradução livre e sem eufemismos: mães que gostaríamos de foder). Muito comum para designar vídeos pornográficos/eróticos em que atrizes contracenam com parceiros mais jovens ou a fim de sinalizar o fetiche por ter relações sexuais com mulheres mais velhas, aqui ele serve de título a essa comédia francesa. Na trama, Cécile (Virginie Ledoyen) convida suas melhores amigas, Sonia (Marie-Josée Croze) e Elise (Axelle Laffont, também a diretora do filme), para ajuda-la a esvaziar a propriedade litorânea à venda após a morte do seu marido. Se aproximando da casa dos 50 anos, as três vivem situações relacionais distintas. Além da viúva recente, há a solteira de espírito livre e a amante resignada. No fim das contas, as diferenças não importam tanto, sobretudo depois que elas começam a ser cortejadas por rapazes que trabalham num clube. Sobressai positivamente em Milf a ousadia de alguns momentos claramente despudorados, mas não tanto ao ponto de justificar a classificação etária de 18 anos.

A câmera de Axelle Laffont se demora com lascívia nos corpos desnudos à beira-mar, valorizando curvas femininas e masculinas. Pena que esse erotismo fique restrito a instantes específicos de sedução, não servindo como elemento para temperar a intensidade dos relacionamentos que se formam gradativamente. A grande fragilidade de Milf é justamente Cécile, a enlutada que muda de comportamento de uma hora para outra, sem que haja uma coerência nessa volatilidade. Numa cena, decide ficar em casa montando interminavelmente alguns quebra-cabeças, atolada em autocomiseração. Logo adiante, vira artificialmente uma chave interna e é capaz de surrupiar sorvete e revelar-se impetuosa. Eventualmente, ela apresenta uma visão preconceituosa do relacionamento entre pessoas com considerável diferença de idade, sustentando um posicionamento conservador. Imediatamente depois, morde a língua. Porém, a contradição surge mais como mera mudança abrupta do que necessariamente enquanto indício da impossibilidade de controlar sentimentos como o desejo.

Permanecendo no meio do caminho entre mergulhar na lógica das comédias de férias de verão ou assumir uma posição menos inocente, Milf passa batido por controvérsias pontuais. Paul (Waël Sersoub), o candidato a gostosão do filme, chega a falar numa conversa informal: “usou saia, eu ataco”, isso após ser repreendido por mencionar atração por uma menina de cerca de 12 anos. Subsequente a isso, Céline liga para sua filha, que tem aproximadamente a mesma idade e está acampando naquela hora, alertando-a para ficar longe dos instrutores e avisar se alguém insinuar algo estranho. A tentativa de fazer graça é solapada pela ausência de um viés crítico. Diferentemente das vezes em que alguma das protagonistas rebate manifestações imaturas dos parceiros imberbes, o episódio não é observado como contendo matéria reprovável ou meramente entendido para além da zoeira de ocasião. A mão pesada igualmente é sentida na exagerada inocência juvenil, traço encontrado principalmente em Julien (Matthias Dandois), o que acredita que toda mulher goza "esguichando".

O desenho dos envolvimentos segue um esquema. Dos três, o que demora a engrenar é o provavelmente capaz de gerar frutos, apesar das interdições sociais. O livre, aproveitado abertamente, tende a resultar numa desilusão não necessariamente atrelada às convenções. E o intermediário acaba servindo como recomeço a uma das partes. Outra coisa objetável em Milf é a maneira jocosa com a qual todos se referem à Christine (Florence Thomassin), reduzindo-a ao fato de usar calças apertadas que marcam seus lábios vaginais. A existência de Louise (Jéromine Chasseriaud) também puxa a corda no sentido contrário ao da valorização da posição feminina liberal. Trabalhadora de uma boate, ela é confinada no estereótipo da jovem que comete desatinos por conta de ciúmes. Lastimável que num filme com lampejos de arrojo a realizadora recorra a um expediente rançoso, tal como a mulher determinada pela luta por um homem. No mais, o cenário paradisíaco e a eficiência do elenco para interpretar as figuras desejosas (ou em processos de cura) sustentam o interesse.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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