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Sinopse

Um grupo de mulheres casadas com oficiais militares decide se unir para formar um coral. À medida que a inesperada amizade entre elas se desenvolve, a música e o riso transformam suas vidas, enquanto ajudam umas as outras a superar o medo pelos entes queridos em combate.

Crítica

Desde meados da década de 1990, os britânicos têm demonstrado um gosto particular por um tipo de comédia, geralmente baseada em histórias reais, protagonizada por grupos de pessoas comuns unidas por algum tipo de atividade coletiva inusitada em prol de um objetivo maior: dos operários desempregados que se tornam strippers em Ou Tudo ou Nada (1997), passando pelas damas que decidem posar nuas em Garotas do Calendário (2003), até os homens de meia-idade que formam uma equipe de nado sincronizado em Nadando com os Homens (2018). Ainda que a prática escolhida por suas personagens seja mais convencional – a música – Unidas pela Esperança apresenta basicamente todos os elementos dessa fórmula tão familiar ao diretor Peter Cattaneo, responsável pelo citado, e multipremiado, Ou Tudo ou Nada. Na trama, as esposas dos oficiais militares de uma base inglesa, enviados em nova missão ao Afeganistão, decidem criar um coral para passar o seu tempo livre, algo que acaba gerando uma repercussão muito maior do que o esperado.

Como líderes do grupo estão duas mulheres de personalidades antagônicas. Kate (Kristin Scott Thomas), metódica, disciplinada e controladora, e Lisa (Sharon Horgan), de postura muito mais despojada e que vê os encontros entre as mulheres como momentos de fuga para se divertir, jogar conversa fora e beber. Obviamente, a visão de ambas a respeito do coral também se mostra divergente, com a primeira encarando a empreitada com total rigor, levando aos ensaios partituras de músicas eruditas, enquanto a segunda acredita em uma atividade descompromissada, na qual as amigas possam cantar aquilo que lhes traga prazer e que as façam sentir-se confortáveis, como canções pop dos anos 1980. Com a ideia de Lisa conquistando a maioria, o longa ganha um de seus poucos fatores diferenciais, presente nas versões criadas pelo coral para hits radiofônicos como “Shout”, do Tears for Fears, “Only You”, do duo de synth-pop Yazoo – que embala a bela sequência com as mulheres reunidas sob a ponte – e “Time After Time”, da cantora Cyndi Lauper.

Tais sucessos pontuam uma narrativa que segue sem maiores surpresas, com a descoberta de uma solista mais talentosa, a evolução nos ensaios, o destaque inesperado que atrai a atenção da alta patente militar, a primeira apresentação em público até o convite para um desafio maior. Tudo seguindo as convenções das sagas “musicais amadoras” hollywoodianas, de Mudança de Hábito (1992) – citado nominalmente – a Escola de Rock (2003), e até mesmo de exemplares locais, como Um Toque de Esperança (1996). Além das canções escolhidas, o que realmente garante o interesse dessa jornada são as atuações, não apenas das ótimas Scott Thomas e Horgan, que dão graça aos atritos de suas personagens, mas também de todo o elenco coadjuvante. Ainda que seus arcos individuais – exceção feita à jovem Sarah (Amy James-Kelly), recém-chegada à base – sejam bastante superficiais, todas funcionam como alívios cômicos pontuais e estabelecem uma dinâmica coletiva sincera e cativante.

Por meio dessa abordagem, na qual os personagens masculinos tem participação discreta – como o marido de Kate ou o simpático oficial vivido por Jason Flemyng – Cattaneo dá voz e protagonismo a essas figuras que muitas vezes ficam relegadas às sombras de seus companheiros, e companheiras, e que sentem a dor da ausência e o temor da tragédia sempre à espreita – a cada telefonema ou toque da campainha. Contudo, o peso dessa “temática importante”, incluindo também o debate acerca da validade dos envios de tropas militares a conflitos como o descrito no longa, recai sobre o diretor, que, especialmente no ato final, não resiste a lançar quase todas as armadilhas sentimentais possíveis na busca pela emoção forçada e pelas lágrimas fáceis, indo de encontro à naturalidade até então construída.

Os dramas particulares das protagonistas de Unidas pela Esperança (o relacionamento conturbado de Lisa com a filha adolescente e o enfrentamento do luto de Kate pela perda do filho, morto em combate) geram conflitos que se elevam e fogem do tom. Um descompasso sentido em sequências como a discussão no estacionamento antes do embarque no ônibus. Tendo ainda a necessidade de entregar o grande clímax musical, Cattaneo resolve tais conflitos de modo apressado, sem tempo para que sejam devidamente digeridos e prejudicando até mesmo o poder de catarse edificante do desfecho. Força que busca recuperar com a cena de celebração coletiva – com a já batida utilização de “We Are Family”, do grupo Sister Sledge, como trilha sonora –, além das imagens reais dos corais de esposas de militares. Uma tentativa sem o sucesso esperado, já que, carecendo do fator surpresa e da consistência de seu Ou Tudo ou Nada, desta vez, Cattaneo entrega uma obra previsível e apenas moderadamente divertida.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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Grade crítica

CríticoNota
Leonardo Ribeiro
5
Alysson Oliveira
6
MÉDIA
5.5

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