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Sinopse

O jornalista Mikael Blomkvist e a hacker Lisbeth Salander se veem em meio à uma teia de corrupção, espionagem e intriga internacional.

Crítica

Para quem conhece previamente Lisbeth Salander, hacker hiperestilosa e soturna, uma das principais figuras da saga Millenium – anteriormente interpretada nos cinemas por Noomi Rapace e Rooney Mara –, sua nova encarnação é, no mínimo, sintomática das intenções de Millennium: A Garota na Teia de Aranha. Vivida agora por Claire Foy, ela perde o senso de letalidade, o mistério e a perspicácia temperada por uma sensualidade latente, virando um decalque de justiceira, uma quase super-heroína que defende mulheres abusadas por seus companheiros. Aliás, o cineasta Fede Alvarez parece fazer uma espécie de vestibular para, adiante, pleitear a direção de um exemplar centrado em seres de poderes e/ou capacidades excepcionais. O longa-metragem se fundamenta no retorno de uma considerável nódoa do passado, encarregada de colocar a vida de Salander em risco. O tom forçosamente dramático, com frequentes flashs do outrora marcado pela tragédia familiar, torna tudo previsível e banal. Millennium: A Garota na Teia de Aranha arquiteta um supostamente intrincado labirinto para adensar a sensação de encurralamento. Lisbeth está às voltas com um trabalho secreto, cujo alvo é uma protegida instituição norte-americana, lar de um software capaz de controlar armamentos nucleares mundo afora. Em meio a perseguições genéricas, com improbabilidades ganhando espaço e, portanto, diminuindo a incidência da lógica, ela faz contato com seu velho conhecido Mikael Blomkvist (Sverrir Gudnason), personagem, aqui, completamente descartável. O vislumbre da melancolia do jornalista diante da venda de sua revista é insuficiente para substanciar esse tipo tão emblemático nos livros/filmes anteriores. Há uma tentativa de conferir-lhe espessura com o apontamento de uma nova era profissional, em que a quantidade de curtidas e comentários mede o valor de quem escreve. Todavia, é uma observação tão jogada a esmo na trama que faz nenhuma diferença, sendo irrelevante. Outro prescindível em Millennium: A Garota na Teia de Aranha é o agente estadunidense Edwin (Lakeith Stanfield), que participa ativamente da ação apenas na sequência final. Assim como Blomkvist, ele é utilizado pelo realizador como mero instrumento, menor diante dos fantasmas que voltam para assombrar Lisbeth. Diferentemente de Noomi Rapace e Rooney Mara, Claire Foy carrega um semblante de sofrimento visível, não construindo a essencial camada de suposta impenetrabilidade que fazia a personagem praticamente inumana nas versões anteriores, e que acentuava suas incidências sentimentais. Desta vez, a protagonista transparece suas fraquezas, deixa clara a fragilidade que a transforma num alvo relativamente fácil em determinados momentos, a despeito das reiteradas tentativas de afirmar sua expertise. As passagens com algum teor sexual não possuem voltagem erótica o bastante e falta densidade dramática à atmosfera, que soa comum. O cineasta Fede Alvarez cria boas cenas, mas derrapa ao argamassar as missões e as particularidades das peças desse xadrez mortal. A proximidade com os super-heróis, especialmente o Batman, é visível até na similaridade da Lamborghini com o tumbler do Homem-Morcego. Millennium: A Garota na Teia de Aranha está mais para filme de ação, com pitadas ocasionais de personalidade, que necessariamente para thriller. Isso se dá, principalmente, em virtude da atenção mínima ao fundamento da história e à inclinação por um espetáculo visualmente chamativo, mas esvaziado. O surgimento da verdadeira vilã do longa somente ajuda o conjunto a se dirigir, inapelavelmente, para o terreno do lugar-comum, com escolhas muito questionáveis, vide o monólogo que explica intenções nefastas, as reviravoltas previsíveis e o achatamento de sutilezas em prol de um pretenso impacto emocional. É um exemplar com tiros, porradas a rodo e diversas bombas, mas sem alma.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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