Sinopse
Crítica
A clareza não é prevalente em Mimosas, premiado filme marroquino dirigido por Oliver Laxe. O fiapo da trama propriamente dita dá conta de uma missão tão nobre quanto árdua. O xeique (Hamid Fardjad), prestes a morrer, deseja ser sepultado bem próximo aos seus, então elege pessoas para acompanha-lo numa marcha fúnebre de desfechos imprevisíveis. Para cortar caminho, talvez pressentindo a contiguidade da inevitável, ele resolve conduzir o comboio solene pela geografia acidentada da Cordilheira do Atlas, um verdadeiro teste de tenacidade aos que o seguem obedientes. Chama atenção, logo de cara, o intento flagrante de posicionar expressivamente a pequenez do humano em relação ao gigantismo da natureza. São vários os planos que registram homens e mulheres vagando em cenários que parecem dispostos a engoli-los em sua vastidão. Já as constantes citações a Alá deflagram a fé como argamassa.
O passamento do xeique confere outra direção ao longa-metragem. A viagem continua, ainda mais penosa, pois levando os andarilhos cada vez mais aos desafios que as montanhas impõem. Alguns sujeitos se encarregam da função de levar o cadáver ao seu destino, dispensando os demais peregrinos, restringindo a si o sofrimento oriundo das frequentes provações. Entre eles estão Ahmed (Ahmed Hammoud) e Saïd (Said Aagli). Não demora, e a dupla ganha a companhia de Shakib (Shakib Ben Omar), a quem apelidam de Cara de Vaso. Aliás, a entrada desse personagem em Mimosas se dá de maneira truncada. Pouquíssimas informações são oferecidas ao espectador acerca da natureza de sua tarefa, para a qual é contratado em meio a uma dinâmica de seleção prosaica e, portanto, deslocada do que acontece nas alturas com o corpo conservado em gelo do soberano que anseia por descanso.
Mimosas é um filme extremamente lento, em que o implausível pode ser relativizado, pois um dos muitos sintomas de uma realidade fortemente influenciada pelo desconhecido. É preciso aderir praticamente de forma irrestrita ao itinerário estilístico proposto por Oliver Laxe para não ceder à sensação de fastio que caracteriza a experiência de assistir ao longa. Personagens travam diálogos essencialmente cifrados, que dizem respeito a essa tentativa de representar as virtudes dos presentes como sintomas da existência de Deus. Nesse tocante, o sacrifício, tão utilizado como via de expurgação dos pecados por diversas crenças, é um dos pilares do trajeto que especialmente Ahmed, Saïd e Shakib percorrerem. Este, por sinal, é um guia enigmático. Gradativamente, ele se integra ao grupo original que, mais adiante, cresce um pouco, contudo permanecendo focado na incumbência de garantir ao xeique a morada derradeira.
Em meio à porosidade que determina os contornos narrativos de Mimosa, sobressai a tentativa, muitas vezes infrutífera, de acessar a via da transcendência. Oliver Laxe acompanha o trabalho aparentemente trivial, porém revestindo-o com uma aura de encargo divino. O andamento é cansativo, beirando o insuportável em determinados momentos. A beleza dos espaços, a amplitude da natureza colocando à prova a convicção dos envolvidos, compensa e alivia esses instantes em que a estrutura narrativa depõe contra uma fruição mais aberta e fértil do todo. Shakib funciona como um pêndulo, inicialmente inclinado a tornar-se guia, logo depois arremessado à banalidade dos desdobramentos dessa locomoção com ares de purgatório. O tom monocórdico das interações enfraquece a jornada física e espiritual enquanto símbolo do Oriente Médio. É um filme arenoso, difícil de ser visto sem enfado.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 4 |
Leonardo Ribeiro | 6 |
MÉDIA | 5 |
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