Crítica
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Sinopse
De mudança para a zona rural do Arkansas nos anos 1980, o menino David se depara com uma nova forma de vida. Entediado com seu cotidiano no interior, esse menino de ascendência coreana apenas começa a se adaptar com a chegada da avó. Enquanto isso, o pai tenta criar uma fazenda em terreno inexplorado.
Crítica
Quarto longa-metragem do diretor Lee Isaac Chung, Minari foi descrito pelo próprio como o resultado do momento quando decidiu “parar de criar e começar a lembrar”. Ou seja, o que pode ser entendido é que o cineasta, em seus trabalhos anteriores, supostamente teria tentando pensar em tramas e histórias além de sua zona de conforto, baseado na imaginação e criatividade. Se deu certo ou não, é questionável, mas o fato é que foi a partir do instante em que deixou esses recursos de lado e optou por se basear em recordações e na memória afetiva de sua própria trajetória que alcançou um reconhecimento que até então nunca havia vislumbrado. Indicado a 6 Oscars – inclusive a Melhor Filme e Direção – e vencedor de mais de 100 troféus (entre eles um Globo de Ouro, um Bafta, um SAG e dois Critics Choice) – ao longo da temporada de premiações, este é um filme que se revela universal por se debruçar em um problema comum a muitos – a necessidade de mudar de vida para que essa possa ser garantida – aliado a um sentimento cada vez mais corrente – o vislumbre dos Estados Unidos como uma terra de oportunidades para aqueles dispostos a fazer por onde merecer. Ou seja, nada distante do que se poderia esperar.
Chung surge em cena como o pequeno Alan S. Kim, que dá vida a David, o caçula de uma família sul-coreana que, após deixar seu país de origem, tenta a sorte primeiro na Califórnia, depois no Arkansas dos anos 1980. Ao chegarem na América, logo encontram trabalho. Ao mesmo tempo, percebem que não muito longe conseguirão ir se (1) seguirem fazendo sempre a mesma coisa e (2) se conformarem em trabalhar para os outros, ao invés de dedicarem a si mesmos. O uso do plural nessa descrição, no entanto, é um tanto dúbio. Pois é fato que há uma cisão entre marido (Steven Yeun, o mais conhecido do elenco, em postura digna, porém discreta) e a esposa (Yeri Han, de composição mais complexa, em sua estreia no cinema hollywoodiano). É ele que decide ser preciso assumir os riscos para ir além. Ela, no entanto, pensa antes da segurança dos seus e em necessidades urgentes, como ter onde dormir e o que colocar à mesa. Esses embates entre os dois, a princípio pontuais, aos poucos dominarão a relação – ou o que restar dela.
Mas veja bem, como dito acima, o realizador está preocupado em resgatar sua vivência, e não levantar controvérsias ou provocar tabus. Assim, a narrativa se acomoda em assumir seu ponto de vista, da criança que pouco tem o pai por perto – provavelmente, ocupado em fazer valer os esforços que os levaram até ali – e muito precisa lidar com as mulheres que o criaram, seja a mãe, a irmã mais velha e, principalmente, a avó que até então desconhecia. Após deixarem a costa e partirem para o interior, encontram terra suficiente para que os sonhos paternos se concretizem: uma fazenda de produtos coreanos, voltada a produzir alimentos destinados a outros imigrantes como eles, que também tenham se mudado em busca de melhores condições, mas que seguem sentindo falta do lar que ficou para trás. Assim que estabelecidos, o marido manda buscar a sogra (Youn Yuh-Jung, roubando a cena a cada aparição) para agradar a esposa e os filhos. Tudo parece encaminhado para que, enfim, as arestas sejam aparadas e demais problemas sejam superados. A questão, no entanto, é que começar nem sempre é simples.
Através de uma narrativa composta sem solavancos por uma sucessão de episódios familiares, alguns até bastante corriqueiros, Chung – também autor do roteiro – por vezes exagera no didatismo para que não reste dúvidas a respeito de suas intenções. Como dito literalmente em cena, minari é um tipo de raiz muito usada na culinária sul-coreana que tem como vantagem se adaptar a qualquer tipo de solo – e, no ponto enquadrado pela trama, já bastante disseminada nos Estados Unidos. Ou seja, a analogia é óbvia. Da mesma forma, outros temas potencialmente polêmicos, como a necessidade da religião ou o emprego de técnicas que somente a cultura local e a experiência de quem atravessou pelos mesmos caminhos pode oferecer, são meramente desenhados, sem nunca atingirem o desenvolvimento necessário. Ao sentirem uma necessidade de integração, é na igreja onde se refugiam, ao contrário do ajudante (Will Patton, de Armageddon, 1998, em participação marcante) que prefere cumprir sua penitência pessoal ao caminhar por estradas solitárias com uma enorme cruz nas costas. A imagem é forte, mas qual a reflexão que suscita?
Minari, no entanto, ganha força na deliciosa química estabelecida entre avó e neto. Yuh-Jung entrega um tipo fora dos padrões convencionais que lhe surge como que sem esforço. A atriz parece se divertir ao ter a maior parte de suas cenas ao lado de uma criança adorável que a estranha no começo, para logo passar a antagonizar sua presença de forma declarada justamente pela quebra das expectativas. Da mesma forma, ela domina as atenções por se revelar fora da curva dentro de uma narrativa circunspecta e correta, que pouca ousa além do esperado. No pôster de divulgação, o marketing afirma que esse “é o filme que precisamos nesse momento”. Difícil concordar com tamanha certeza, ainda que não seja algo fácil de ser refutado com maior veemência. É apenas um passeio por cenários e situações conhecidas, que fala de exemplos dignos de serem reproduzidos, mas que ecoam com maior força entre os que por tais caminhos já transitaram do que junto aos demais na plateia. Bonito, singelo até, mas não muito mais do que isso.
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