Crítica
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Crítica
Estamos em 1985. Daniel Day-Lewis era apenas um ator novato, com pontas em títulos como Gandhi (1982) e Rebelião em Alto Mar (1984), filmes que todo mundo lembra, menos da presença do jovem astro. Stephen Frears, por outro lado, já contava com uma longa carreira na televisão, mas sem nenhum longa de destaque na tela grande. Foi o texto de um escritor até aquele momento igualmente pouco reconhecido que tratou de uni-los. Hanif Kureishi é o responsável por Minha Adorável Lavanderia, longa que acabou fazendo tanto sucesso a ponto de receber uma indicação ao Oscar – Roteiro Original – e abrir os caminhos para as carreiras de Day-Lewis (hoje dono de três estatuetas da Academia de Hollywood) e Frears (diretor de clássicos como Ligações Perigosas, 1988, e A Rainha, 2006). O mais interessante, no entanto, é perceber que mesmo mais de trinta anos após o seu lançamento tanto a trama em si quanto a forma de contá-la continuam atuais e pertinentes.
“Todo mundo precisa pertencer a alguém ou a algum lugar”, é dito em terminado momento de Minha Adorável Lavanderia. Esse sentimento de pertencimento é que permeia toda a obra. Omar (Gordon Warnecke) é um jovem que vive com o pai moribundo. De origem paquistanesa, ele não encontra oportunidades em uma Londres em plena recessão, sofrida pelos arroxos provocados pelos anos do governo Margareth Tatcher. O que lhe resta, portanto, é pedir ajuda aos seus – e é por isso que decide recorrer ao tio, dono de uma garagem. “Preste atenção, há muito dinheiro na sujeira”, é o conselho que o garoto recebe do irmão de seu pai. E o rapaz aprenderá bem a lição. Tanto que logo estará gerenciando uma lavanderia dada como causa perdida, mas que sob seu comando irá ressurgir com nova força. Sem falar do olho atento para novas oportunidades, como o esquema de tráfico desenvolvido por um amigo da família.
Quando moravam no Paquistão, a vida deles era diferente. Hussein (Roshan Seth, de Indiana Jones e o Templo da Perdição, 1984) era o intelectual, um jornalista comunista – ou socialista – que, sob as diretrizes do novo regime, precisou se mudar às pressas para o exterior, e na Inglaterra não encontra que lhe dê o devido valor. Ele considera um absurdo ver o filho “lavando roupa suja”, pois preferia vê-lo estudando na universidade. Mas a esse o exemplo que cabe é o do tio empreendedor (Saeed Jaffrey, de Passagem para a Índia, 1984), muito mais vívido e atraente do que o pai combalido que mal tem forças para sair da cama. O parente bem-sucedido mora melhor, está sempre de carro novo, bem vestido e, ainda por cima, tem duas mulheres – a oficial e a amante. Parece ser o ideal para aquele que está apenas começando na vida, não fosse um detalhe: ele é gay.
Não lhe bastava, portanto, ser de uma minoria étnica – seu sentimento de exclusão também tinha a ver com sua sexualidade. E é neste ponto em que entra a figura de Johnny (Day-Lewis, a verdadeira revelação em cena), o líder de um grupo de arruaceiros. Os dois, no entanto, foram amigos de infância e, como logo percebemos, são desde sempre apaixonados um pelo outro. Essa questão, no entanto, nunca chega a estar no cerne da discussão. Todos ao redor deles reconhecem o sentimento que os unem, mas tratam de ignorar a verdade, dissimulando novos e disfarçados entendimentos. É por isso que o tio insiste em aproximá-lo de uma prima, e esta segue tentando-o em flertes cada vez mais ousados. A impressão é de que é ok ele ser gay e estar envolvido com outro homem, desde que, ao menos nas aparências, siga dançando conforme a música. Mas até quando ele estará disposto a seguir este roteiro?
Há muitos elementos em discussão em Minha Adorável Lavanderia, e Stephen Frears não tem pressa em suplantar nenhum deles. Melhor ainda, ele sabe não ser possível desenvolvê-los a contento, como numa tese de doutorado, em um filme de apenas 90 minutos de duração. Por isso deixa as tintas na tela, vívidas e frescas, para que chamem atenção e possibilitem as mais diversas leituras. Mais do que uma simples história de amor, tem-se aqui um grito pulsante de uma realidade que insistia em não abrir espaço para aqueles que a sociedade cegamente tratava como desajustados. Quase como um pré-Trainspotting (1996), o resultado segue vibrante até hoje, em que lambidas de orelha, drogas escondidas em barbas falsas e esposas traídas adeptas a um vodu improvisado não só são elementos de uma comédia ácida, mas também partes de um discurso que não pode mais ser ignorado. E se já era assim em plenos anos 1980, hoje esse sentido é ainda mais urgente.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 8 |
Matheus Bonez | 8 |
MÉDIA | 8 |
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