Crítica
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Sinopse
Crítica
São louváveis as intenções de apresentar um lado menos romantizado da maternidade em Minha Amiga do Parque. A protagonista, Liz (Julieta Zylberberg), tem sua rotina completamente tomada pelo filho ainda bebê, o que é ressaltado por meio da câmera nervosa e geralmente próxima, quando não colada nos personagens, da diretora Ana Katz. Simples afazeres do dia, atividades corriqueiras tais como ir ao banheiro ou tomar banho, tem de ser adaptadas à presença do pequeno que lhe demanda toda a atenção. O pai da criança está viajando, ocupado em gravar um documentário, fazendo-se presente apenas nas ligações esporádicas via internet. Os passeios no parque próximo ajudam a aliviar essa angústia, muito porque neles há interação. Tudo começa a mudar para essa mulher visivelmente combalida por um cansaço físico e mental assim que ela encontra Rosa (a diretora Ana Katz), cujo comportamento difere totalmente do seu e, por isso mesmo, suscita uma aproximação.
Desde o primeiro programa das duas juntas, um almoço permeado por conversas sobre as agruras da maternidade, fica evidente que elas possuem personalidades destoantes. Enquanto Liz está visivelmente à beira de um ataque de nervos, culpando-se recorrentemente por não conseguir amamentar Nicanor (Andrés Milicich), gastando bastante energia buscando ser uma mãe o mais próximo da perfeição possível, a então desconhecida se mostra pragmática, não tão disposta a problematizar sequer alguma coisa. Diversos eventos que se seguem instauram dúvidas a respeito do caráter de Rosa, como a apropriação do dinheiro que serviria para pagar determinada conta, a insistência para que a protagonista ajude sua irmã Renata (Maricel Álvarez) a se deslocar para encontrar o namorado, as constantes ações que podem, dependendo do ponto de vista, soar como impertinências, a descoberta de uma arma de fogo e a opinião dos colegas de parque, que veem com ressalvas as novas amizades de Liz.
O fato de Liz e Rosa pertencerem a esferas sociais diferentes, sendo a primeira uma mulher de classe média, financeiramente estabelecida, e a segunda alguém que precisa ralar em dois empregos para manter-se, é decisivo para a distinção de suas condutas. Infelizmente isso não é abordado com muita contundência, permanecendo escondido nas entrelinhas, nunca emergindo como algo realmente importante. Em Minha Amiga do Parque, a diretora Ana Katz demonstra um olhar bastante sensível à condição feminina, às complexidades da maternidade, ao torvelinho de sentimentos que decorre do sentir-se abandonada, já que, mesmo casada, Liz tem um marido ausente. Contudo, a reincidência de certos procedimentos, principalmente a aposta numa insistente desconfiança da idoneidade de Rosa e de Renata como forma de estabelecer tensão, enfraquece o longa, já que ele fica andando em círculos, não oferecendo um desenvolvimento a contento para os temas abordados desde o início.
Minha Amiga do Parque é mais bem resolvido quando focado no drama de Liz, na dificuldade que ela tem para lidar com a solidão, com o fardo demasiado pesado de criar o filho. A amizade com Rosa lhe permite desencanar um pouco da necessidade de permanecer 24 horas ao lado de Nicanor. Todavia, mesmo delegando a função de cuidadora parcial a Yazmina (Mirella Pascual), suas angústias são tão imperativas que provocam um desgaste também nessa relação. Uma pena que a diretora Ana Katz, a despeito do manifesto talento para aproximar-se da intimidade das personagens, dando relevo às suas áreas cinzentas, não consiga desvencilhar-se de um itinerário marcado pela repetição, por um martelar contraproducente em pontos de fricção já devidamente explorados, o que vai minando qualidades, tornando a progressão narrativa truncada por um constante ir e vir entre os mesmos assuntos e pontos nebulosos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 5 |
Robledo Milani | 4 |
MÉDIA | 4.5 |
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