Crítica
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Sinopse
Quando sua mãe se casa novamente, a jovem Noah tem de se mudar para uma nova cidade no litoral espanhol. Lá, entre as dificuldades para se adaptar, precisa lidar com as emoções que sente pelo enteado de sua mãe.
Crítica
É fato, poucas tramas protagonizadas por adolescentes deixarão uma marca expressiva junto ao público. Incursões exitosas do gênero, como as de John Hughes nos anos 1980, Meninas Malvadas (2004) um pouco mais adiante e até o altamente dramático As Vantagens de Ser Invisível (2012), são algumas dessas pérolas entre os grãos de areia que marcam suas posições entre as trocas geracionais. Entretanto, mesmo considerando essa tolerância prevista, projetos como Minha Culpa esculhambam algumas bases e atrapalham a evolução dessa categoria de filmes.
Baseado no livro Culpa Mía, de Mercedes Ron, lançado em 2017, o enredo segue a jovem Noah (Nicole Wallace) numa jornada tradicional de mudança de casa durante a efervescente puberdade. O destino que lhe aguarda é a abastada residência do novo namorado de sua mãe. De cara, é complicado se identificar com a resistência dela em morar em uma mansão de frente para uma praia paradisíaca. A “complicada” adaptação se intensifica quando conhece Nick (Gabriel Guevara), novo enteado de sua mãe, com quem terá de se entender. A partir daí, a convencional aproximação entre os imaturos protagonistas acontece. Mas diálogos e atos que constroem essa relação talvez não tenham honrado a autora da publicação original.
Para além da artificialidade das cenas, com encontros convenientes e talentos ocasionais, as atitudes que tornam Nick atraente são os problemas centrais da história. Em menos de 34 minutos de tela, o mimado personagem interpretado por Guevara domina a moça de muitas formas, escolhendo o que ela deve ou não beber, o que precisa vestir e as palavras as quais escolher. Tudo isso com uma assustadora agressividade física, pois não são poucos os momentos em que o ator prende ou move Noah contra sua vontade. Tudo se agrava quando essa suposta constituição de relacionamento funciona, pois a garota se apaixona pelo jeito truculento do rapaz. Nesse turbilhão de desrespeitos, há ainda um momento importante em que o popular garoto beija diversas meninas em uma festa. Noah observa. Em seguida, ela tenta emular tal estilo de vida libertino, se entregando aos braços do primeiro desconhecido, mas mais uma vez é repreendida por Nick, fazendo-a sentir vergonha de se relacionar intimamente com alguém. E não poderia ser diferente, pois os responsáveis não oferecem uma personalidade à jovem. Ela está à deriva, pronta para ser salva e nunca dona de suas escolhas. Desprezos que transformam tudo num percurso mais do que tortuoso.
No terceiro ato, sem muitos rodeios, um vilão é inserido. O criminoso Jonás, pai de Noah, sai da prisão em busca de alguma vingança não bem engendrada pelos roteiristas. Mas é a desculpa perfeita para que o par principal viva momentos de ação bizarros, para dizer o mínimo. Este antagonista é interpretado por Iván Massagué, de O Poço (2019), que ao menos promove um respiro de boas atuações em comparação aos seus colegas de empreitada.
No frigir dos ovos, é difícil não caracterizar Minha Culpa como um longa antifeminista. As sequências se desenrolam para florescer um amor permeado por desaforos. Se o lugar que a produção ocupasse apenas fosse de uma aposta sem muitas pretensões, tudo estaria entreposto de forma sincera. Mas o produto final é um acúmulo de passagens anacrônicas que prejudicam um entendimento de sua era em estudos futuros.
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