Crítica
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Sinopse
Anna e Adam, um jovem casal de Paris com origens judaicas polonesas, decidem visitar a Polônia. Foram convidados para comemorar os 75 anos da liberação dos judeus após a Segunda Guerra Mundial. Enquanto o marido parece pouco animado com a viagem, ela se mostra ansiosa para descobrir o país, que também é a terra natal da avó.
Crítica
O encontro com as origens e o resgate da memória configuram os temas centrais de Minha Lua de Mel Polonesa, longa de estreia da atriz Élise Otzenberger como diretora, ela que assina também o roteiro. Tais tópicos se mostram entremeados à busca particular da protagonista, a francesa Anna (Judith Chemla), que vê no convite feito pelo tio de seu marido, Adam (Arthur Igual) – para que viagem à Polônia e participem de uma cerimônia em memória aos 75 anos do extermínio dos judeus em Zgierz, terra natal do avô de Adam – a oportunidade ideal para se aproximar de suas próprias raízes, já que sua avó também fora uma judia polonesa. Desde os planos detalhe que acompanham os créditos iniciais, percorrendo o apartamento do casal em Paris e exibindo a coleção de livros, filmes e outros objetos, o interesse de Anna pela história e tradições judaicas é explicitado, se contrapondo à postura de Adam, que demonstra pouco entusiasmo em relação à viagem.
Os minutos iniciais deixam transparecer ainda a essência da personalidade da garota: agitada, metódica e levemente neurótica – que aflora no momento em que deve deixar o filho recém-nascido com seus pais – bem como sua relação conturbada com a mãe (Brigitte Roüan), algo que mostrará ter desdobramentos mais profundos no decorrer da trama. Otzenberger apresenta essa introdução expositiva de modo breve, partindo diretamente para a chegada de Anna e Adam à Polônia e mantendo o tom cômico adotado até então pelas vias do estranhamento cultural, elemento que potencializa a diferença comportamental do casal. Enquanto o pouco apreço de Adam pelo frio extremo ou pelos cartazes de incentivo à caça – presentes já no vazio aeroporto local – se sente sempre sincero, a empolgação excessiva de Anna com cada detalhe soa claramente forçada, como uma tentativa de suprir as próprias expectativas.
Otzenberger dedica basicamente todo o primeiro ato a esses pequenos momentos de choque cultural – seja pelo idioma, pelo clima ou pela culinária – gerando sequências moderadamente divertidas, como o diálogo com a vendedora da loja calçados ou quando Anna se descontrola por conta do borscht servido no restaurante. Todas essas cenas transitam entre a comédia de costumes, o humor pastelão e por vezes até o humor escatológico, resultando quase sempre pueris e captadas pela cineasta num registro que varia entre uma concepção formal mais rigorosa – de planos estáticos – a uma estética que emula o documental – de câmera na mão, movimentos bruscos e close ups repentinos – consagrada pela TV em seriados como The Office. Se as gags, porém, nem sempre surtem o efeito pretendido, a boa dinâmica da dupla protagonista consegue segurar o interesse.
Arthur Igual faz de Adam uma figura simpática, mais comedida, ainda que tenha seus rompantes de exaltação, especialmente quando se trata do tópico do judaísmo – como na sequência em que o gerente do hotel lhe oferece o panfleto sobre o show de música iídiche. Enquanto Chemla, mesmo lidando com uma personagem que toma atitudes questionáveis e apresenta mudanças súbitas de comportamento – seja sob efeito da vodka polonesa ou não – também consegue gerar empatia, deixando evidente que, para ela, a viagem possui um significado maior e de fundo íntimo. Essa dinâmica mais leve segue até o bloco central, quando o longa ganha ares de road movie, trazendo ainda a entrada das figuras um tanto excêntricas do tio de Adam e sua namorada. A partir deste ponto, Otzenberger passa a mesclar mais a comicidade e o drama, incluindo um confronto intenso entre o casal, bem como mergulhando mais na trágica história judaica – como na cena do cemitério ou da visita do grupo à piscina.
Mas é mesmo em seu ato final que Minha Lua de Mel Polonesa ganha em densidade, quando deixa de lado as piadas estereotipadas – que mesmo visando a crítica, muitas vezes apenas acabam reforçando clichês sobre o povo polonês – para explorar a questão do relacionamento maternal conflituoso. É do estreitamento na relação com a mãe, da constatação das semelhanças acima das diferenças, que se dá a conexão de Anna com seu passado e com a história da avó, antes de tudo um símbolo – imortalizado na foto em preto e branco – do senso de pertencimento tão desejado. Por mais que Otzenberger volte a recorrer ao humor de gosto duvidoso no desfecho, a força desse reconhecimento da identidade própria e do resgate da memória, de um patrimônio imaterial, acaba prevalecendo no resultado final.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Leonardo Ribeiro | 6 |
Robledo Milani | 5 |
MÉDIA | 5.5 |
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