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Sinopse

Fernanda está casada com Tom e tem com ele uma filha de 5 anos, Joana. O casal está em crise e vive os desgastes e as intolerâncias da rotina ao lado do marido, mas ela conta com o apoio incondicional de Aníbal, seu sócio e companheiro inseparável, que está sempre ao seu lado durante toda a jornada para resgatar seu casamento, ou acabar de vez com ele.

Crítica

Em Os Homens São de Marte...E É Para Lá que Eu Vou! (2014), Fernanda (Mônica Martelli) era uma mulher beirando os 40 anos, em crise por não ter encontrado um amor. Nesta sequência, Minha Vida em Marte (2018), os problemas são de outra ordem, uma vez que o casamento com Tom (Marcos Palmeira) vai de mal a pior, com ausência de sexo, tensões cotidianas e toda sorte de contratempos para a manutenção de um relacionamento estabilizado. Não há, propriamente, o ímpeto de tentar entender esse colapso, seus motivos ou mesmo absorver os efeitos, dos imediatos aos vindouros, de decisões tais como empurrar o vínculo com a barriga e, mais tarde, ceder aos indícios constantes do fim, promovendo uma mudança que passa invariavelmente pela separação. Dirigida por Susana Garcia – irmã de Mônica e responsável, também, pela condução do monólogo que inspirou o longa-metragem –, essa trama se contenta em enfileirar situações pertencentes ao itinerário mais ou menos comum dos rompimentos, mas sem aprofundar-se.

Uma mudança significativa na estrutura, comparando com o exemplar antecessor, é o tamanho da participação de Aníbal (Paulo Gustavo), sócio e melhor amigo de Fernanda. Se antes ele surgia regularmente para oferecer contrapontos e ser uma espécie de olhar lúcido/externo que ajudava a parceira a entender melhor as circunstâncias das quais ela não tinha distanciamento suficiente, agora ele é uma constante, coadjuvante quase onipresente. É compreensível que a realizadora queira aproveitar o talento cômico singular do ator, e claramente são dele as tiradas mais engraçadas, valorizadas por uma verborragia bem característica. Todavia, o efeito colateral indesejado é o eclipse da figura principal. Fernanda, antes capaz de extrair graça de seus dilemas sentimentais, agora fica reduzida a uma figura resmungona, que oscila entre reclamações de toda ordem e celebrações falsas da capacidade terapêutica de programas alternativos, vide os dias no campo ou o relaxamento na instância paradisíaca centrada nos ensinamentos de ioga. Logo a personagem acaba desinteressante.

Minha Vida em Marte é afetado, também, pelo roteiro excessivamente compartimentado. O decurso é organizado praticamente em esquetes, todas como uma disposição bastante parecida. Fernanda e Aníbal se deparam com determinada conjuntura, a contextualizam dentro do cenário macro das agruras, primeiro, do casamento pedindo falência, e, segundo, do cotidiano da vida de separada, e depois a resolvem, passando à próxima etapa, de arcabouço basicamente igual. Essa fragmentação em partes semelhantes enfraquece os discursos e as viradas. Um exemplo disso, a constatação tola de que Tom arrumou uma nova namorada. Aliás, o filme é construído sobre uma protagonista insegura que atribui aos relacionamentos amorosos a função de pilar da própria felicidade, olhar, ao mesmo tempo, romantizado e anacrônico, que não encontra ecos nas demandas atuais por independência feminina. Outros lugares-comuns acessados são a rival “linda, loira e descolada”, o amigo “gay que serve de apoio incondicional” e o preenchimento de vazios com as compras e outras ostentações fúteis.

Susana Garcia não consegue, diferentemente da primeira produção, envolver essa visão limitada dos impasses femininos numa aura cômica suficientemente consistente para dirimi-la. Fernanda passa boa parte do enredo se debatendo com “problemas de idade”, se menosprezando por estar na casa dos 40, reiterando o quanto não acredita na possibilidade de atingir a felicidade amorosa por ser mais velha. Parcialmente encoberta pelo talento de Paulo Gustavo, Mônica Martelli acaba sendo reduzida ao que sua personagem tem de mais pernicioso, não logrando êxito em ressaltar a fragilidade dessa mulher que, assim como tantas, é vítima de uma construção social. Em momento nenhum o filme coloca isso em pauta, passando levianamente por concepções ávidas por confronto. Tom, o ex-marido, é outro elemento desperdiçado, pois apenas um desenho mal formulado de antigo amor, com poucas falas, sujeitado à mera função dentro de um desenvolvimento dado a piadas ligeiras e à óbvia inclinação por gerar um percurso (tortuoso) rumo ao aprendizado de lições fáceis e frágeis.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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