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Sinopse

Um dos homens mais letais do mundo, Ethan Hunt enfrenta mais uma missão com ameaças de ordem global.

Crítica

Seguindo com a sua louvável e quixotesca jornada para preservar os ideais do cinema de ação hollywoodiano típico de sua geração, com isso impedindo a dominação completa pela tônica dos super-heróis, Tom Cruise volta a viver o inconfundível Ethan Hunt em Missão: Impossível - Acerto de Contas Parte Um, o sétimo filme da Saga Missão: Impossível. E Cruise tem plena consciência da reputação icônica do personagem cimentado no imaginário do público, tanto que a primeira aparição de Ethan é emergindo das sombras, quase como se fosse uma entidade cujo tamanho é superior a qualquer missão que possam lhe confiar. Mais uma vez tendo Christopher McQuarrie como comandante de uma empreitada gigantesca, o astro fornece novas peripécias celebradas pelos departamentos de marketing, exatamente, como sinônimo dessa abordagem saudosa “à moda antiga”. É realmente revigorante ver perseguições acontecendo de fato, proezas com textura de ação de verdade, ainda que o CGI seja fundamental para certas ocasiões atingirem um nível de exuberância com o qual o público está habituado nas grandes produções recentes. A trama mostra Ethan precisando novamente encarar uma missão daquelas, do tipo que ninguém aceitaria. Agora é a necessidade de derrotar uma inteligência artificial consciente, o inimigo invisível que se transforma no pivô da crise entre países que disputam o seu controle.

Missão: Impossível - Acerto de Contas Parte Um apresenta todos os ingredientes que fizeram dessa franquia derivada da homônima série de TV uma das mais populares há décadas. Ethan reúne o time de sempre, é confrontado por quebra-cabeças praticamente impossíveis de serem montados e novamente vira a chave para o salvamento do mundo. Especialmente no primeiro terço do longa-metragem, as coisas funcionam muito bem, nunca chegando ao nível do antecessor Missão: Impossível – Efeito Fallout (2018), é verdade, mas também não deixando a peteca cair. McQuarrie reafirma a sua qualidade como diretor de cenas de ação, imprimindo a intensidade esperada às perseguições de automóvel, aos instantes em que a escassez de tempo adiciona tensão a situações naturalmente dramáticas, evitando aquela sensação prevalente nos recentes blockbusters de que absolutamente tudo foi feito diante de uma tela verde. É bom salientar a atenção à riqueza dos detalhes, como o suor aparecendo para sinalizar o nervosismo da tripulação submarina prestes a ser atingida por torpedos. Feitas as considerações positivas, é preciso dizer que o roteiro assinado por McQuarrie e Erik Jendresen não tem muito fôlego, algo percebido pelas óbvias facilidades utilizadas com frequência para situar o espectador e manifestado pelo esvaziamento dramático dessa teia de movimentos e reviravoltas na telona.

Um dos principais problemas da sétima aventura de Missão: Impossível é a utilização de diálogos excessivamente expositivos para explicar ao espectador os pormenores técnicos e as particularidades conspiratórias. Em mais de uma vez, Christopher McQuarrie permite que o filme amorne ao desacelerar justamente para alguém explanar os detalhes do que está acontecendo e do que pode resultar do crescimento da Entidade. Aliás, falando do vilão, a IA poderia ser mais bem explorada como inimigo praticamente invencível, pois tem a capacidade de alterar qualquer conjuntura digital – por exemplo, apagar comparsas de circuitos de monitoramento de segurança e acobertar os seus rastros digitalmente. O enfrentamento nessa virtualidade poderia, inclusive, servir para os espertíssimos Benji (Simon Pegg) e Luther (Ving Rhames) serem mais do que suportes de luxo aparecendo muito de vez em quando. Porém, o realizador opta por fazer da Entidade quase um McGuffin, ou seja, um elemento que faz a história avançar, mas que perde em importância para outras figuras. McQuarrie decide eleger Gabriel (Shea Whigham), alguém que machucou Ethan no passado, como um prolongamento corporal da Entidade. O resultado é que nem a inteligência artificial é elaborada como ameaça global e tampouco a rivalidade com o nêmeses de carne e osso se convence no plano dramático.

Como o próprio título anuncia, Missão: Impossível - Acerto de Contas Parte Um é apenas a primeira metade desse “acerto de contas”, ou seja, termina no meio da jornada. Em comparação ao seu excepcional antecessor, há uma queda significativa de qualidade, pois desta vez Ethan não é definido como alguém indisposto a perder companheiros, a inconstância antes atingida pela existência de agentes duplos e traidores não é tão relevante e a vibração das cenas de ação sequer é semelhante em impacto. Mesmo assim, o resultado ainda é positivo, sobretudo por méritos de Tom Cruise, da entrega do astro ao personagem como se disso dependesse a manutenção do tipo de cinema a ele importante – algo visto de maneira bem mais exuberante e pujante no superior Top Gun: Maverick (2022). Pena que o roteiro fracione a urgência entre diversas frentes e acabe com isso a dispersando, não mantendo a voltagem sempre alta. A perseguição de Etan pelo agente Jasper (Shea Whigham) não acrescenta tanto ao caldo e o surgimento de Grace (Hayley Atwell) serve à passagem de bastão que poderia ser o momento mais trágico do longa-metragem, mas que infelizmente fica devendo em termos de comoção. Vanessa Kirby e Rebecca Ferguson são subaproveitadas, pois suas personagens servem pouco à trama. No fim, sobra o gostinho da decepção, mas ainda assim a curiosidade pela continuidade.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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