Crítica
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Sinopse
O motorista de caminhão Mike McCann é contratado para resgatar os trabalhadores soterrados numa mina de diamantes que desmoronou. A missão parece impossível: transportar uma carga enorme sobre rios congelados, enfrentando tempestades de gelo. Mike tem apenas 30 horas para completar a tarefa, caso queira salvar as vítimas do acidente.
Crítica
Liam Neeson é um astro que parece não ter sido profissionalmente afetado pela pandemia do Covid-19 e a consequente quarentena a qual o mundo inteiro se viu obrigado a enfrentar entre 2020 e 2021. O indicado ao Oscar por A Lista de Schindler (1994) há muito deixou de lado qualquer pretensão de estrelar filmes sérios e artisticamente relevantes, e mesmo com os cinemas fechados na maior parte desse período, foi um dos mais assíduos nas telas (grandes, quando possível, e pequenas, na maioria dos casos), com três longas lançados, sendo dois deles absolutamente genéricos: Legado Explosivo (2020) e Na Mira do Perigo (2021). Pois Missão Resgate vai pela mesma linha destes dois. Aqueles elementos que os fãs do ator prezam estão mais uma vez reunidos. Dessa vez, porém, o que muda é a maior influência de fatores externos relativos ao ambiente onde a ação se passa, gerando uma nova dinâmica que, caso tivesse sido melhor aproveitada, poderia, enfim, ter acrescentado algo de original à mistura.
Mike McCann (Neeson) é, como em tantas vezes antes, um lobo solitário. Ou quase isso. Trata-se de um motorista de grandes cargas, sem esposa nem filhos, que tem uma única responsabilidade: cuidar do irmão, Gurty (Marcus Thomas, que não era visto desde O Impostor, 2014), um ex-militar com traumas de guerra que não tem condições de se cuidar sozinho. Mesmo assim, é um exímio mecânico, o que o torna o parceiro perfeito para alguém que vive na estrada e sobre rodas. Só que os dois nem sempre são fáceis de lidar, muito por causa do temperamento explosivo de um e pela falta de rápida cognição de outro. Assim, logo ao serem apresentados aos espectadores se veem sem emprego, se vendo obrigados a buscar uma nova alternativa para o sustento de ambos. E essa aparece quando Jim Goldenrod (Laurence Fishburne, em participação especial) recebe diante de si a responsabilidade de liderar uma missão quase suicida.
Quando uma explosão prende dezenas de operários em uma mina subterrânea, se faz necessária uma logística especial para resgatá-los com urgência e segurança. A questão se torna particularmente complicada pelo acidente ter ocorrido no norte do Canadá, em uma região que passa a maior parte do ano isolada por terra e com acesso apenas pelo ar. O problema, porém, é que o maquinário necessário para os tirar debaixo do desabamento é tão pesado que somente caminhões gigantes são capazes de conduzi-los. A única solução viável, portanto, é através das “rotas de gelo”, ou seja, caminhos feitos literalmente de água congelada, de espessuras variáveis, que podem – ou não – ser percorridos com tranquilidade. Somente os condutores mais experientes estão aptos para tal tarefa. Mas quando a pressa parece ser inimiga da perfeição, a atitude a ser tomada precisa combinar tanto confiança quanto agilidade. Justamente o que acaba acontecendo quando os irmãos McCann são contratados para fazerem parte dessa expedição. No entanto, não estarão sozinhos. E esse parece, de fato, ser o maior dos problemas.
Afinal, pelo que o argumento propõe, apenas os fatores naturais do cenário acima desenhado já deveriam ser suficientes para a elaboração de uma história repleta de momentos de tensão e perigo. O diretor e roteirista Jonathan Hensleigh – cujo trabalho de maior destaque até então havia sido a malfadada abordagem do anti-herói da Marvel O Justiceiro (2004), com Thomas Jane e John Travolta – deixa claro, no entanto, não acreditar na força do material que tem em mãos. Assim, todo o seu esforço, a partir do momento em que as peças são dispostas pelo tabuleiro, é no sentido de embaralhá-las da maneira mais constrangedora possível, fazendo um uso desmedido de soluções fáceis e reviravoltas absurdas, como peças de diferentes quebra-cabeças colocadas à força uma ao lado da outra, obviamente não conseguindo se encaixar, por mais que se tente. A situação fica ainda pior quando se insere um vilão de modo bastante caricatural, lá pela metade da trama, como se a revelação de um interesse obscuro e financeiro por trás da tragédia fosse capaz de surpreender alguém, independente do lado da tela em que se esteja.
Mas há méritos em Missão Resgate, e esses se concentram em grande parte na equipe técnica. Importante destacar os trabalhos do fotógrafo Tom Stern (habitual parceiro de Clint Eastwood, indicado ao Oscar por A Troca, 2008), hábil em explorar com eficiência o crescente perigo no qual os personagens estão rodeados por todos os lados (inclusive abaixo deles), e do montador Douglas Crise (frequente colaborador de Alejandro G. Iñarritu, indicado ao Oscar por Babel, 2006), capaz de prender a atenção da audiência mesmo com o pouco que lhe é oferecido – afinal, são basicamente apenas caminhões sobre grandes extensões de geleiras na maior parte do tempo. A revelação Amber Midthunder, jovem vista em séries como Legion (2017-2019) e Roswell, New Mexico (2019-2021), também chama atenção, aqui num papel de maior destaque, encarando os desafios propostos – seja o gelo prestes a quebrar, como um inimigo vira-casaca – sem medir forças ao lado de Neeson. Esse, por sua vez, tem dado cada vez mais sinais de cansaço – afinal, há anos tem repetido o mesmo tipo em cena – e não há nada por aqui que possa lhe agregar algo minimamente inovador. Ele continua sendo eficiente naquilo que tão bem faz, mas até quando continuará nessa direção, sem nada de novo a oferecer (tanto a si, quanto ao seu público)?
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