Crítica
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Sinopse
Um policial de Nova York finalmente consegue levar sua esposa em uma tão sonhada viagem pela Europa. Após um encontro casual no voo, são convidados para uma reunião de família no iate do bilionário Malcolm Quince, que logo em seguida é assassinado e os dois passam a ser suspeitos do crime.
Crítica
Há alguns anos, antes mesmo de nomes como Will Smith e Brad Pitt, Adam Sandler foi o primeiro dos grandes astros de Hollywood a fechar um contrato milionário para que todos os seus filmes seguintes fossem produções exclusivas da Netflix – ou seja, sem passar pelos cinemas, estariam disponíveis, quando lançadas, apenas aos assinantes da gigante plataforma de streaming. Tal acordo começou aos tropeços, gerando comédias como The Ridiculous 6 (2015) e Zerando a Vida (2016). Quem apostava, no entanto, que se tratava apenas de uma fase de transição, e que a qualidade começaria a se elevar nas obras seguintes – motivados, principalmente, pelos elogios recebidos por Os Meyerowitz: Família não se Escolhe (2017), que foi, inclusive, selecionado para o Festival de Cannes – se enganou redondamente. Afinal, logo depois vieram Lá Vem os Pais (2018) e esse Mistério no Mediterrâneo, que até parece ser melhor acabado, sem aquele aspecto de feito às pressas como muitos destes títulos anteriores, mas mesmo assim apresenta pouco diante de qualquer tipo de expectativa levantada.
O início do longa dirigido por Kyle Newacheck (Perda Total, 2018) é tão claudicante quanto previsível: Nick (Sandler) é um policial que não sabe como contentar a esposa no aniversário de casamento, enquanto que Audrey (Jennifer Aniston, reprisando a parceria de Esposa de Mentirinha, 2011) é uma cabeleireira que sonha com a viagem à Europa que o marido havia prometido como lua-de-mel, mas que até hoje, mais de uma década juntos, ainda não aconteceu. Bom, não será surpresa quando, ainda que meio que por acaso – ou por livre e espontânea pressão – os dois decidam partir para o tão cobiçado destino. Essa inevitabilidade dos acontecimentos se repetirá por toda a trama, ainda que em movimentos cíclicos, deixando claro que a falta de criatividade é ordem da casa.
Assim que o avião levanta voo, os dois acabam se deparando com o milionário Charles Cavendish (Luke Evans), que sem mais, nem menos, decide convidá-los para um cruzeiro pelo Mediterrâneo. Se isso já soava suspeito o suficiente, não causará espanto quando aceitam a oferta e, assim que chegam, se deparam com um grupo ainda mais estranho de pessoas: uma famosa atriz de cinema (Gemma Arterton), um campeão de Fórmula 1 (Luis Gerardo Méndez, da série Club de Cuervos, 2015-2017), um ex-militar (John Kani, de Pantera Negra, 2018) e seu segurança (Ólafur Darri Ólafsson, de Megatubarão, 2018), um marajá (Adeel Akhtar, de Victoria e Abdul: O Conselheiro da Rainha, 2017), o primo gay (David Walliams, da série Little Britain, 2003-2006) e a ex-namorada – e futura esposa do tio (Shioli Kutsuna, de Deadpool 2, 2018). Todos reunidos para celebrar o noivado do velho – e dona da fortuna da família – Malcolm Quince (Terence Stamp, em participação especial). Esse, quando surge, não tarda em anunciar que irá deserdar os reunidos, tornando a (muito) jovem companheira sua única beneficiária. Mas as luzes se apagam, e quando voltam a se acender, o assassinato está consumado – o patriarca não mais está entre eles, segundos antes de assinar o novo testamento.
Como está claro, o espectador se encontra diante de uma versão genérica de um romance de Agatha Christie, muito próximo, aliás, do recente Assassinato no Expresso do Oriente (2017). Ou seja, se há pouco essa trama foi visitada em grande estilo, qual o interesse de conferi-la mais uma vez, agora defendida por um bando de quase amadores? As tentativas do roteiro de James Vanderbilt (o mesmo do problemático Independence Day: O Ressurgimento, 2016) em desviar do óbvio acabam tomando rumos, no mínimo, absurdos. O mais notório é acusar os recém-chegados do crime, quando todos os demais possuíam motivos muito mais sólidos para levar um plano como esse adiante. Mas nem isso chega a gerar qualquer tipo de suspense, pois a audiência sabe de antemão que há motivos para se suspeitar de todos, menos deles. A tarefa, portanto, é não apenas provar essa já sabida inocência, mas também descobrir quem são os verdadeiros culpados. Parecem ser a mesma coisa, mas apontam para caminhos distintos. Insistir nessa confusão é mais uma nuvem de fumaça desnecessária jogada pelos realizadores apenas para disfarçar o óbvio.
Entre a nítida preguiça de Adam Sandler (não é de se duvidar que no contrato dele estejam cláusulas como “só interpreto personagens que não exijam esforço físico e andem de bermudas o tempo todo”) e o desacerto que é a presença de Jennifer Aniston (a atriz é glamorosa demais para uma figura que deveria ser mais inadequada aos cenários em que é apresentada), os demais são não mais do que estereótipos – o bonitão, o estrangeiro, o exótico, a sexy, o bronco – que servem como peças de um tabuleiro, no melhor estilo ‘whodunit’, ou seja, “quem matou?”. E se essa é a única pergunta irá manter aceso o interesse de quem está no lado de cá da telinha, basta ter a certeza de que um a um todos serão eliminados, até que o culpado se revele como o último a ficar de pé. Definitivamente, nada surpreendente, mas o bastante para que fãs do gênero – ou do protagonista – sigam atentos aos próximos passos, por mais irrelevantes que estes sejam.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 4 |
Francisco Carbone | 4 |
Roberto Cunha | 5 |
MÉDIA | 4.3 |
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