Crítica
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Sinopse
Miúda é uma menina míope e imaginativa que cuida de sua planta carnívora de estimação com muito amor e formigas fresquinhas. Às vésperas de completar 7 anos, ela deseja apenas que a planta lhe chame pelo seu nome, mas essa exige cada vez mais alimento. Mas os insetos, cansados de serem comida de planta, bolam um plano que envolve poesia, guarda-chuvas e uma máquina do tempo.
Crítica
Baseado no curta-metragem homônimo lançado em 2010, Miúda e o Guarda-Chuva é protagonizado por uma menina que cultiva seus afetos com diligência. Miúda (voz de Luana Carrera) tem como melhor amiga a Planta Carnívora (voz de Harildo Deda), cuja fome é constante, bem como o desespero das formigas sacrificadas em função da satisfação da voracidade vegetal. A trama se desenvolve em torno das dinâmicas estabelecidas pela criança com os coadjuvantes humanos imediatamente próximos e, em paralelo, observa o movimento dos insetos quanto a colocar em prática o plano vital à sua sobrevivência. Traçando uma jornada lúdica, na qual a linguagem poética é fundamental à tessitura narrativa, o cineasta Amadeu Alban cria um filme bonito, sobretudo pelo visual que engloba variações cromáticas e de texturas, e em virtude do fomento da curiosidade infantil.
Miúda e o Guarda-Chuva não confere respostas fáceis a perguntas simplórias, pelo contrário. O arrojo do realizador acaba, eventualmente, gerando uma confusão que passa inadvertidamente pela manifestada vontade de ampliar a esfera brincante com excertos líricos. Isso, vide as interações de Miúda com a Planta, que impulsionam coisas como a compreensão da necessidade de fazer escolhas, algo constante à medida que se cresce. Obviamente buscando áreas de intercâmbio entre adultos e crianças, o conjunto entremeia pontuações relativamente profundas sobre a natureza transitória da vida e a utilização de recursos linguísticos, tais como a repetição, essencial para os pequenos se indagarem acerca de componentes que, apresentados de outro modo, poderiam ser completamente despercebidos. Indício disso são os bordões, como os das formigas que repetem sobre paradoxos para instigar o interesse infante.
As vozes originais são destaques em Miúda e o Guarda-Chuva. Especialmente Luana Carrera e Harildo Deda constroem a personalidade de seus respectivos personagens por meio dos timbres que os destacam dos demais. Ela, sempre vivaz e curiosa; ele, com privilégio à entonação encarregada de denotar sapiência e uma pitada de melancolia. A Planta não quer saber se há subjetividade em suas vítimas, apenas se reserva o direito de garantir que a barriga continue lotada de crocantes e azedas formigas. Essa personagem lança algumas perguntas aparentemente circunstanciais, mas que dizem respeito aos temas e às questões integrantes do substrato delicado do longa-metragem. Dessa forma, por exemplo, amargor e dulçor adquirem dimensões metafóricas em meio a um desenvolvimento um tanto truncado, mas que aponta à simples e bela jornada de aprendizado da protagonista prestes a aniversariar.
Fora as formigas, donas do plano estrambólico que compreende, inclusive, uma viagem no tempo, e a Planta, que serve como uma espécie de apoio emocional à Miúda, surgem Seu Zé (voz de Fábio Costa) e Inércia (voz de Ariane Souza) com funções distintas. Ele demonstra medo desproporcional do vegetal, de certa forma representando um entendimento (ou mesmo um desentendimento) do que potencialmente está para além das aparências. O paradoxo se repete na mulher de pernas de mola que, a despeito do nome sugestivo, não consegue ficar parada. Miúda e o Guarda-Chuva é engenhoso e possui a capacidade de mobilizar a curiosidade, ainda que deixe expostas as fragilidades do roteiro. As áreas de dispersão, bem como o exagero de determinadas redundâncias, enfraquecem o conjunto, mas não ameaçam o saldo positivo.
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