Crítica
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Sinopse
Quando o menino Tomás descobre que o homem responsável por assassinar seu pai será liberado da cadeia, decide agir por conta própria para conquistar vingança. O menino de 12 anos, que não aguenta mais as desculpas e contradições de sua família, sai de casa com uma pistola carregada e determinado a realizar um acerto de contas.
Crítica
Desde o princípio, Mochila de Chumbo sublinha a miserabilidade que circunda o jovem Tomás (Facundo Underwood). Do alto de seus 12 anos, ele tem de conviver com a saudade do pai assassinado, a displicência da mãe e uma revolta crescente, encontrando emplastro na companhia dos vizinhos, especialmente na do melhor amigo que lhe viabiliza o porte de uma arma de fogo. O protagonista do longa-metragem de Darío Mascambroni deseja vingar sua orfandade ao saber que Nenino (Agustín Rittano), o matador, foi solto da cadeia e será recebido com ares festivos na sede do clube de futebol de várzea. As informações são rarefeitas. É preciso catar indícios aqui, outros acolá para montar o quebra-cabeça. Há certos traços dessa escalada de um inocente rumo ao possível ingresso na vida do crime que somente emergem no encerramento. No mais, é a observação da errância do estudante por circunstâncias que antecedem a danação sem retorno possível.
Mochila de Chumbo aposta boa parte de suas fichas na deflagração do contato precoce de Tomás com um mundo totalmente violento, literal e simbolicamente falando. O realizador constrói uma atmosfera bastante particular, desenha um entorno crível, com o acesso remoto a um passado que trata de oferecer um pano de fundo vital. Dessa maneira, a ligação do falecido genitor com a sociedade local e os rastros deixados por seu passamento brutal são percebidos nas relutâncias da mãe e do avô para tocar diretamente no assunto. Apenas sabemos que ele optou pela senda da criminalidade, pagando o preço por levar uma vida de delinquência. Em cada parada há um sinal diferente, mas em diversos instantes é um tanto nebulosa a intenção principal, se sublinhar a solidão do menino ou apontar diretamente à dor que a ignorância quanto ao passado familiar lhe causa diariamente. Essa indeterminação não compromete gravemente o resultado, mas o enfraquece.
Mesmo que tenha fragilidades conceituais evidentes, Mochila de Chumbo apresenta um bom domínio narrativo, sobretudo no desenvolvimento das relações interpessoais de Tomás. Nesse sentido, o esmerado desempenho do elenco ajuda. Facundo Underwood dá conta de expressar o represamento de uma frustração que lhe acompanha, provavelmente, desde a ciência da ausência paterna. Sua irascibilidade, o apego às pessoas que lhe estendem a mão, tudo isso fica bem claro e marcado nas expressões do imberbe ator. Todavia, falta conteúdo e espessura à dinâmica com o bandido feito de alvo. Bem por conta disso, a cena do confronto, pouco antecipada efetivamente no decurso da narrativa, soa quase anticlimática. Há pouca preparação para a abordagem, com uma elipse supostamente dando conta de abreviar o caminho, mas o fazendo canhestramente, o que extirpa apelo emocional do impasse.
Mochila de Chumbo possui qualidades evidentes. Um das características louváveis é a não disposição de se colocar como refém das palavras, de uma exposição meramente verbal. Muito dos que os personagens sentem e calam não cabe ao texto explicitar, mas aos olhares enviesados, aos comportamentos aparentemente inexplicáveis e às ações destemperadas. Tendo o amigo como companheiro frequente, o protagonista encontra nos adultos um pouco da sua gênese, sobretudo, informações negligenciadas acerca do pai. Nessas passagens de confronto ou diálogo esclarecedor, ele se aproxima da verdade, mas o filme não trata tal movimento como prioritário. Aliás, a fragilidade latente aqui diz respeito exatamente à insuficiência dramática desses colóquios potencialmente imprescindíveis, com o jogo de empurra prevalecendo. As conversas não alteram os planos, tampouco os substanciam, se apresentando como prefácios dispensáveis, pois a convergência ao enfrentamento é prática.
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