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Sinopse

Influencer de intensa atividade online, Ana é levada a mudar seus hábitos após um acidente de carro provocado por dirigir e usar o celular ao mesmo tempo. Ela, então, é enviada à casa do avô, longe da metrópole, sem telefone e redes sociais. Esse período de detox vai mostrar a ela coisas que a virtualidade encobre cotidianamente.

Crítica

Seguindo o mesmo modelo de Adam Sandler, Larissa Manoela também parece ser imune às críticas. Não é de se estranhar, portanto, que tenha sido alvo de interesse da Netflix no Brasil, que acabou de fechar um contrato com a atriz para a realização de um conjunto de filmes a serem lançados exclusivamente pela gigante do streaming. E o primeiro passo desse acordo é esse Modo Avião, comédia romântica juvenil que difere em nada no sentido de desafiar a artista por outros caminhos – muito pelo contrário, opta por seguir percursos já conhecidos e bastante seguros, entregando ao seu público fiel exatamente aquilo que se poderia esperar dela. Mais do mesmo, portanto.

Larissa Manoela vive Ana, personagem que é basicamente uma extensão da Bia de Meus 15 Anos (2017) ou da Malu de Fala Sério, Mãe! (2017). É a mesma garota, só que não está mais querendo deixar a infância para trás e nem em conflito com os pais para ser reconhecida como adulta. Ou quase isso. Pois ainda mora na casa da família, embora seja independente e tenha sua própria renda – como influenciadora digital, é óbvio. Ela vive para o seu smartphone e seus milhares de seguidores. Cada uma das suas ações, desde o acordar até a relação com o namorado, passa sempre por um “filtro”, por assim dizer. É tudo ensaiado, seu dia a dia é uma grande ilusão, e nem ela percebe que é mero joguete no meio de muitos outros interesses – da sua empresária, da marca que representa, do que seus fãs querem etc.

Ou seja, é basicamente o que o público espera da própria Larissa Manoela: uma mulher que ainda é um tanto menina, sem saber diferenciar o virtual do real, perdida em um sem número de prioridades urgentes que dez segundos depois perdem tanto o sentido como seu propósito. É por isso que os pais – vividos pela ótima Silvia Lourenço e por Michel Bercovitch, de Getúlio (2014) – se veem obrigados a usar um recurso um tanto desesperado: com a ajuda de um ator, encenam uma história que obriga a garota a se submeter a um período de ‘detox digital’, ou seja, terá que passar umas férias na casa do avô, em uma pequena cidade do interior. Detalhe 1: ela mal conhece o homem – interpretado pelo tremendão Erasmo Carlos, visivelmente perdido – e, detalhe 2: o lugar não tem sinal de internet ou celular. Assim, isolada do resto do mundo, será obrigada a rever sua vida e as escolhas que vinha tomando até então.

Claro que, como mentira tem perna curta, não vai demorar muito até que a verdade venha à tona. Até lá, no entanto, o passo a passo de qualquer cartilha do gênero será seguido à risca. Ela e o avô irão se estranhar, mas o jeito bruto dele nada mais é do que um modo de fazê-la perceber tudo o que estava errado e o que precisa ser consertado. Ao mesmo tempo, outros personagens entrarão na trama, principalmente o projeto de galã vivido por André Luiz Frambach – conhecido por ter participado da novelinha Malhação (2018), na Rede Globo. O jovem chef de cozinha de modos simples, mas conectado com o mundo, que ele cria, é tão raso que chega a ser possível antever cada atitude sua. Mais interessante é acompanhar as reviravoltas provocadas pela vilã Carola (Katiuscia Canoro, investindo na caricatura), que mesmo sem muito o que fazer em mãos, diverte dentro do possível.

Mas curioso, mesmo, é o fato de que em nenhum momento personagem chega a colocar seus smartphones ou celulares em... modo avião! Nenhum aeroporto é visto, muito menos cogitado. O título visa apenas aproveitar um termo fácil de ser reconhecido e o significado embutido que carrega – ou seja, a necessidade de se afastar das redes sociais para descobrir a vida real, enfim. Só que quem faz isso é uma artista que passa muito mais tempo online do que qualquer outra coisa, sem esquecer que sua base de fãs é consideravelmente mais expressiva entre aqueles que, de fato, consumem esse tipo de conteúdo. Ou seja, é uma crítica ao vício digital, mas bastante comedida, pois faz uso de todos os elementos recorrentes nesse universo para se validar sem maiores desgastes. E, assim, tudo o que consegue é reforçar os mesmos estereótipos que, supostamente, deveria combater.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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