Monos: Entre o Céu e o Inferno
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Monos
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2019
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Colômbia / Holanda / Argentina / Alemanha / Suécia / Uruguai
Crítica
Leitores
Sinopse
Em meio a armas e apelidos de guerra, soldados adolescentes, que fazem parte de um grupo rebelde chamado “A Organização”, ocupam uma ruína abandonada no topo de uma montanha, onde treinam, observam uma vaca “recruta” e mantêm uma engenheira americana como refém. Mas depois de um ataque, são obrigados a abandonar o local e a “brincadeira” acaba para o jovem bando.
Crítica
A palavra “monos”, no Brasil, remete direto ao prefixo de origem grega que indica “um só”, “sozinho”. O que pouca gente lembra nesse momento, no entanto, é que, também em português, seu significado pode ser “macaco”. Essa é, portanto, a motivação por trás do batismo original, em espanhol, de Monos, que por aqui ganhou ainda o subtítulo Entre o Céu e o Inferno – uma escolha apropriada, por sinal. Pois o que se vê, durante pouco mais de 100 minutos de trama, é justamente uma jornada coletiva, ao invés de solitária, que vai da alegria por se ver possuído por uma diretriz e um objetivo, ao caos absoluto quando não há mais nada ao redor com o que se agarrar para evitar uma queda livre e absoluta. Do tudo ao nada, da plenitude ao desaparecimento. São pessoas que se viam diante do melhor momento de suas vidas, quando a força do que acreditavam era suficiente para lhes servir como motivação, até o ponto de estarem abandonadas e perdidas por completo. Um mergulho tão intenso e doloroso que é transmitido em igual medida à audiência, qualificando o conjunto a um dos mais singulares exemplares dessa temporada.
E por quê, então, a escolha de Macacos para designá-los? Talvez, pela limitação que os mesmos se impõem no curso dessa trajetória, deixando claro serem capazes de reagir apenas aos instintos mais básicos e elementares. São jovens, não mais do que garotos e garotas que, ao mesmo tempo em que se colocam prestes a descobrir o mundo – e o visual deslumbrante, tão inóspito quanto hipnotizante, colabora com essa impressão – assim como assumem uma posição de grande risco, aliada a uma série de responsabilidades além das suas capacidades. Estão juntos em um movimento de guerrilha, como o embrião de uma FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – prevista para fazer diferença num país que se encontra aos pedaços. Porém, desprovidos de orientação, nem com um propósito claro a ser seguido, vai ser mais fácil observar a desorientação e o colapso dessa tentativa, ao contrário do caminho auspicioso ao qual se lançaram no começo dessa jornada.
São apenas oito. Cinco rapazes, duas meninas, e uma andrógina, que atende pelo codinome de Rambo. Seja no alto das montanhas ou embrenhados em plena selva, são valentes ao portarem armas carregadas, da mesma forma como se veem indefesos e frágeis quando deixados sem nada. Quando dois decidem criar algum tipo de laço, seja sexual ou amoroso, há um protocolo a ser seguido, uma solicitação a ser feita e um ritual que deve ser preenchido. A impressão, portanto, é de ordem e coordenação. Mas basta um tiro perdido para tudo ser colocado abaixo. Há apenas uma missão: cuidar de uma vaca. O animal foi emprestado, lhes dará alimento, mas precisa ser devolvido intacto. Quando é a primeira a ser abatida, ainda que não de forma intencional, o que vinha sendo construído até aquele momento começa a desmoronar. Se não se reconhecem aptos nem a mais banal das obrigações, como aspirar um respeito que nunca lhes será concedido?
Quando acuado, o animal tem duas formas de reagir: entregando-se ou partindo para o ataque. Percebe-se que muitos deles preferem a primeira opção, mas será o que falar mais alto que tomará a decisão do grupo. Ainda mais pelo fato de não estarem sozinhos: junto está a doutora norte-americana (Julianne Nicholson, entregue ao papel, em uma performance intensa e reveladora). Ela foi sequestrada, é mantida segura, e provavelmente ser;a usada como moeda de troca em uma negociação futura. É de se imaginar que, num primeiro momento, esteja do lado deles, e aceite com calma e resignação o seu papel nessa história. Mas estará disposta a pagar um preço mais alto do que o imaginado em nome de uma suposta justiça social que nenhum daqueles ao seu redor sabe como alcançar?
Entre os jovens guerrilheiros, Pitufo (Deiby Rueda), a citada Rambo (Sofia Buenaventura) e, principalmente, Patagrande (Moises Arias, um dos únicos com experiência internacional, visto nos hollywoodianos A Cinco Passos de Você, 2019, e A Escolha Perfeita 3, 2017, entre outros) que conseguem se destacar dos demais, seja pela perturbação que vivenciam, o desespero em sair daquele lugar e condição ou a angústia que exploram no esforço de se mostrarem maiores do que qualquer desastre prestes a se confirmar. Por trás de tudo isso, há ainda a mão segura do diretor Alejandro Landes, nascido em São Paulo, mas criado entre a Colômbia e o Equador. Por mais que se aproxime de clássicos como Apocalypse Now (1979) e O Senhor das Moscas (1990), por exemplo, ele sabe bem o que dizer e transmitir com esse Monos: Entre o Céu e o Inferno. Afinal, entre os dois extremos, o que se confirma é que poucas vezes um esteve tão perto do outro.
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