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Sinopse

As fases da vida são contadas por meio de vários esquetes e canções. Sete peças sobre a vida: nascer, crescer, guerra, idade média, transplantes de órgãos, velhice e morte.

Crítica

Muito se discute hoje a respeito do humor. Há quem defenda, por exemplo, a piada contra qualquer limite, enquanto outros acreditam que mesmo ela precisa respeitar certas fronteiras traçadas pelo bom-senso. Debates maiores à parte, talvez um dos grupos que melhor utilizaram o viés crítico da comédia foi o inglês Monty Python. Ao grande sucesso das aparições na televisão, sobretudo na década de 1970, seguiu-se uma bem-sucedida carreira cinematográfica, feita de títulos como Monty Python: Em Busca do Cálice Sagrado (1975), A Vida de Brian (1979) e este Monty Python: O Sentido da Vida. Se o primeiro era uma sátira da lenda arturiana e o segundo uma paródia da vida de Cristo, aqui a pretensão do grupo é “apenas” discursar sobre o sentido da vida.

Como introdução, há um curta-metragem dirigido pelo então integrante do Python, Terry Gilliam, no qual trabalhadores idosos de uma empresa seguradora se amotinam e saem navegando em direção à meca do mercado financeiro, a bordo do prédio convertido literalmente numa embarcação pirata. Os efeitos especiais são artesanais e funcionam muito bem dentro desta atmosfera em que o absurdo se reveste de graça para alcançar observações contundentes. Logo depois começa o filme propriamente dito, feito de esquetes que abordam desde o nascimento até a morte. Na verdade, as fases da vida são mais uma desculpa para o grupo atacar os poderes instituídos que regulam a sociedade. Pouca coisa escapa do escracho dos Python, inclusive a própria necessidade de buscar qualquer sentido na existência.

Como quase todo filme estruturado em blocos independentes, Monty Python: O Sentido da Vida é irregular, embora em momento nenhum irrelevante. A primeira metade tem passagens que certamente figuram no que de melhor o Monty Python fez no cinema, em especial o musical “Every Sperm is Sacred”, no qual uma família católica apostólica romana, com dezenas de filhos que serão vendidos a experiências científicas, canta a felicidade de servir à religião, mesmo vivendo na mais absoluta pobreza. E dá-lhe freiras dançando cancan, padres em carrinhos de bebê e crianças maltrapilhas fazendo coro com imagens de santos que pregam o não desperdício do sacrossanto esperma. Contudo, a polêmica não é gratuita, pois os Python evitam fazer dela um fim.

Já a parte final fica devendo um pouco, embora apenas se comparada ao que veio antes. Mesmo assim, alguns segmentos dignos de antologia, como o do homem extremamente gordo que vomita sem parar num restaurante, para logo depois explodir de tanto comer (a passagem lembra Buñuel, principalmente pelo ataque frontal à pompa da burguesia) e o do diálogo descontraído de um pessoal com a morte, não deixam a peteca cair, ajudando a tornar Monty Python: O Sentido da Vida um grande divertimento sem qualquer tipo de alienação. A turma que postula “desligar o cérebro” e apenas curtir (como se isso fosse possível), certamente terá dificuldades ao embarcar nessa maluquice muito consciente do Monty Python, já que na viagem por ela proporcionada quase não dá para dissociar riso e reflexão.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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