Crítica
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Sinopse
Cole é perseguido por um assassino enviado pelo imperador da Exoterra, Shang Tsung. Ele se vê no meio de uma batalha milenar pela soberania do universo.
Crítica
Aos supersticiosos, o histórico de fracasso nas adaptações cinematográficas de jogos eletrônicos talvez soe como maldição. Os games constituem uma poderosa fatia da indústria do entretenimento, mas até o presente momento podem ser contados nos dedos os bons resultados da transposição de suas tramas às telonas. A aguardada nova versão de Mortal Kombat não é um ponto fora dessa curva, pois corrobora tal dificuldade impressionante. Os primeiros trailers entusiasmaram os fãs (vide as repercussões nas redes sociais), sobretudo por conta da promessa da violência gráfica equivalente às das batalhas originais. E, diferentemente da versão insossa e quase involuntariamente cômica dirigida por Paul W. S. Anderson, lançada 1995, aqui em certos instantes a brutalidade é o carro-chefe. Vemos, por exemplo, uma personagem clássica sendo literalmente aberta ao meio, bem como outro integrante da Exoterra tendo a cabeça simplesmente esmigalhada. Todavia, parece que os produtores apostaram tudo nessa aproximação e se esqueceram da história. De todo o resto.
O começo é promissor, afinal de contas o ódio alimentado ao longo de séculos poderia render, ao menos, uma vingança catártica. Lamentavelmente não é assim. Mortal Kombat começa a mostrar a que veio imediatamente depois desse prólogo encarregado de colocar em lados opostos um guerreiro chinês e um japonês, assim fazendo alusão à rixa histórica. Logo, somos apresentados ao protagonista, Cole Young (Lewis Tan), que, no pior estilo "copiado de Rocky Balboa", deixa repentinamente de ser um lutador medíocre e passa a ser o maior responsável por salvar a Terra do reino maléfico que ameaça dominá-la. Até aí tudo bem, não fosse esse personagem sequer cumprir bem a senda do mito do herói, tema recorrente desde os primórdios da civilização ao qual claramente é filiado. Ele é o improvável chamado à aventura, inicialmente recusando a mesma por não entender o contexto e/ou se achar capaz, mas colocado por lutadores mais experientes no rumo do cumprimento de seu destino. A falta de consistência dramática do protagonista é bastante gritante.
O problema não é a recorrência ao tema, mas a displicência para desenvolvê-lo, aliás, característica observada integralmente em Mortal Kombat. O filme dirigido por Simon McQuoid parece uma visita guiada, haja vista a quantidade de diálogos explicativos que conduzem as pessoas envolvidas nessa disputa milenar. Não é apenas Cole, como novato, que ganha consecutivos esclarecimentos mastigados, mas todos os demais arrolados na contenda. Sempre tem alguém mais sabido/informado para situar os ignorantes (entre eles, o espectador). Nesse balaio estão a dinâmica das marcas do dragão, que passam adiante quando o portador morre; a lógica do torneio sagrado; e o porquê Shang Tsung (Chin Han) pretende burlar os escritos e dizimar oponentes antes mesmo das regras serem postas numa arena oficialmente montada para a briga. E dá-lhe facilidades e conveniências, vide a balela das arcanas despertadas nos “45 do segundo tempo”, justo quando seu portador está para morrer ou diante do ente querido em risco. É tudo esquemático e sem qualquer vigor dramático.
Mortal Kombat é uma desabalada carreira sem freio rumo a lutas anêmicas e frequentemente anticlimáticas. Simon McQuoid faz questão de colocar na boca dos personagens os jargões do jogo – "Finish Him, "Flawless Victory", "Get Over Here", entre outros –, para afagar os fãs-raiz. No entanto, o que poderia ser uma demonstração de respeito à origem e uma pontuação emocional, vira somente um bando de enunciados beirando o ridículo. Questões supostamente complexas têm resoluções apressadas, figuras icônicas do game aparecem e desaparecem sem deixar saudade e o saldo é um amontoado de equívocos que desperta uma insuspeita saudade do longa-metragem cometido por Paul W. S. Anderson nos anos 1990. Ao menos, essa primeira (e ruim) tentativa carregava algo de caricatural, um atenuante das extravagâncias. Aqui, a grandiloquência e os problemas pessoais caem na vala do irrelevante. Necessidade de proteger a família, frustração por não ser escolhida, adaptação aos braços biônicos, dificuldade de encontrar caminhos, tudo é mal costurado e rapidamente soterrado. Pessoas (e monstros) se tornam vazios como os combates sem graça.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 2 |
Lucas Salgado | 3 |
Francisco Carbone | 4 |
Cecilia Barroso | 6 |
Leonardo Ribeiro | 2 |
MÉDIA | 3.4 |
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