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Sinopse

Negociador de arte, Charles Mortdecai está buscando num quadro roubado o código para um tesouro nazista. Mas, ele terá de enfrentar russos esquentadinhos, a fleuma do serviço secreto inglês e rumar para os Estados Unidos.

Crítica

Johnny Depp é um artista fiel aos seus amigos. Se alguém duvida, basta verificar os diversos filmes que fez ao lado de Tim Burton, o quanto apoiou Marlon Brando no fim de sua carreira e o fato de nunca ter esquecido de suas origens (algo que sua participação especial em Anjos da Lei, 2012, deixa bem claro). Talvez seja essa a sua justificativa para ter aceitado ser o protagonista de Mortdecai: A Arte da Trapaça, filme dirigido por David Koepp, com quem havia trabalhado antes do mediano A Janela Secreta (2004). Mas a despeito do marketing agressivo, dos demais astros do elenco e de se tratar de um personagem relativamente conhecido, baseado na antologia de contos de Kyril Bonfiglioli, é melhor não se enganar: esta não é apenas mais uma incursão frustrante do astro na tela grande, mas, acima de tudo, um desastre daqueles de acabar com a carreira de qualquer um menos inexperiente.

Praticamente tudo está errado em Mortdecai. Mas nada é pior do que Depp, que está em uma composição equivocada do início ao fim. Seu início de carreira foi marcado por tipo “estranhos” e alternativos, que lhe conferiram um caráter exótico. O sucesso, no entanto, só lhe foi aparecer em Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra (2003), capítulo inicial da saga do pirata Jack Sparrow. Desde então tem tentado recriar essa mesma magia bizarra e alucinada, seja em produções fantásticas como Alice no País das Maravilhas (2010), ou nas tantas sequências das piratarias inofensivas da Disney. Esforço em diversificar que resultaram em fracassos de diferentes intensidades. Mas nunca o fundo do poço tinha lhe batido com tanta força como dessa vez. Mortdecai custou US$ 60 milhões e arrecadou dez vezes menos nas bilheterias norte-americanas, ao mesmo tempo em que foi massacrado pela crítica – é o filme com pior cotação em toda a filmografia do astro tanto no Rotten Tomatoes (13%) quanto no Metacritic (27%).

Charles Mortdecai (Depp) é um vigarista que vive de aplicar pequenos golpes no mundo dos colecionadores de arte (um universo bastante restrito, para dano do personagem e também para dificultar a identificação com o espectador). Quando uma obra de Goya que há muito se julgava perdida reaparece, para logo em seguida desaparecer novamente, ele é convocado pelo agente do serviço secreto inglês Martland (Ewan McGregor, um ator em geral competente, mas aqui igualmente fora do tom) para ajudá-lo na investigação sobre o paradeiro do quadro. Junte a essa mistura mafiosos russos e chineses, mortes inexplicáveis, um lorde pouco confiável e uma absurda viagem a Los Angeles e temos um longa cuja produção deixa claro o tamanho do seu investimento, ao mesmo tempo em que entrega quase nada em retorno. Os tiques do protagonista são invariavelmente sem graça, e suas tentativas de provocar riso com as diferenças entre ingleses e americanos surgem como um recurso final de efeito inverso ao esperado: nada mais do que bocejos e clichês.

Se há algo que passa incólume pela catástrofe que Mortdecai se revela progressivamente é Gwyneth Paltrow, graças a dois motivos: primeiro, por aparecer pouco em cena – ela é a esposa de Depp e objeto de desejo de McGregor e seu único propósito parece servir de interferência entre os dois – e, segundo, por ela estar à frente de um papel que reflete basicamente sua persona pública – um mulher elegante, inteligente e de rápidas tiradas. Mas isso, obviamente, é muito pouco para um projeto que tinha tudo para se tornar uma nova franquia, caso tivesse dado certo. O que, definitivamente, não foi o caso.

E quando pensamos que nada poderia ficar pior, o humor desencontrado e monocórdio abre passagem para a escatologia pura e agressiva. E entre piadas com queijos fedorentos, agressões físicas e sequências de vômitos coletivos, Mortdecai: A Arte da Trapaça revela sua verdadeira face: a do desespero. Johnny Depp é incapaz de dar vida a alguém comum, e esta alergia o afetou com tantos trejeitos e maneirismos que sua credibilidade enquanto artista está por um triz. E se há alguma dúvida, basta verificar que seus próximos trabalhos agendados são Piratas do Caribe 5 e Alice no País das Maravilhas 2. Se não há para onde correr, o mais seguro e seguir fazendo o mesmo de sempre. O que não significa investir em ‘time que está ganhado’. Afinal, esta parece ser sua única possibilidade, tanto em Hollywood quanto junto ao público, que definitivamente está cansado de segui-lo por tantos disparates.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
2
Francisco Carbone
1
MÉDIA
1.5

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