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Crítica


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Leitores


23 votos 6.8

Onde Assistir

Sinopse

Uma policial fraturada por um evento doloroso do passado precisa correr contra o tempo para capturar um assassino serial que está recriando castigos do século XVIII para punir criminosos poloneses.

Crítica

O único departamento competente em Morte às Seis da Tarde é a maquiagem. Os cadáveres das vítimas do misterioso assassino serial são bastante convincentes, algo comprovado, sobretudo, nas vezes em que o cineasta Patryk Veja se demora no vislumbre de mutilações e afins. Ele parece bem interessado nessa carnalidade. No mais, a trama é recheada de exageros e incongruências. O pacote ainda conta com personagens fracos e uma encenação frouxa ao ponto de suavizar potenciais dramáticos. A protagonista é Helena (Malgorzata Kozuchowska), policial apresentada no melhor estilo durona, com direito a voz cavernosa e ameaçadora – semelhante a do Batman de Christian Bale – e todas as respostas na ponta da língua diante das evidências. O único dado que confere alguma densidade à personagem é o fato dela ter uma tragédia no passado que evidentemente reverbera no presente. No mais, se trata de uma figura estereotipada e vazia, destacada no horizonte mais por seu figurino escuro do que necessariamente pela personalidade soturna.

Morte às Seis da Tarde tem tantos equívocos em sua execução que fica difícil elenca-los sem esquecer-se de algum. O enredo é centrado em vários assassinatos acontecendo na Breslávia, cidade polonesa da região da Baixa Silésia. Para auxiliar Helena, melhor dizendo, a fim de garantir uma visão ainda mais consistente sobre as circunstâncias que diariamente aterram a localidade, é destacada Iwona (Daria Widawska), especialista que faz a protagonista sabichona parecer uma mera iniciante. Ensaia-se uma leve rivalidade, mas nada acontece. Cada corpo encontrado é motivo para longas explanações sobre elementos aparentemente óbvios, mas assim somente às mulheres treinadas e com olhos de lince. Circundando-as, uma fauna quase descartável, a despeito das boas possibilidades expressivas e simbólicas de cada um. A jornalista do tipo abutre que está sempre atrás do furo é um bom exemplo de arquétipo mal enjambrado nessa história que sequer é capaz de contextualizar o papel da mídia sensacionalista. É outro desperdício gritante do filme que beira o amador em certos instantes.

Do promotor excêntrico passando pela legista incomum, pouco se salva em Morte às Seis da Tarde no que diz respeito ao material humano, feito de caricaturas ou desimportantes. Patryk Veja não ajuda a dirimir essa sensação, ao contrário, pois sua direção acentua os vários problemas narrativos. A inabilidade fica muito evidente em sequências de multidão, como a desabalada carreira de cavalos que carregam pedaços de cadáveres ou a descida de um barril mortal por uma ladeira. Ambos os momentos são risíveis, especialmente por que, a despeito da gravidade inicial, a câmera se detém em passantes desviando artificialmente dos obstáculos, com direito a pulantes sobre o objeto rolante como se estivessem numa comédia. Some a isso a inverossímil recuperação de alguém desacreditado pelos médicos. Como um sujeito com o cérebro esfacelado volta à vida? Mistérios desse cinema despreocupado com a coerência, mais empenhado em empilhar atos.

Não bastasse esse volume de problemas, conceituais e de desenvolvimento, Morte às Seis da Tarde ainda se apoia num par de reviravoltas tolas, apostando na surpresa como cortina de fumaça. Todavia, não é algo funcional. À medida que avança, o filme intenta construir uma justificativa plausível para os gestos do bandido desconhecido. Uma testemunha consultada é capaz de reconhecer instantaneamente no telefone celular a fisionomia de um corpo mutilado ao ponto de dificultar a identificação anterior da legista. A cada fotografia essa mulher encaixa artificial e convenientemente uma peça num quebra-cabeças absolutamente sem graça e enfadonho, reforçando a inclinação do conjunto por exposições simplórias, encarregadas de entregar as conjunturas mastigadas ao espectador. É árdua a missão de aguentar os quase 90 minutos, não tanto pela filiação aos lugares comuns e afins, mas em virtude da incapacidade para tornar tudo minimamente instigante.  

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
2
Francisco Carbone
7
MÉDIA
4.5

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