Crítica
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Sinopse
Crítica
Um grupo de adolescentes festeja distante dos olhos dos pais. Em meio a bebidas e à efervescência da libido juvenil, seus integrantes são atacados por um agressor misterioso. A premissa é comum aos filmes de terror pertencentes ao subgênero slasher – aquele definido pelos vilões que utilizam objetos cortantes para assassinar as suas vítimas. Portanto, a cineasta Halina Reijn parte de convenções em Morte. Morte. Morte., ou seja, tem à frente um terreno disponível para, das duas uma: 1) repetir fórmulas desgastadas e fazer mais do mesmo; 2) subverter expectativas a fim de criar uma releitura com toques de personalidade própria. A história começa com a chegada de Sophie (Amandla Stenberg) na companhia de sua namorada, Bee (Maria Bakalova) à mansão onde estão seus amigos. Todos estranham a vinda inesperada das duas e fazem questão de manifestar desconforto. Alguém anuncia que um furacão (já previsto) está nas redondezas e que é mais prudente se abrigar no palácio. Percebem-se os indícios de que há pontas soltas nos relacionamentos, provavelmente frutos de um passado repleto de rusgas e ruídos. Isso instaura o clima de apreensão. A cineasta chama a atenção de modo ostensivo a essas entrelinhas nos diálogos atravessados pelos incômodos não citados diretamente. Nesse princípio, tenta-se criar uma atmosfera de tensão que precede o rançoso jogo bem ao estilo “quem matou”.
Se apegando a outra convenção, o roteiro assinado por Sarah DeLappe utiliza o bom e velho whodunit – recurso narrativo em que a morte (ou a agressão) de determinado(s) personage(ns) desencadeia uma investigação sobre responsabilidades que, por sua vez, aponta a vários suspeitos. É algo que tornou célebre com o sucesso dos livros da escritora Agatha Christie, por exemplo. Quando um dos amigos aparece degolado no lado de fora do casarão, imediatamente a pergunta que paira no ar é: quem pode ter sido capaz de um ato dessa natureza? E o que vemos é uma teia mal costurada de ressentimentos emergentes enquanto a violência escala de modo vertiginoso. A ideia é muito boa, vale destacar. Porém, o mesmo não pode ser dito da execução. O primeiro suspeito é Greg (Lee Pace), quarentão que uma das amigas conheceu num aplicativo de relacionamentos e que todos identificam como veterano de guerra. Em nenhum momento Morte. Morte. Morte. enfatiza os motivos menos superficiais que levariam mauricinhos e patricinhas a duvidarem do sujeito. Claro que, por ser o estranho ao grupo, ele seria naturalmente o primeiro apontado, mas nesse movimento está algo essencial ao filme (como veremos depois): a observação de que todos ali são filhos mimados de famílias abastadas e, por isso, possuem uma visão bastante elitista da maioria dos assuntos. Incluindo os pré-conceitos.
Quanto mais sangue é derramado, mais a situação se torna supostamente tétrica e obscura. O fato de Bee ser imigrante russa não tem a mínima importância para a trama. A mínima. Aliás, dentro dessa possibilidade da dúvida recaindo sobre os “forasteiros”, a cineasta perde uma oportunidade enorme de reforçar o rompimento da fina membrana do politicamente correto durante os debates sobre responsabilidades. É de se imaginar que alguém teria um arroubo xenofóbico para justificar a suspeita de que a estrangeira era a responsável pela carnificina. Se não, porque enfatizar a existência de uma personagem vinda de outro país em meio à observação da nova classe rica caricatural que, na atualidade, precisa ao menos aparentar ser responsável? Tentando forjar a noção da crítica social às classes privilegiadas, em nenhum momento a realizadora consegue fazer de Bee uma estranha no ninho e tampouco ir além de retratos distorcidos, mas bastante inofensivos por falta de uma abordagem corrosiva. Halina Reijn parece mais preocupada com sublinhar inofensivamente o ridículo dessa posição social privilegiada, mas esbarra no constrangimento ao mostrar adolescentes definindo perfis psicopatas com base nos ascendentes de seu signo zodiacal. Enquanto um filme de suspense, Morte. Morte. Morte. esconde a verdade, dando ao espectador as mesmas informações oferecidas aos personagens.
A cada morte, as verdades rompem a fina casca dessa civilidade postiça. Fulana vomita o que pensa de Beltrana ao suspeitar que ela pode ser a assassina. E isso se repete até não sobrar ninguém inocente/ confortável. As calamidades extraem o que de pior cada personagem tem em Morte. Morte. Morte., mas a direção sabota os efeitos dessa dinâmica que poderia ser enxergada como uma implosão. Halina Reijn tenta utilizar a penumbra como aliada para gerar um clima de apreensão, mas o que consegue é somente colecionar cenas situadas em ambientes escuros, nas quais mal se consegue discernir entre os personagens e a mobília. E o que já estava morno/repetitivo descamba de vez à medida que a trama se encaminha ao clímax horroroso. A realizadora não observa de modo ácido o comportamento dos personagens, se limitando a repetir brigas ocasionadas por narcisismo, carências que parecem birra infantil e vários egos inflados. E a pá de cal nesse discurso cinematográfico e politicamente fraco é a explicação de como tudo aconteceu. O efeito deveria ser mesclar a surpresa com a ironia de um destino que zomba dessas pessoas inclinadas a tomar atitudes precipitadas e sentenciar antes de ter certeza. No entanto, como a cineasta passa batido pelas nuances, as preterindo em função da abordagem rasa, o resultado é uma colagem de lugares-comuns sem muita personalidade, que se esforça para demonstrar assinatura própria, mas que tem jeitão de rubrica falsificada.
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