Crítica
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Sinopse
Durante uma semana, Eduardo Coutinho e sua equipe conversaram com 27 moradores de um enorme edifício de apartamentos em Copacabana. Entre eles um casal de meia-idade que se conheceu pelos classificados de um jornal, uma garota de programa que sustenta a filha e a irmã, um ator aposentado, um ex-jogador de futebol e um porteiro desconfiado de que o pai adotivo, com quem sonha toda noite, é seu pai verdadeiro.
Crítica
Estabelecer uma visão crítica a respeito de obras documentais nem sempre é uma tarefa das mais simples. A estrutura, a análise, o conteúdo é tão diferente do que estamos habitualmente acostumados – os filmes de ficção – que geralmente acontece de sermos tendenciosos, ou enaltecendo demais ou depreciando injustamente. Com Edifício Master, talvez o mais bem sucedido de todos os filmes do mestre Eduardo Coutinho (1933-2014), essa dúvida, no entanto, não se repete: por mais que o tema seja direto e objetivo – entrevistar e investigar as vidas de diversos moradores do lendário prédio que dá nome ao filme, localizado na avenida Copacabana, Rio de Janeiro – o resultado é tão superior a qualquer uma das expectativas envolvidas que é praticamente impossível não se deixar levar por essa imensa avalanche de sentimentos e humanismo contidos em depoimentos tão sinceros e, por que não dizer, inesperados.
Edifício Master conta a história de 27 moradores de um dos maiores espigões residenciais da capital carioca. A produção escolheu, quase que aleatoriamente, uma das tantas edificações praticamente iguais que por lá existem, verdadeiros pombais onde inúmeras vidas se amontoam umas sobre as outras. Munidos apenas de uma câmara no ombro e muita boa vontade, por lá Eduardo Coutinho e sua equipe se instalaram durante um mês inteiro para ouvir esses relatos. Das conversas registradas, muita coisa boa surgiu – e provavelmente outro tanto precisou ser descartado – e o que se tem como resultado é um retrato fiel de uma grande parcela do povo brasileiro, justamente aquele que compõe sua maior parcela, mas que possui menores chances de ser ouvido. Edifício Master é o nome do prédio escolhido, e são seus próprios moradores que abrem suas portas e corações para revelarem trajetórias individuais, cada uma com potencial suficiente para um pequeno filme. Se fosse literatura, seria um livro de contos. Como é cinema, vira obra de arte.
As vivências são muitas, e cada uma das selecionadas possui particularidades únicas, que aumentam o interesse pelo personagem e, conseqüentemente, pelo seu relato. Tem a menina de 20 anos, mãe e prostituta; a esquizofrênica que é professora de inglês; aqueles que melhoraram de vida – saíram da vila – e recebem com salgadinhos; há o casal de os idosos; o síndico; a ex-vedete que fazia sucesso no Japão; as lésbicas apaixonadas que moram juntas com a mãe de uma delas, etc. Uma das passagens mais marcantes é protagonizada pelo senhor que, em sua juventude, trabalhou nos Estados Unidos e teve a oportunidade de cantar, ao lado do seu ídolo Frank Sinatra, My Way, música que até hoje ouve com saudosismo e a todo volume, numa tradição já aguardada com expectativa pelos vizinhos. O maior destaque de Edifício Master é a veracidade praticamente unânime entre os entrevistados em suas conversas. Não há como não ficar chocado com tanta verdade, ao sermos colocados em contato com tanta vida, tanta normalidade convivendo paralelamente com o absurdo mais irreal possível. E tudo ali, no apartamento ao lado.
É de se perguntar se com depoimentos tão bons quanto esses – e são eles que fazem o filme ser o que é – qualquer um que lá fosse com o mesmo propósito obteria igual resultado? O mérito do diretor e de sua equipe é tão discreto que para olhos desavisados pode passar desapercebido. No entanto, essa é uma questão facilmente esclarecida. Basta, por exemplo, assistir a qualquer programa de entrevistas na televisão. Às vezes vemos o mesmo convidado ser questionado em mais de um desses shows, e e a despeito de falarem sobre os mesmos assuntos, os resultados podem ser completamente opostos. Assim, sabemos que quem faz a diferença é aquele responsável pela pergunta, e não pela resposta. Estes pedaços de vida estão por aí, no cotidiano de cada um, esperando apenas pela pergunta certa para virem à tona. Coutinho sabia fazer isso como poucos, e mais uma vez provou sua excelência com um filme primoroso.
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Esse filme-documentário é muito envolvente, pois se trata de pessoas reais e não de personagens. São histórias inesquecíveis e interessantes, que me fizeram, muitos anos depois de apresentado, na TV, pesquisar a respeito, de novo. Muito criativo e original!