Crítica
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Sinopse
Crítica
É absolutamente louvável o esforço do cineasta Vicente Amorim para construir um longa-metragem com os dois pés no thriller e algumas boas doses de horror, dentro de uma cinematografia sem tanta tradição em trabalhar especificamente tais gêneros. A construção da atmosfera de tensão passa pelo teste da primeira sequência, a de Hugo (Guilherme Prates) invadindo sorrateiramente um ferro velho em busca da peça que falta para completar a sua moto. Não à toa, o carburador se assemelha a um coração, que ele ilegalmente transplanta, porém com a posterior aquiescência da jovem enigmática interpretada por Carla Salle. Tudo se resolve no âmbito da imagem e do som, aliás, conjunto bem executado que dá conta de tornar a sensorialidade mais aflorada. Em Motorrad também sobressaem, tecnicamente falando, a fotografia de Gustavo Hadba e a montagem vibrante de Lucas Gonzaga, que trata de potencializar o caráter dinâmico, sendo peça fundamental para a adesão gradativa ao que se desenrola a partir de uma fatídica aventura.
O realizador utiliza com inteligência a paisagem da Serra da Canastra para fomentar o perigo lançado sobre os amigos que buscam apenas diversão. Ricardo (Emílio Dantas), irmão mais velho de Hugo, é destacado como uma espécie de líder da turma. Aliás, os personagens de Motorrad atendem a arquétipos bastante conhecidos do thriller, o que ajuda a antever alguns desdobramentos, sendo isso positivo, no mais das vezes, por mostrar um alinhamento com os cânones do gênero, mas negativo se levarmos em conta a nem sempre habilidosa costura dos destinos que se encaminham inevitavelmente à morte. A soma do reencontro com Paula, numa circunstância completamente diferente, e a entrada forçada num terreno murado alteram os rumos da trama, adicionando temperos mais fortemente terríficos. Mas, é o surgimento da gangue de motoqueiros vestidos de negro que engrossa o caldo, nos permitindo olhar o horizonte com receio de encontrar suas silhuetas que denotam morte.
Desse ponto em diante, Vicente Amorim apela, no bom sentido, a uma progressão de violência que coloca em risco a vida de todos os personagens. Embora imaginemos que um ou outro possivelmente não sucumbirá, felizmente paira uma sensação de instabilidade, de que tudo pode acontecer. As mortes em Motorrad são brutais, graficamente apresentadas para impactar o espectador. O cardápio da selvageria inclui incinerações, com direito a detalhes durante o ato e registro do resultado, decapitações e outros métodos que deflagram a letalidade do grupo que persegue os incautos sem motivo aparente. A trama, propriamente dita, se resume às tentativas de sobrevivência diante de uma ameaça real e palpável. Dentro desse itinerário, os eventuais traços de mistério, como a verdadeira intenção de gente como Paula, acabam sendo irrelevantes, pelo tratamento superior às instâncias mais físicas e primárias. Tais ocorrências, que tangenciam até o sobrenatural, são ruídos quase descartáveis.
A maneira como Vicente Amorim e os colaboradores criam a fisicalidade de Motorrad é o verdadeiro sustentáculo do filme. O aproveitamento do cenário como componente intensificador da hostilidade corporificada pelos quatro motoqueiros impiedosos de aura inumana é outro acerto desta produção que, se peca no que tange especificamente à trama, incorrendo em resoluções simplificadas, por exemplo, demonstra vitalidade narrativa suficiente para prender o espectador na sucessão de embates. Exatamente pelo fato de a violência surgir sem sentido, desprovida de explicações e/ou contextualizações prévias, ela se amplifica, pois irracional. Vicente Amorim aproveita a estridência sonora das motocicletas, dos timbres sintomáticos da trilha funcional, para adensar a tensão da proposta, sendo fiel a determinadas convenções, como a de desenhar um personagem mau caráter entre os “inocentes”, para que a plateia torça, neste caso, pelo êxito dos vilões, para obter a catarse.
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