Crítica
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Sinopse
Crítica
Uma das grandes apostas da DC Comics para recuperar terreno no mercado já conquistado pela rival Marvel, Mulher-Maravilha começa mostrando a que veio, visual e dramaticamente. A construção de Themyscira, cidade isolada sob a tutela das Amazonas, evidencia o caráter paradisíaco de um lugar de resistência. É ali que a diretora Patty Jenkins deixa claro o fascínio da jovem princesa Diana (Emily Carey) pela tradição guerreira das mulheres incumbidas de afrontar Ares, o Deus da Guerra, e de propagar mensagens contrárias ao belicismo, de professar a paz. É bastante consistente esse primeiro terço do filme, respaldado pela interpretação marcante de Robin Wright como Antíope, a general, tia da protagonista, encarregada pessoalmente de seu treinamento. Temos, então, um desenho bem-sucedido da origem de Diana, quando adulta vivida por Gal Gadot, cuja beleza, ressaltada a todo o instante pelo olhar da diretora, encontra rival em representatividade apenas na bravura.
A entrada, ou melhor, a queda do soldado Steve Trevor (Chris Pine) traz ao oásis das Amazonas a feiura predominante na Primeira Guerra Mundial. A partir daí, Mulher-Maravilha passa sem solavancos ao terreno da aventura com toques bem-humorados. Se, por um lado, há batalhas empolgantes, nas quais testemunhamos a capacidade de enfrentamento das descendentes de Afrodite, por outro, a dinâmica estabelecida entre o forasteiro e a filha mais importante de Themyscira é propícia às passagens cômicas - afinal de contas, são dois personagens descobrindo realidades. Nesse contexto, em particular, a existência das convenções sociais intriga sobremaneira Diana. O que fica muito evidente desde o início é a intenção de fazer dela um estandarte da força da mulher. São vários os momentos em que Jenkins expõe a superioridade da heroína em contraste às fragilidades do, ainda assim, valente militar. Piadas de duplo sentido garantem algumas risadas, antes da leveza ceder espaço ao pesar.
Mulher-Maravilha é visualmente impactante, especialmente em virtude da flagrante habilidade de sua realizadora em contextualizar e significar a ação, evitando cenas gratuitas ou descartáveis. A riqueza também se espraia à seara dramática. A diretora investe nos seguidos choques de Diana ao se deparar com um mundo aterrado, em frangalhos. No front, ela encontra corpos mutilados, fome e miséria, percebendo a gravidade de um cotidiano muito distante do habitual em seu lugar de origem, onde a guerra era somente uma narrativa histórica, da qual obviamente não tinha tomado parte. Gal Gadot consegue transitar desenvolta entre as facetas da protagonista, convencendo como alguém tanto constantemente curiosa quanto talhada para a luta. Faz-lhe muito bem a parceria de Chris Pine, ator responsável, principalmente, por representar a coragem advinda da esfera comum, sem resquícios de superpoderes, os bons sentimentos humanos opostos à vilania alemã ou a algo que a valha.
É engenhoso o plot twist que dissipa as brumas sobre o verdadeiro inimigo a ser combatido. Todavia, a partir da instauração do enfretamento corpo a corpo com a grande ameaça que se apresenta, Mulher-Maravilha pretere considerável parcela de seus predicados expressivos em função da grandiloquência desencadeada pelos efeitos especiais, cuja abundância está a serviço do espetáculo. A batalha final parece deslocada estilisticamente do restante do filme, exatamente por não possuir o esmero e qualidade vistos até ali, resvalando na falta de personalidade de uma abordagem genérica. Ainda assim, nada que estrague o prazer de acompanhar a primeira aventura solo da figura feminina mais emblemática dos quadrinhos, que, aliás, já havia garantido ajuda substancial no confronto com o vilão Apocalipse em Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016). Se o aguardado Liga da Justiça (2017) seguir pelo caminho pavimentado por Patty Jenkins neste ótimo filme – a despeito de suas fragilidades –, teremos, no mínimo, bons motivos para conferir a reunião de tantos seres extraordinários.
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