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Sinopse

O cotidiano de quatro mulheres, cada uma enfrentando problemas bem particulares. Keka está no meio de uma crise no casamento com Dudu, Marinati é uma workaholic que repentinamente se apaixona por Christian, Leandra sente-se bastante insegura pelo fato de ainda não ter constituído família e Sônia está cansada da rotina doméstica e sente saudade da época em que era solteira.

Crítica

A escritora e desenhista argentina Maitena Burundarena (ou apenas Maitena, como assina seus trabalhos) já escreveu mais de uma dezena de livros – a maior parte composta por histórias em quadrinhos – e ainda que já tenha sido publicada em mais de 30 países, no Brasil seu maior sucesso é a série Mulheres Alteradas, composta por cinco volumes. Pois é justamente devido ao grande impacto destas histórias, conhecidas pelo público da revista Claudia e do jornal Folha de S. Paulo, que motivou a primeira adaptação cinematográfica de sua obra – antes mesmo do que no seu país natal. E o resultado é esse Mulheres Alteradas, um filme que se esforça o tempo inteiro para soar moderno e descolado, mas não consegue evitar a reciclagem de velhos estereótipos e o emprego dos mais conhecidos clichês do gênero.

Se os Estados Unidos tiveram as quatro amigas da série Sex and the City (1998-2004) e o resto do mundo seguiu à procura de um modelo que fosse além da mera cópia, o cineasta Luis Pinheiro (Mothern, 2007) e o roteirista Caco Galhardo (que já havia trabalhado com o diretor na série Lili A Ex, 2016), abdicaram da tarefa de buscar por algo mais original, apropriando-se da criação ‘hermana’. Assim, temos quatro amigas, representantes do sexo feminino que na superfície são bem resolvidas, felizes e independentes, lutando no dia-a-dia para mostrarem seu valor, cada uma na área em que domina. No entanto, basta um mergulho um pouco mais profundo para perceber que não são tão distintas assim, e estão basicamente atrás das mesmas coisas: realização em casa e no trabalho. Ou melhor: num ou noutro, pois, de acordo com os realizadores – dois homens, algo fundamental para esta percepção – parece ser impossível conciliar estes dois campos de atuação.

Marinati (Alessandra Negrini, a melhor em cena) é a devoradora de homens, que não se apega a ninguém e que, quando não está na cama com um novo cara, só pensa em trabalho. No entanto, basta se apaixonar – quase que à primeira vista – para se tornar uma abobada, abdicando da sua forma de ser somente porque um galã de segunda resolveu cortejá-la. Keka (Deborah Secco, esforçada) é o retrato do estereótipo: a mulher linda que, por ser competente, precisa ser ‘enfeiada’ – e, para isso, basta prender o cabelo e colocá-la atrás de um par de óculos. Infeliz no casamento, tenta a todo custo recuperar a relação com o marido, que só a maltrata e reclama de tudo. Sônia (Monica Iozzi, natural) é a mãe de duas crianças que só vive para os filhos, mas que, num primeiro minuto de folga, coloca pra quebrar e acaba na cama com outra garota – e o namorado dela! Por fim, temos também Leandra (Maria Casadevall, a com menos chances em cena), irmã desta última, uma daquelas millennials que sempre teve tudo de mão beijada – e, por isso mesmo, é uma eterna insatisfeita. Para ela, basta uma noite de realidade nua e crua – cuidando dos sobrinhos, ó quanto esforço – para que perceba o quanto sua vida sem responsabilidades é um verdadeiro paraíso.

Além de reforçar cada uma destas caricaturas, há ainda um fiapo de enredo a ser desenvolvido, e diz respeito principalmente a uma tentativa de férias de Keka e o marido – ela imagina que, sozinha ao lado dele, conseguirá reconquistá-lo, como se o esforço devesse ser somente dela – e a intromissão de sua chefe com o novo namorado, que quase coloca um importante caso do escritório a perder por causa da paixonite instantânea – afinal, mulher satisfeita na cama não pode ter cabeça para pensar em trabalho (!). O desenlace entre Sonia e Leandra é tão bobo que nem merece mais do que um minuto ou dois de consideração. Já entre Keka e Marinati, chega a ser impressionante como as duas conseguem tirar, literalmente, leite de pedra diante de um material tão fraco quanto esse que recebem.

Porém, se fosse preciso apontar apenas um culpado para o trem descarrilhado que Mulheres Alteradas se revela, é o roteiro reducionista e de visão limitada com o qual suas protagonistas são obrigadas a lidar. Luis Pinheiro, enquanto condutor, até entrega um filme com um viés bastante comercial, e seu olhar explora algumas soluções criativas, abusando das cores fortes nos ambientes – que servem também para indicar o estado de humor das personagens – e de uma fotografia bastante subjetiva, que contribui na identificação com o espectador. É um conjunto interessante, porém carece do seu principal: uma base melhor estruturada, na qual pudesse crescer e se desenvolver. Logo na abertura, um texto explica que “alteradas não quer dizer loucas, mas em constante movimento e mudança”. As mulheres, com certeza. Quanto aos homens por trás dessa bagunça, o termo termina por se aplicar de forma bem mais literal. E este é o verdadeiro elemento dissonante da questão.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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