Crítica
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Sinopse
Durante a realização do Miss Mundo de 1970, ativistas do Movimento de Liberação das Mulheres fazem um protesto. As reivindicações do grupo ganham destaque durante um concurso que acabou entrando para a história.
Crítica
Pra começo de conversa, é bom que fique claro que o genérico título que esse filme recebeu no Brasil não faz jus à história que se propõe a contar. Mulheres ao Poder, além de não dizer absolutamente nada, também acaba fazendo uma referência involuntária à quase homônima produção nacional Mulheres no Poder (2016) – o que está longe de ser lisonjeiro, sob qualquer aspecto. É preciso dizer, no entanto, que a expressão em inglês Misbehaviour – o batismo original – possibilita uma segunda leitora bastante esperta, que cai bem ao contexto apresentado, mas que, por outro lado, é também de difícil tradução. É por isso que, nesse caso específico, os portugueses de Portugal de saíram melhor com o seu Miss Revolução. Afinal, o filme de Philippa Lowthorpe não fala sobre mulheres disputando posições de poder, mas, sim, atrás de respeito e condições igualitárias de tratamento. E isso através de um concurso de Miss Mundo que acabou entrando para a História (sim, essa com “H” maiúsculo mesmo). Um caminho que se mostra tortuoso, ainda que conte com um desfecho contundente capaz de (quase) salvar o conjunto desses deslizes anteriores.
Lowthorpe é um nome em alta no audiovisual inglês, principalmente por suas incursões televisivas – é dona de dois Baftas, um pela série Call de Midwife (2013) e outro pela minissérie Three Girls (2018), e recentemente esteve envolvida em projetos de imenso prestígio, como The Crown (2017) e The Third Day (2020). É com essa bagagem que se apropria da trama de Mulheres ao Poder, seu primeiro trabalho de maior repercussão na tela grande (antes, dirigiu apenas o infantil Swallows and Amazons, 2016). Porém, não assume esse desafio sem deixar para trás muito da experiência televisiva, digamos. Isso se percebe pela motivação de unir tantas linhas narrativas em apenas um único enredo – o que nem sempre acaba acontecendo sem um ou outro tropeço. O que se percebe na maior parte do tempo, portanto, é que esse é um projeto repleto de boas vontades e motivações – mas disso, como o diabo já deixou claro, o inferno está cheio, e não é garantia alguma de sucesso em qualquer empreitada.
Há, no mínimo, quatro (ou cinco) linhas distintas a serem seguidas com a devida atenção. A principal – ou, ao menos, a que recebe mais holofotes – é a da estudante Sally (Keira Knightley, adorável, mas indecisa entre demonstrar simpatia ou obstinação) que quer “derrubar o sistema por dentro”, ou seja, possui um forte discurso feminista, mas desde que consiga se impor usando as mesmas armas – e seguindo pelos idênticos caminhos – propostos pela maioria masculina. Por outro lado, tem-se Jo Robinson (Jessie Buckley, determinada e irreverente como seria de se esperar), aquela que pouca importância dá às regras e à ordem, e só acredita que um dia serão ouvidas quando conseguirem colocar tudo o que não acreditam abaixo e fizerem valer suas vozes, nem que seja à força. As duas tanto se antipatizam, pelos métodos escolhidos, como também se admiram, pelo destino em comum que compartilham.
No outro lado da questão – e que servirá como clímax dos protestos acima mencionados – está a organização do concurso Miss Mundo 1970, evento coordenado pelo senhor “Miss Mundo” (talvez o primeiro ‘missólogo’ que se tenha notícia?), Eric Morley (Rhys Ifans, cada vez abraçando com maior gosto uma postura antipática, longe da figura carismática pela qual primeiro foi notado em Um Lugar Chamado Notting Hill, 1999). Sob seu comando estão duas responsabilidades. Uma delas é escolher a participação especial do show que será televisionado, e a opção dessa vez é por ninguém menos do que o astro hollywoodiano Bob Hope (Greg Kinnear, que parece se divertir quando tem em mãos esses tipos exagerados e caricatos) – que tem seus próprios problemas com a esposa (Lesley Manville, gélida como lhe é de costume) com os quais lidar. E outra é acalmar os ânimos em relação à participação da África do Sul no concurso e à falta de representatividade negra entre as “mais belas mulheres de todo o planeta”.
Diz o ditado que todos os caminhos levam à Roma, mas, nesse caso, estas são trajetórias que culminam na grande noite de escolha da Miss Mundo 1970 – e aqui segue um alerta de spoiler, por mais que ele esteja disponível em qualquer consulta rápida na Wikipedia: este foi o ano que pela primeira vez uma mulher negra foi premiada, no caso, a representante de Granada, Jennifer Hosten (vivida por Gugu Mbatha-Raw). Os momentos entre ela e a candidata negra da África do Sul (sim, eram duas concorrentes, com uma branca também na disputa), Pearl Jansen (Loreece Harrison, de Black Mirror T03 E05, 2016), acabam sendo mais poderosos e singelos do que os embates entre Sally e Jo ou os conflitos públicos com os quais Morley se vê obrigado a lidar. Entre outros nomes interessantes – Emma Corrin (Miss África do Sul branca) e Suki Waterhouse (Miss EUA) também valem um olhar atento – Mulheres ao Poder acaba se valendo mais pelos exemplos das figuras aqui citadas – e, principalmente, o resgate de suas histórias, como bem pontuadas nas cenas finais, inclusive com presenças das verdadeiras em cena – do que pela dramatização em si de um episódio que merece ser lembrado mais pelas consequências de seus atos do que pelas ações que os levaram até os citados momentos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Leonardo Ribeiro | 5 |
MÉDIA | 5.5 |
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