Crítica
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Sinopse
Nora é uma jovem dona de casa que mora em uma pequena cidade com o marido e os dois filhos. O interior da Suíça permanece à parte dos grandes movimentos sociais surgidos em 1968. A vida de Nora tampouco é afetada; ela é uma pessoa pacata, de quem todos gostam. Até começar a lutar publicamente pelo direito ao voto feminino, que os homens devem decidir nas urnas no dia 7 de fevereiro de 1971.
Crítica
Nora tinha tudo que podia querer na vida. Dois filhos sadios, um marido atencioso, sua própria casa, a simpatia dos vizinhos e a companhia das amigas. Pode-se dizer que enfrentava o mau-humor do sogro, que morava com eles, e a rebeldia da sobrinha, que atormentava o casamento da irmã, mas quem não tem problemas? Bom, isso, ao menos, era o que imaginava. Afinal, só fica triste por estar preso aquele que se dá conta das grades. E é exatamente por esse processo que a personagem passa. Estamos no início dos anos 1970, em um pequeno vilarejo no interior da Suíça, região conservadora e dona de um pensamento muito tradicional, que pregava a velha visão de que o lugar da mulher é na cozinha, e não nas ruas, protestando e exigindo seus direitos. Um olhar sobre esse período, como se percebe, chega num momento bastante apropriado. Pena, somente, que Mulheres Divinas se contente em apenas apontar para estes eventos, sem debatê-los diante uma reflexão mais profunda.
Muitos podem ser apontados como os pontos de mudança com os quais Nora terá que lidar. Pode-se começar pelo marido, um homem presente, mas, como qualquer outro igual a ele naquela época, exigia que as coisas ocorressem ao seu modo. “Você não vai trabalhar fora. Nossos filhos precisam de você. E eu não deixo. Afinal, essa é a lei”, afirma, tentando abafar um dos primeiros passos desse movimento de independência pelo qual a mulher irá percorrer. Há, ainda, a sobrinha, que quer ir embora, viver o mundo ao lado do namorado e deixar estes pensamentos retrógrados para trás. Ali há um exemplo muito forte: a garota é, primeiro, abandonada pelos pais, para, depois, ser enviada a um reformatório, como se estivesse doente ou pior. “Se os homens fazem o que querem com as mulheres, não adianta nada a elas ficarem esperando por qualquer tipo de mudança. Somos nós que temos que fazer que essas aconteçam”, é a sua conclusão.
Poucas personagens, no entanto, chamam mais atenção do que a proprietária da única empresa da região. Ela própria uma mulher, é a mais conservadora de todas, e repudia qualquer ameaça de progresso neste sentido. Ela não precisa, afinal – já é dona do seu próprio nariz e não tem a quem prestar satisfações. E, ainda por cima, lhe é conveniente imaginar que somente os homens possam estar no comando – não são todos seus empregados? E se ela é chefe daqueles que pensam que mandam, qual seria sua vantagem em alterar esse status quo? Porém, ao mesmo tempo, está indo contra uma vontade muito maior. Voltando-se contra aquelas iguais a si, comete a maior das traições. A diretora Petra Volpe não deixa de explorar estas contradições. Assim como a posição da italiana desquitada que chega ditando ordens como dona de um exemplo a ser copiado, ao menos até que seu ex-marido reapareça. Tudo é muito bonito num primeiro instante, mas onde está a consistência que lhe dá embasamento?
Essa exigência começa por algo que hoje soa como básico, mas que a menos de meio século atrás era ainda inalcançável a muitos: o direito de votar. Nora (Marie Leuenberger, de Amnésia, 2015) opta pela conversa, depois vai ao debate, e, mesmo diante humilhações, não se permite resignar. Porém, mesmo que este caminho soe já trilhado, até suas soluções são poucos inspiradas. Basta observarmos a greve de sexo que decidem empreender, um recurso já visto muitas vezes antes, e com melhores desdobramentos, como em A Fonte das Mulheres (2011). Os elementos estão todos em cena. Falta ao roteiro e à sua diretora habilidade na condução e sensibilidade nos discursos para não apenas harmonizá-los, como também aproveitar o melhor de cada uma das possibilidades entreabertas.
Representante oficial da Suíça no Oscar 2018, não causará surpresa se Mulheres Divinas conseguir uma das cinco vagas a Melhor Filme em Língua Estrangeira. No entanto, se ali for colocado, terá obtido essa posição mais por fatores externos e pela atual conjuntura social em que vivemos do que pelas suas qualidades cinematográficas, puramente artísticas. Dono de um discurso que levanta muitas questões, porém sem desenvolvê-las à contento em nenhuma das ocasiões que são criadas, parece se contentar com clichês do gênero – como a visita da protagonista à Zurique e seu primeiro confronto com uma visão de mundo mais moderna, à constrangedora trilha sonora, que insiste em ditar as emoções mais pueris ao espectador. Afinal, o tema aqui debatido é de suma importância e não pode ser tratado levianamente. E muito menos transformado em conto de fadas.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Filipe Pereira | 5 |
MÉDIA | 5.5 |
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