Crítica
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Sinopse
Uma senadora e uma ministra elaboram um esquema de corrupção para fraudar o resultado de uma importante licitação. Tudo se complica quando suas respectivas assessoras têm uma ideia bastante parecida.
Crítica
Gustavo Acioli e Dira Paes se conhecem há um bom tempo. Os dois trabalharam juntos na tela grande pela primeira vez no filme Incuráveis (2005), dirigido por ele e estrelado por ela como uma prostituta que descobre, durante um programa, que seu cliente pretende se matar naquela noite. Dez anos depois repetem a parceria em Mulheres no Poder, e o tom agora é completamente diferente. Ela é a protagonista absoluta, e ao invés do tom dramático anterior temos uma comédia rasgada, porém um tanto histriônica, que ao mesmo tempo em que busca o riso fácil também inclui em sua narrativa elementos que incitam o debate e a reflexão. O problema, no entanto, é a falta de harmonia entre estes dois polos distintos.
O cenário atual é Brasília e os bastidores da política nacional. Dira aparece como Maria Pilar, uma senadora descolada nas artimanhas e negociatas a princípio tão comuns na cidade. Ela está interessada particularmente em uma licitação coordenada pela ministra Ivone Feitosa (Stella Miranda) para o projeto Brasil Brasileiro, que irá escolher uma empreiteira para a realização de uma grande obra. Como se percebe, a corrupção corre solta, e cada uma tem suas intenções escusas a respeito de quem será selecionado ou não para desempenhar o trabalho. Mas quando as duas decidem envolver suas assessoras na negociação, estas percebem a possibilidade de também ganharem algo com o golpe, e as coisas acabam por sair do controle. Mas como estamos na capital federal e o terreno é o dos clichês mais óbvios do gênero, basta imaginar que aquelas que forem mais espertas serão as que conseguirão sair de mãos limpas. E, ainda, contabilizando a opinião pública a seu favor.
Assim como nos recentes O Candidato Honesto (2014) ou O Fim e os Meios (2014), ninguém é isento de culpa em Mulheres no Poder. A sujeira está por todos os lados, e esse é um dos motivos pelo qual é tão difícil se identificar com estes personagens. Não há por quem torcer, pois todos apresentam personalidades tão distorcidas e repugnantes que provocam mais desgosto do que curiosidade. Por outro lado, em um momento atual com a enxurrada de denúncias e revelações chegando a todo momento na mídia, é impossível não traçar um paralelo com a realidade e imaginar o quão contemporâneo pode ser este discurso. Foge a este painel, no entanto, algumas opções questionáveis do realizador, que investe na paródia ao invés da simples exposição. Por sempre, dois velhinhos chamados “Willian” e “Fátima” como apresentadores do maior telejornal do país é uma piada por demais deslocada. Do mesmo jeito, a relação da senadora com seu motorista ou a presença de um velho lobo político proferindo diálogos constrangedores em nada contribui na credibilidade do longa.
Mas eis que chegamos em Dira Paes, reconhecidamente uma das melhores atrizes do país. Neste mundo só de mulheres (os homens, quando aparecem, são para atender as vontades delas, como o caso do auxiliar Jorge, vivido por João Velho), ela é a mais bela, a mais desenvolta, a mais dinâmica. Percebe-se que o que consegue aqui é por competência própria, pois não há direção visível a seu favor. É o contrário do que se constata na atuação de Stella Miranda, perdida em uma caricatura mal sucedida dos antigos coronéis nordestinos. Se ambas estivessem em programas de televisão, Dira seria A Grande Família, enquanto que Miranda marcaria presença no Zorra Total – ou pior, na Praça é Nossa. Só para ter uma ideia de quão distinto é o registro de cada uma delas em cena. Entre as coadjuvantes, Milena Contrucci Jamel (como Madalena) e Maria Helena Pader (como Laila) beiram o amadorismo, enquanto que Paulo Tiefenthaler, Totia Meirelles e Elisa Lucinda possuem pouco espaço para justificarem suas participações.
A intenção de realizar uma sátira do descaso do trato dos políticos com o poder público no Brasil é mais do que válida, e a arte – e o cinema, portanto – deve reconhecer e valorizar este tipo de expressão. No entanto, o que se vê em Mulheres no Poder é um conjunto de poucos acertos e muitos deslizes. É um trabalho que estimula uma análise, mas essa é passageira e acaba perdendo foco diante de repetidas distrações. A falta de um personagem que servisse de conexão com o público e a ausência de um discurso melhor formatado, que se preocupasse menos com reviravoltas no enredo e mais com o perfil psicológico dos tipos apresentados, teriam oferecido ganhos consideráveis. Do jeito que está, no entanto, pouco vai além do mero pastiche descartável.
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